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Acordo seis horas com minha mãe me balançando. Depois do banho, desço para tomar café com meus pais. Meu pai conversa comigo sobre como me arrisquei indo ajudar o garoto de ontem, que eu deveria ter ligado para alguém, e não ter resolvido sozinha. Que tive sorte por ser alguém da escola, mesmo sendo um delinquente. Concordo com o fato de eu ter me arriscado, mas não consigo deixar de ajudar alguém por mais que ela seja Jack cole.

- Desculpa. - pego na mão de cada um. - Eu só queria ajudá-lo, tive medo de que pudesse morrer só por que não ajudei. - eles apertam minha mão como forma de consolo.

- Tudo bem, querida. - um sorriso carinhoso se forma nos lábios da minha mãe. - É que nos preocupamos com você, e temos muito medo de que algo ruim aconteça com você. Entende? - põe sua outra mão sobre a minha.

- Entendo. - sorrio. - Amo vocês. - deposito um beijo em suas mãos.

- Também te amamos, meu amor. - toda vez que papai diz essas palavras, meu coração se aquece. É como um abraço quentinho numa noite fria. Como um chocolate quente com marshmallow. Queria que ele dissesse isso mais vezes para minha mãe. As poucas vezes que ele diz isso são no seu aniversário, Dia das mães, aniversário de casamento e Dia dos namorados.

Logo depois do café da manhã, vamos à igreja que fica próxima a cidade vizinha. Na hora da oração, sempre peço a Deus um homem que me trate totalmente diferente do jeito que o meu trata minha mãe. Que eu não tenha um casamento como o deles. Que eu encontre alguém que não tenha vergonha de dizer que me ama, e de preferência, que diga todos os dias. Amo meus pais, mas não concordo com o jeito que eles vivem. Mal conversam entre si, o máximo que conseguem é discutir sobre como a comida não está boa. Que teve um dia difícil e merecia algo melhor que uma simples macarronada.

- Amém.

Todo domingo, o pessoal da igreja se reúne na casa de alguém para almoçar. Domingo passado foi lá em casa, e hoje, vai ser na Senhora Wilson, que preparou um churrasco em seu quintal.

- Minha nossa, Senhora Wilson, está muito bom. - dou mais uma mordida no hambúrguer em minhas mãos.

- Ah! Obrigada, pequena, eu que agradeço por terem vindo. - toca em meu ombro, delicadamente, com suas mãos enrugadas. A senhora Wilson mora aqui desde quando eu me entendo por gente, ela sempre morou nessa casa com seu falecido marido. Hoje em dia ela mora com sua neta Amy, que tem a mesma idade que eu, mas não somos muito próximas, não por não gostarmos uma da outra, mas por realmente não ter interesse de ambas as partes.

- Eu que agradeço. - sorrio.

Eu adoro a senhora Wilson, ela é atenciosa, dedicada, batalhadora, não faz mal a ninguém e cozinha muito bem. Gosto de conversar com ela sobre tudo, acho que ela é minha única amiga, digamos assim. Pois é, minha única amiga é uma senhora de 64 anos, muitos diriam que é deprimente, mas eu digo que não, que não tem idade para amizades. Infelizmente, não consigo falar com ela sempre, só aos domingos, que é o único dia que temos tempo depois do culto. Em sua casa é mais fácil achar um lugar mais reservado, como agora, que estamos deitadas em sua cama comendo chocolate.

- Então, meu anjo. Como foi a semana? - estende a caixa de chocolates para eu pegar mais um.

- Normal, e cansativa. Sem contar a chuva que deu anteontem. - mordo a metade do coração.

- Nem fala, fique tão preocupada com você, de que acontecesse algo. - acaricia meu rosto. Sua mão delicada faz eu me sentir segura, me fazendo fechar os olhos. É a mesma sensação de quando eu ficava doente e deitava no colo da minha mãe enquanto ela fazia carinho em meu rosto. - O que foi, minha pequena? - ela sempre me chama assim, mesmo eu sendo bem mais alta que ela, já falei que esse apelido não faz mais sentido, mas ela disse que eu sempre serei sua pequena. - Algo está te incomodando?

DesejosOnde histórias criam vida. Descubra agora