Perfeição É Para Os Fracos

Protocolos Burocráticos

 Protocolo. O que é um protocolo? Conjunto de regras a observar em matéria de etiqueta, como as seguidas em cerimônias oficiais. Burocracia. O que é burocracia? É uma organização ou estrutura organizativa caracterizada por regras e procedimentos explícitos e regularizados, divisão de responsabilidades e especialização do trabalho, hierarquia e relações impessoais... Por que eu estou dizendo tudo isso? Porque eu presumi que vocês são burros e não entenderiam a seguinte expressão: protocolo burocrático. E no que isso será útil? Em muita coisa. Sério. Primeiramente, para entender a minha vida. Lógico que sim, porque eu sempre venho em primeiro lugar.

 Eventos sociais são protocolos burocráticos vivos. Sério! Não estou brincando com a sua cara. Você já viu aqueles filmes estúpidos de princesas, sobre como andar, como falar, como comer e até como respirar? Isso realmente é avaliado em eventos sociais. Se você anda rápido demais, é apressada e, consequentemente, faz tudo com nenhum capricho. Se anda devagar demais é lerda e, consequentemente, burra. Se você come com o garfo errado, é rebelde ou mal-educada. Se respirar muito alto, tem algum tipo de doença. Se não faz nenhum movimento de respiração, está tensa e quer ir embora, ou seja, ninguém vai falar com você e/ou lhe tratar com alguma educação.

 Isso. É. Um. Pé. No. Saco. E é por isso que eu evito essas festas. Porém, sendo uma Carvalho e ainda por cima gêmea do filho legítimo mais velho, ou seja, futura sucessora da metade de tudo o que meu pai possui. O que tudo isso quer dizer? Que uma vez por mês, meu pai leva a mim, meu irmão e minha mãe num salão cheio de pessoas ricas, comendo comida cara (que por acaso eu não gosto), falando sobre como suas empresas vão bem (mesmo que estejam falindo) e no qual absolutamente todo mundo, repare que eu disse todos mesmo, têm que gostar de você ou você jamais será uma pessoa de sucesso no futuro.

 Conclusão? Uma noite por mês, que é a freqüência máxima que meu pai consegue fazer minha mãe agüentar esse tipo de evento (obrigada mãe!), eu viro uma completa idiota de cabeça rasa, mente vazia e um sorriso estúpido no rosto. Mencionei os vestidos? Malditos vestidos estúpidos em que mal se pode respirar. Eu odeio esses vestidos! Mas é claro que minha vontade de não ir não vale absolutamente nada. Principalmente quando essas coisas são obrigatórias para que as pessoas pensem que a empresa do meu pai vai bem e não parem de comprar suas ações. Acionistas malditos!

  - Você está linda, minha filha! – me sorriu minha mãe enquanto eu entrava na limusine (que por acaso é um total desperdício de dinheiro).

  - Eu odeio essas festas. – reclamei enquanto colocava o pé com o salto alto para cima, no colo do meu irmão.

  - Não suja o meu terno, ou a nossa mãe me mata! – ele reclamou.

  - Estou contando e torcendo ardentemente para isso. – falei.

 Ele sorriu e jogou meus pés para longe, me fazendo cair para frente. Meu pai me segurou pelo braço enquanto lançava um olhar maligno para nós dois. Eu conhecia aquele olhar. Era o nível de periculosidade nível cinco. E acredite em mim, o três já é ruim. Resmunguei enquanto abria a bolsa social preta, procurando meu celular. Meu pai suspirou.

  - Eu sei que não gostam disso. Ninguém gosta! – ele falou, exasperado.

  - Então por que todos vão? – rebateu meu irmão.

 Existe uma regra básica na família Carvalho, sabe? A regra é: nunca questione, rebata, responda, xingue ou até mesmo fale mal dos seus pais. E para o meu irmão Rafael, o perfeito desde sempre, rebater o meu pai... Nossa, ele deve estar explodindo de raiva! Ou queimando de febre, o que lhe levaria a um estado de quase delírio. Prefiro a primeira opção, é mais engraçada. Julguem-me.

  - Você acabou de me rebater? – perguntou meu pai, um tom abaixo do normal.

  - Desculpe. – pediu meu irmão, engolindo em seco – Mas eu tinha que terminar um trabalho em dupla hoje, a minha dupla é realmente perfeccionista e eu queria ajudar. Ela levou o trabalho para casa sozinha, e eu me sinto um inútil. Não quero depender de ninguém.