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Jack Cole

Depois de ser acordado por uma garota desconhecida num lugar que eu já era familiarizado há anos, tive que voltar a ativa, precisava recuperar minhas forças. Afinal, a caminhada do submundo até aqui é muito cansativa, tinha que roubar nem que fosse um pouco de energia vital, e vi naquela garota um prato cheio. Todavia não foi tão fácil quanto pensei que seria, fui pego de surpreso pela sua proteção. Mas graças a isso descobri que aquela bruxa velha ainda estava por aqui, e que poderia me ajudar numa coisa.

Valeu a pena seguir aquela freirinha por aí. E pelo o que eu percebi, o dono do corpo que uso é bem popular entre os humanos, o que facilita mais ainda meu trabalho.

Já passa da meia noite, e estou em frente à casa de Agatha Wilson, parado em seu jardim. Eu sei que ela sabe que estou aqui, e sabe que não sou burro de invadir a casa de uma bruxa, mas sua curiosidade sobre minha presença permite que eu entre em seu lar.

- Olá, Agatha. - passo pela porta de entrada, e ela fecha logo em seguida. - Quanto tempo.

Sua casa é repleta por quadros com pessoas que suponho serem sua família. Alguns amuletos de proteção, que se eu não conhecesse, diria que são apenas peças decorativas.

- Desembucha logo, Centum. - cruza os braços.

No submundo ninguém tem um nome como os humanos, somos chamados pela nossa escala de poder. E o meu é Centum, cem em latim, ou seja, sou o centésimo mais forte dos demônios que se alimentam de energia vital através dos sonhos. Alguns se alimentam dos sentimentos ruins como raiva, dor, ódio, tristeza só de estar perto de alguém que esteja exalando esses sentimentos. E tem aqueles que não precisam disso, então não conseguem ficar mais fortes, como o resto. Com isso concluímos que tem vários tipos de demônios, assim como tem vários tipos de bruxas, lobisomens, etc.

- É Jack agora, bruxa. - ando pela sala de estar analisando cada detalhe.

- Ok, Jack. - suspira. - O que te trás aqui? - indica o sofá vermelho coberto por uma manta colorida, para que eu me sente.

- Preciso que faça uma marca de proteção em meu corpo, para que ninguém me ache, principalmente os caçadores. Eles são os que mais me preocupam. - caçadores são um porre, não querem saber se você é inocente ou não, apenas que você é um monstro e que precisa morrer.

- Quem você irritou dessa vez? - apoia o braço nas costas do sofá.

- Você sabe que eu não suporto ser incomodado, nem por humanos e nem por outros monstros. - reviro os olhos. - Sempre querem ficar arrumando confusão, e eu só quero me divertir. - um sorriso travesso se forma em meu rosto. - E você é uma das bruxas mais fortes que ainda estão vivas. - aponto em sua direção.

- Eu não vou te ajudar a consumir a vida dessas pessoas. - sua voz sai calma, mas sinto que não está nem um pouco feliz com o meu pedido.

Pelo visto terei que ir pelo lado mais difícil.

- Sabe, gostei daquele amuleto que você deu para a tal Elle. - um sorriso se forma em meu rosto ao ver seus olhos arregalados, quase soltando para fora.

Então ela é seu ponto fraco...

- O que você fez com ela?! - começo a ser enforcado com sua magia. Sinto raiva e desespero emanando de seu corpo velhor.

Uma risada escapada pela minha garganta, com sua preocupação com uma humana.

- Responde, Centum! - aperta mais ainda.

- Nada. - a palavra sai como um fio. Então ela solta me permitindo respirar novamente. Aos poucos minha respiração vai se normalizando. - Ainda. - completo rindo, recebendo um olhar de reprovação logo em seguida. Levanto as mãos me rendendo. - Era só uma brincadeira, Agatha. E é Jack. - ajeito a jaqueta de couro preta em meu corpo.

- Se você tocar em um fio de cabelo dela, eu te mato! - sua ameaça me faz estremecer. Agatha é muito poderosa, se ela quisesse, eu já estaria morto. Mas não, ela não liga tanto para a minha existência nesse lugar, contanto que eu não mexa com a sua protegida eu estarei vivo.

Se ela souber que eu a persegui essa semana toda no colégio, estaria ferrado.

- Vai me ajudar ou não, Agatha? - a encaro sério. Cansei de joguinhos. - Você me dar o que eu quero, e em troca eu não mexo com ela, e nem com a sua querida família.

- Você sabe que se fizer isso, eu acabo com você. - me fuzila com o olhar.

- É, eu sei. Mas... - aproximo-me olhando bem em seus olhos negros como a escuridão. - Eu os mato antes mesmo de você fazer algo. Pode até me matar depois, mas não vai mudar o fato de estarem mortos, e nem os trazer de volta. - afasto-me olhando para o teto pensativo. - Claro, tem a necromancia, entretanto não acho que você tomaria tal atitude.

A bruxa sentada a minha frente parece ser atingida em cheio pelas palavras que saem da minha boca. Eu a conheço, e sei que a sua família é o seu ponto fraco, o que é patético principalmente para uma bruxa.

- Siga-me. - levanta, e caminha até uma porta que fica embaixo da escada de madeira. A porta da para um porão cheio de símbolos, entre eles está triquetra, um símbolo celta formado por três arcos interligados. O nó de três pontas representando a deusa tríplice, significa uma proteção que não pode ser quebrada.

Então é por isso não consegui sentir sua presença.

- Tire a camisa e deite-se. - vai até uma mesa de madeira no canto da parede, e começa a preparar algo.

Deito com as costas nuas na rocha retangular que fica no meio do cômodo. Sinto todo o meu corpo se arrepiar ao entrar em contato com a rocha gélida.

- Essa pasta de ervas vai te ajudar a não se transformar quando sentir dor. - aproxima-se com uma gamela em mãos. - Preciso que tente se controlar, para facilitar o trabalho. - passa a pasta verde no centro da minha testa, e fazendo um sigilo em meu coração. - Pronto? - concordo.

Ela tira uma adaga das costas, olha em meus olhos como se estivesse esperando eu falar algo, quando percebe que não irei protestar, rasgar minha pele com a adaga. Desenhando o mesmo símbolo que reconheci, em minha barriga. Quando acaba, corta sua mão deixando seu sangue pingar sobre minhas feridas, enquanto sussurra algo em uma língua arcaica.

- AH! - um grito de dor foge da minha garganta.

Uma dor imensa toma conta do meu corpo. Como se estivesse sendo perfurado com as armas mais sagradas existentes. Não consigo segurar os gritos de dor que aumenta a cada palavra citada, rasgando minha garganta como espinhos. Meu corpo se ergue do altar, não suportando tamanha dor.

DesejosOnde histórias criam vida. Descubra agora