Perfeição É Para Os Fracos

Dor física e alívio mental.

 Eu encarei minha imensa tigela de sorvete, feliz. Três bolas de sorvete de flocos e duas bolas de sorvete de creme com passas são o suficiente para deixar uma garota comilona como eu feliz, mesmo que a noiva irritante do seu amigo que também é irritante esteja sentada do seu lado. O que me faz pensar novamente na causa para que ela não simplesmente sentasse ao lado do seu adorado noivo. Parece que eu não teria essa sorte hoje. Porém, pelo menos eu tinha um consolo: a mesa era redonda, o que me dava uma ótima visão de todos os meus amigos, que estavam parecendo se divertir.

 Escolhemos um lugar não muito sofisticado, priorizando o sabor do sorvete ao invés de quão agradável era o ambiente, mas eu podia dizer que estava satisfeita com o lugar. Era uma sorveteria pequena demais, que tinha as mesas redondas com várias cadeiras espalhadas pela sua calçada, que parecia ser a calçada também do lado de uma casa, que não era utilizada pelos seus habitantes. Além disso, o sorvete estava uma delícia. Apesar de todos os fatores irritantes (leia-se: Mathias e Thaís) estávamos realmente nos divertindo.

  - Amanda, passe-me a calda de chocolate. – falou meu irmão.

  - Ainda não acredito que você comprou toda a calda de chocolate. – falei, num muxoxo.

 Fala sério, tinha que ser o meu irmão mesmo para fazer isso. De início, eu achei que ele estava brincando sobre a calda. Ele ofereceu dinheiro ao homem em troca dela e eu ri. O pobre vendedor me acompanhou, mas ficou surpreso ao ver que meu irmão realmente queria comprar toda a sua calda de chocolate. Coitado, vai ficar sem calda agora.

  - Não fale como se eu tivesse sido mau. Ele vai procurar e vai achar calda de chocolate. Você anda fazendo muito drama por nada, gêmea. – falou Rafael.

  - De qualquer jeito, - falei, estreitando os olhos – ainda acho maldade sua fazer o homem sair da loja para comprar coisas nesse calor.

  - Ele tinha mais calda, Amanda, relaxe. – disse Felipe – Concordo com o Rafael, você está simplesmente tensa demais. – sorriu ele, limpando um pouco de sorvete da minha bochecha.

  - Eu sei um jeito de fazê-la ficar divertida. – disse Larissa com um sorriso – Seu sorvete vai derreter Amanda.

 Ela foi longe demais com essa ameaça, sabem disso. É totalmente injusto lembrar-me disso. Imediatamente, eu peguei minha colher e comecei a devorar a tigela de sorvete, fazendo com que meus amigos rissem alto. Fiz uma cara de zangada e resmunguei de boca cheia para Laryssa, xingando-a toda. Feliz de mim que ela não entendeu.

  - Eu amo sorvete. Principalmente de morango. – falou Thaís, enquanto comia com toda aquela cerimônia de gente importante.

  - Eu prefiro chocolate. – disse Emmanuele, sorrindo e comendo seu sorvete, com o rosto todo melecado de chocolate.

 Eu quase senti sorvete sair do meu nariz enquanto ria da pequena Manu, que parecia alheia ao fato de que todos a encaravam e riam. Ao contrário, ela parecia feliz por poder nos divertir. Sorrindo, ela pegou sua colher colocando um pouco de sorvete e melando o próprio nariz, em seguida fazendo caretas para conseguir lamber o sorvete do nariz.

  - Vamos, quero ver quem consegue. – ela nos desafiou.

 Preciso dizer que todos nós (tudo bem, todos menos Thaís) aceitamos o desafio? Imediatamente, eu estava com sorvete de flocos no meu nariz, tentando lambê-lo. Quase dei um grito quando, do nada, senti-me ser lambida.

  - Consegui. – riu Felipe.

  - Você roubou! – acusou Emmanuele, parecendo magoada por perder.

  - Nunca disse que eu tinha que lamber o meu nariz. – ele sorriu descaradamente.

 Esperto ele. Eu não tinha pensado nisso antes. Então, eu ri alto da cara de zangada que Emmanuele fez. Enquanto eu ria, ela fazia ameaças de morte para Felipe, que variavam de morrer de tiro na cabeça até sete facadas enquanto dormia. Quando eu me cansei e voltei a comer, percebi que os outros haviam limpado seu nariz, mas Felipe ainda estava muito concentrado em sua discussão com Emmanuele para se importar em limpar o próprio. Sorrindo, lambi a ponta do seu nariz.