Flagrados

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  - Senhorita Carvalho, o Senhor Ferreira mais novo está aqui. Posso mandar que ele entre? - perguntou uma voz no interfone.

  - Pode sim. - respondi.

 A verdade? Eu já havia esquecido do Mathias. Vestida com uma blusa confortável de mangas e um short curto, eu estava completamente à vontade no salão oriental da nossa casa, fazendo o trabalho sozinha no kotatsu que tínhamos. Os livros estavam espalhados por todos os lugares e as folhas de papel pautado estavam à minha frente, sendo que duas delas já estavam preenchidas. Eu simplesmente tinha começado o trabalho mais cedo, afinal, sou extremamente exigente e apressada ao mesmo tempo com esse tipo de coisa.

 Porém, é meio difícil ignorar uma pessoa que entra na mesma sala que você usando bermuda e uma blusa branca sem mangas. Eu o olhei por um momento. Como um garoto poderia ser tão lindo, estando assim tão simples? Maldito. Filho de uma puta. Não, espera... Puto filho de uma boa mãe. Agora melhorou. Mathias riu para a minha cara de confusão e sentou ao meu lado na almofada enorme.

  - Olá. - me deu um beijo na bochecha - Eu achei que fosse me esperar.

  - Eu acabei me empolgando. - admiti, me voltando para os livros.

 Ele riu do meu lado, pegando os livros que eu havia disposto pela mesa e analisando com cuidado. Após alguns momentos, suspirou.

  - Juro que se você me der uma alternativa para escolher, eu escolho, mas sou péssimo em formular minhas próprias perguntas e trabalhos. - ele admitiu, meio vermelho.

  - Está tudo bem. - falei - Faça-me um favor, então. Vá respondendo o questionário adicional que vem com as instruções de como formular o trabalho escrito. Tem umas dez páginas, então vamos dividir bem o trabalho por aqui.

 Por incrível que pareça, Mathias não deu nenhum trabalho. Pelo contrário: foi de grande ajuda. Quando eu parava para me esticar (não me culpe, estar sentada em posição de lótus não é agradável assim) eu o observava, e ele estava fazendo um progresso até bom, embora muito lento. Ele também parecia um tanto nervoso, mas eu não sabia por quê. Por fim, o tempo foi passando, e eu ia preenchendo as folhas do trabalho sem muito esforço, somente puxando da minha mente alguns conceitos que eu já tinha e curiosidades das revistas que eu havia lido sobre o assunto. Eu ouvi, surpresa, o estômago de Mathias roncar e o encarei. Ele ficou completamente vermelho e eu ri alto.

  - Desculpa, eu não... - ele começou, mas gaguejou e parou.

  - Não se preocupe, eu vou pedir para trazerem algo para a gente. - falei, pressionando o interfone - Gabriela?

  - Olá, Nanda. - disse uma voz com um sotaque espanhol carregado.

 - Gabi, eu queria que você me arranjasse dois pedaços generosos, leia-se enormes, daquela cheesecake que você fez ontem. Ainda tem, né? - pedi com um sorriso.

  - Eu sabia que você ia querer, então fiz outra só para você, já mando. - ela riu.

  - Obrigada, flor! - falei, e tirei o dedo do interfone - Não fique com vergonha, eu que deveria estar. Peço perdão por ser uma anfitriã tão relapsa, eu só me perco quando me concentro em estudar. - lhe lancei um sorriso de desculpas.

  - Eu me pergunto o por que disso. - ele murmurou, me observando.

  - Eu me perco em estudos por que... - comecei, mas ele colocou um dedo na minha boca.

  - Não isso. O por que de você agir tão diferente aqui e na escola. - ele disse.

 Eu me dei conta de que tinha esquecido por alguns momentos o manual de instruções de como agir como uma pessoa fria. Então, após abrir e fechar a boca várias vezes, mas acabei fechando a expressão e me fingindo de fria. Ele suspirou e estava erguendo a mão para o meu rosto quando a porta foi aberta e meu lindo mordomo entrou. Ok, eu já havia mencionado o Mateus antes, mas acho que não dei a descrição dele: é um homem de vinte anos e alguma coisa, antes dos vinte e cinco, com um sorriso branco daqueles de comercial de pasta de dente, sempre arrumado com paletó e etc., além do cabelo negro e liso sempre arrumado em um topete meio rebelde, porém baixo.

Perfeição É Para Os FracosOnde histórias criam vida. Descubra agora