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Prédio Principal - Dormitório Feminino, Faculdade XXXX, Japão Capital

Meus hábitos nunca foram mudados logo que eu completei onze anos de idade, no qual eu fui abduzida para um mundo diferente do qual eu era acostumada, e mesmo criança, eu tinha consciência que eu passaria por situações assim.

Falta. De. Dinheiro.

Ser dependente de pais conservadores aos vinte e um anos de idade é uma situação que eu não queria passar, e com quase dez anos planejando meu futuro essa unicá faísca deslizou invisível por meus dedos, e o motivo? Minhas notas caíram dramaticamente.

Dramaticamente não, foram menos de seis pontos em algumas matérias, mas esses insignificantes números perdidos fizeram um estrago absurdo na minha vida, no meu segundo semestre estudando duro e tentando manter uma mente saudável fazendo exercicios físicos e acordando uma hora antes das aulas começarem.

Parecia, na real, que eu era a única me esforçando em toda Faculdade.

70% do meu "salário" sendo a filha inteligente e saudável de pais inteligentes e não tão saudáveis foi cortado, e me manter com economias não tão econômicas estava sendo difícil.

Sendo sincera, comer lamên barato por duas semanas não foi o pior da situação, mesmo tendo se tornado um ciclo desesperador.

Mas de tanto pensar nos problemas, de novo a cena se repetiu: braços arreganhados cobrindo os papéis que eu precisava, naquela noite, estudar para as futuras provas, mas tudo que eu consegui foi: pensar, pensar e pensar.

Com isso, a chuva não colaborou.

E para o meu azar, o estoque de sobrevivência estava acabando. O fim de semana começaria exatamente daqui a meia-hora, e o estabelecimento que compro lamên fecharia exatamente daqui a meia-hora, e passaria assim o restante do fim de semana, até segunda-feira, meio-dia.

Impaciente comigo mesma, eu larguei os livros e fui com pressa em direção ao guarda-roupa para puxar a sobra de dinheiro que ficou na carteira, vestir uma calça e um moletom grande o bastante para as pessoas não me reconhecerem, sacar às chaves do bolso e correr pelo prédio com um guarda-chuva entre aberto nas mãos.

Eu respirei aliviada quando, um tempo depois, às sacolas que eu carregava estavam cheias para mais uma semana de terror. Mais que isso, para a última semana de terror.

Eu respirei fundo de novo, dando conta quê, a chuva, só piorou. As rajadas de vento se chocam com as poucas árvores que tem ali, no meio da praça, e elas correspondem soltanto folhas e galhos que caem facilmente no piso encharcado e duro do local.

Sem entender muito o porquê da minha grande atenção nesses detalhes, eu logo voltei a realidade quando uma conversa entre quatro pessoas chegou em mim, entretanto, um alerta se acendeu em minha cabeça:

Preciso chegar logo no dormitório, ou hoje a minha cama vai ser um banco no meio da praça.

Meus pés se movem nos degraus da escada média da loja de conveniência, o guarda-chuva que eu tenho balança em direção ao vento e eu evito que ele escape das minhas mãos para que eu possa me decidir por qual caminho continuar o meu trajeto de volta para o dormitório.

badum

O som agudo de latas caindo no fim de um beco sem saída chama a minha atenção. Meus olhos, trêmulos, viajam do guarda-chuva para o beco mal iluminado. Meu corpo não reage, não se move, e o silêncio envolve à situação de novo.

Sabendo que confiança e coragem não andam de mão dadas na minha personalidade, eu dei dois passos para frente, ignorando sabe lá deus o que seja. Mas a sensação de desespero me prende, e eu hesito, recuo os três passos que dei para frente e volto.

E agora, eu mal ouço a minha respiração, mas sinto que o meu coração poderia sair pela boca. Às latas estão espalhadas, o odor podre de lixo me causam náuseas, mas nada se compara com o que eu avisto.

É um homem. Um homem sangrando em meio a chuva forte que maltrata qualquer pessoa que não esteja se vestindo adequadamente.

E isso é pior do que eu já vi.

O corpo dele é coberto por hematomas: rosto, braços, pernas e as mãos.

É tudo que eu consigo visualizar. A falta de iluminação não ajuda, me deixa mais tensa. Completamente tensa. E só piora quando ele desliza os olhos em minha direção.

Por um impulso causado pelo meu medo, sem perceber, eu me aproximo dele ao mesmo tempo que ofereço o meu guarda-chuva.

- Precisa da minha ajuda? - Eu pergunto, e sei que não vou receber uma resposta de volta. - Por favor... Fala alguma coisa. Quer que eu ligue para alguém?

Eu analiso ele um pouco mais, e me surpreendo com o tanto de sangue que desliza da ferida enorme que ele tem no rosto. A situação aqui não foi só uma briga, foi literalmente uma tentativa de assassinato.

Eu me aproximo mais um pouco, fico frente à frente com ele e abro a boca de novo, para perguntar o óbvio:

- Você tá precisando de ajuda. Quer que eu ligue para alguém? Você tá com o seu celular? - Quase desistindo, eu pergunto de novo. A chuva toma conta das minhas costas, encharca o moletom que me protege do frio e eu não deixo que isso me abale.

Ele se afasta, o corpo machucado dele se move com dificuldade no chão duro e a mão que ele tem no peito se afasta, e aponta para o bolso.

- Certo.

Agitada pelo nervosismo, minha mão abandona a sacola da loja de conveniência e seguem para o bolso dele, com dificuldade para agarrar o celular, eu puxo com uma certa impaciência, e eu peço desculpas num gesto.

- Hange. - Esse é a ultima pessoa que ele ligou no histórico de contatos. - Eu vou ligar para a Hange, ok? Vai ser rápido.

Minha palma desliza na tela do celular, a ligação da início e eu peço em mente que essa pessoa atenda rápido esse telefone.

A chamada cai, eu disco o número de novo e o toque se inicia, eu insisto, cai na caixa postal pela segunda vez, meus dedos digitam o número que eu decorei sem perceber e dessa vez, alguém atende.

- Alô?! Levi, você tá bem? Por onde você andou? Eles te machucaram?! Me diz onde você tá, eu 'tô indo aí! - A pessoa anuncia, e com o tom da voz, a preocupação é evidente.

- Eu encontrei o seu amigo. Ele está machucado, e você é a última pessoa do histórico de chamadas dele. - Aviso, sem pensar.

- Qual é o endereço? Não deixe ele sair daí, por favor! - Eu respondo, passo as informações e ela termina: - Estou chegando em cinco minutos!

Cinco minutos.

Cinco minutos não são suficientes. E estou certa.

O baque me desperta da minha confirmação. Então, é tudo rápido. O baque oco se espalha, o corpo do Levi caí como uma folha de papel no chão sujo e duro, e não posso deixar de perceber a palidez dele, os lábios trêmulos e o corpo fraco despencando.

Ele cai desacordado, e a minha confirmação vem, os cinco minutos não foram suficientes.

Desconhecidos com memóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora