Samantha saiu da casa de Etienne com o coração aliviado. Sentira muito medo em vir falar com ele e ele ser daqueles políticos pomposos que só viam seu próprio umbigo.
"Não, Etienne era diferente", pensou ela enrubescendo. Ele acreditara nela, não teve dúvidas em ajudá-la a resolver o drama de Isabella.
Mas e a convivência? Ela esperava ter disfarçado bem a surpresa que tivera ao conhecê-lo. Embora tenha notado que ele também ficou perturbado em sua presença, ainda que não soubesse por que. Um homem como aquele com certeza teria as mais belas mulheres do Reino Unido aos seus pés.
Tudo que ela queria agora era ir para casa, tomar um banho e tentar descobrir por que seu coração continuava a bater furiosamente se a entrevista já havia terminado.
Mas ao chegar a casa, foi recebida por uma Sra. White atarantada:
- Senhorita! Senhorita! – dizia a gorducha senhora. – Não estamos encontrando lady Isabella.
- O quê?! – Samantha saiu em disparada em direção às escadas.
Entrou no quarto de Isabella e começou a procurar:
- Bella, querida. Onde está você? Apareça. Bella apareça.
Voltou pelo corredor até o seu quarto. Sabia que às vezes quando Isabella tinha medo, era pra sua cama que ela corria.
Mas ela também não estava lá.
Nisso Clobber, o mordomo, foi ao encontro da jovem:
- Senhorita, nós a encontramos.
Samantha soltou o ar, aliviada.
- Onde?
- Venha ver, senhorita...
Samantha caminhou pelo corredor descendo um lance de escadas em direção aos aposentos da falecida lady Benson.
Parte da criadagem estava parada no corredor. Alguns tentavam esconder as lagrimas, a chefe das arrumadeiras, Sra. Felton soluçava baixinho.
Samantha sentiu o coração apertar quando entrou no quarto.
Deitada sobre o leito de lady Benson, Isabella dormia abraçada a um vestido e ao seu bichinho de pelúcia preferido, um cachorrinho meio encardido que seus pais lhe deram no dia em que morreram.
O vestido, Samantha reconheceu, era o preferido de lady Benson.
Mesmo penalizada, Samantha não podia deixar Isabella continuar deitada ali.
- Bella, querida, acorde.
A pequenina abriu os olhos sonolentos:
- Tia Sammy...
- Sim, amorzinho. Sou eu.
- Onde você estava? – acusou. – Pensei que você também tivesse me deixado.
Samantha abraçou a criança, comovida.
- Oh, Bella! Eu nunca vou deixar você!
- Papai e mamãe me deixaram. Agora foi a vovó. Eu só tenho você e o Teddy. – mostrou o cachorrinho.
- E eu e o Teddy vamos continuar com você por muito, muito tempo, querida. – Samantha tranqüilizou a menina. – Agora vamos pra cama. E no sábado teremos um encontro muito especial.
- O que vai acontecer, tia Sammy?
- Você vai ver. – Samantha pegou a pequena no colo, levando-a para o quarto.
Os serviçais observaram a cena em silêncio. A Sra. White desviou o olhar para o mordomo e o flagrou esfregando os olhos.
- O senhor está com um cisco no olho, Sr. Clobber? - perguntou com um meio sorriso.
O homem pareceu encabulado.
- Sim. E voltem todos para suas funções – disse afastando-se rapidamente.
Depois de tomar a decisão de tutelar Isabella Benson, Etienne tinha algumas providencias a tomar.
A primeira coisa que fez foi ligar na redação do The Times:
- Alô. Eu gostaria de falar com Nancy Watson, por favor. Diga-lhe que é Etienne Archibald. Obrigada.
Ele aguardou por alguns minutos.
- Nancy? Etienne Archibald. Tudo bem? Eu gostaria de fazer um anúncio. Dá tempo ainda? Não, - ele riu – não é do meu casamento. Você sabe do falecimento de lady Benson? Então, ela deixou um último pedido pra mim. Que eu tutelasse a neta órfã. Eu e a Srta. Whitmoore, tia da criança. Você pode colocar essa nota no jornal de amanhã. Você é ótima, obrigada. – Ele fez uma pausa, como se estivesse escutando. – O jantar anual do Parlamento? Não sei se vou. Vou ter que arranjar companhia. Se Ethel vai comigo? Claro que não, ficou louca? – ele riu novamente. - Talvez. Você verá. Até logo, Nancy. E mais uma vez, obrigada.
Etienne desligou o telefone e permaneceu sentado pensando. Se Nancy Watson já estava especulando sobre seu romance com Ethel Bloomfield, então já era hora de ter uma conversinha séria com Ethel.
Naquele mesmo momento, Ethel Bloomfield, recebia um telefonema muito interessante:
- Nancy, querida! Quanto tempo! Estou assoberbada com os preparativos do baile do Parlamento. O quê? Etienne ligou pra você? – Ela levantou do sofá. – ELE VAI O QUÊ?! – ela tornou a se sentar. – Desculpe-me, querida. Mas quem é Samantha Whitmoore? Não, nunca ouvi falar. Não, Susan Benson eu conhecia. Ela é irmã dela? – ela ficou escutando – Nancy, querida. Você não sabe o favor que me fez. Até logo. – Ela desligou o telefone.
A primeira coisa que fez, foi jogar a escova que tinha nas mãos no espelho.
- Maldita seja, lady Benson! Primeiramente, não aceita meu casamento com Norton. Agora quer me afastar de Etienne. Ele não vai me deixar. Agora você está morta e nem que eu tenha que conviver com essa fedelha mimada, eu vou ter Etienne Archibald nas mãos. Ah, eu vou.
Ethel Bloomfield era viúva de um oficial morto em combate que a deixara em ótima condição financeira. George Bloomfield tinha sido colega de universidade de Norton Benson e foi vitima dos engodos de Ethel quando esta foi deixada por Norton. Depois se tornou companheiro de armas de Etienne e durante a guerra morreu no desembarque do dia D.
Depois de dar baixa na Força Aérea, Etienne a procurou para dar suas condolências pelo companheiro morto. Desde então Ethel o perseguiu incansavelmente, sempre procurando enreda-lo com cenas de fragilidade melodramática. Sempre um cavalheiro, Etienne ajudava no possível, até que um dia ela conseguiu seduzi-lo. Mesmo a contragosto, Etienne deixou se levar, mantendo um romance com a viúva. Mas Ethel não queria apenas ser um romance a mais na vida do político. Ela queria ser a nova Lady Etienne Archibald.
Mas ela iria descobrir que querer nem sempre é ser.
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Adorável Tutor
Historical FictionEtienne Archibald era um político de sucesso. Um solteiro cobiçado na Londres pós guerra. Mas o pedido de uma velha amiga feito no leito de morte o colocará numa situação nunca imaginada: O de tutor de uma adorável menininha. Uma menininha que tinha...