William, ou talvez Ciúmilliam?

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 Eu olhei para o quadro, apática, enquanto o professor o enchia com números e fórmulas já conhecidos. Claro que uma costela quebrada não ia ser desculpa para não ir para a escola, ou pelo menos não na opinião do Senhor Carvalho, mais comumente conhecido como meu pai. Às vezes, eu me pergunto se existe mesmo isso de jogar pedra na cruz ou salgar a santa ceia. Eu devo ter feito alguma dessas coisas, porque hoje está simplesmente chatíssimo. Aqui estou eu, vendo a revisão dos professores para as provas finais. Sim, o bimestre está acabando! Eu ouvi um aleluia?

                -Professor? – perguntou uma voz calma com um sotaque engraçado enquanto a porta da nossa sala era aberta.

                - Ah, sim. Eu havia esquecido. Esse é o William, o estudante que está fazendo intercâmbio. – disse o professor enquanto acenava para que ele chegasse mais perto.

 Ouvi Emanuelle soltar um murmuro de malícia ao meu lado enquanto eu ria do seu interesse. O garoto era alto, mas não muito, negro, e de olhos castanhos. Até aí, parecia bem normal para o Brasil. O que não era normal era a beleza: sério, os traços do rosto do menino e o físico formavam o padrão grego de beleza de longe. Além disso, ele tinha um sorriso simpático de dentes muito brancos. De matar.

                - Hi... Oi, eu sou William. – ele coçou a nuca e lançou um sorriso.

 Foi o suficiente para as coisas ficarem agitadas por aqui. Simples assim, as meninas começaram a murmurar entre si (e não, Larissa e Emanuelle não eram exceções para esse grupo) e o garoto foi sentar no fundo. Eu ria de vez em quando dos comentários das meninas, mas com os olhares do professor, resolvi me concentrar na aula. Quando acabamos, um grupo de garotas foi falar com o novato enquanto eu me virava para Emanuelle para rir de sua cara de desgosto.

                - Você acredita em amor à primeira vista? – perguntei, e então ri bastante.

                - Não tire sarro de mim. – ela disse, corando – Qual é o problema? Ele é lindo, não é?

                - Bem, é... – eu olhei o novato – Ninguém pode dizer que ele é feio.

 Então ela riu comigo. Larissa se aproximou de nós para concordar e levou uma bronca do meu irmão, que havia surgido de só alguma força sobrenatural sabe de onde, e estava lhe dando um sermão. Eu só sorria enquanto observava o pessoal, aproveitando a oportunidade rara: o foco não estava em mim. Até porque, nos últimos dias, as meninas têm me enchido com perguntas sobre o que elas chamavam de “Triângulo Amoroso da História”. É bom tirar uma folga disso. Suspirei enquanto levantava da minha cadeira, pronta para brigar com meu irmão, quando me esbarrei em alguém. Quando vi que era o novato, lhe cumprimentei com a cabeça e peguei o seu caderno que tinha caído.

                - Ah, Danearys¹! – falei.

                - Você assistir Game Of Thrones²? – perguntou o garoto, pegando o caderno de volta.

                - Não se preocupe com qualquer restrição, posso falar seu idioma. – falei em inglês – E sim, eu assisto e gosto muito.

                - Oh, é ótimo poder falar meu idioma novamente. – ele me disse num inglês impecável – Eu sinto muito pelo esbarrão. Não sabia como dizer isso em português.

                - Por que o Brasil se nem português você fala? – perguntei ainda em inglês.

                - Não sei... O clima, talvez. A hospitalidade. Quando se trata de ser gentil com os estrangeiros eu tinha duas opções: a hospitalidade lendária e intromissiva dos brasileiros ou a hospitalidade fria, porém respeitosa dos japoneses. E me diga o que você acharia de um negro no Japão. – ele revirou os olhos.

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⏰ Última atualização: Feb 14, 2015 ⏰

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