Três

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        No dia seguinte, como sempre, Etienne saiu para trabalhar. Mas desta vez a frente da casa do subsecretário estava cheia de repórteres.

            - Sir Archibald, por favor, uma declaração! - Pediam eles, colocando-se em sua frente, armados de canetas e blocos de papeis. Flashes de câmaras pipocavam, cegando-o momentaneamente.

            - Esperem, esperem um pouco! Calma. – pediu ele, fleumaticamente. – Vamos devagar. Eu vou dar uma declaração sobre o anúncio e nada mais.

            Imediatamente fez-se silencio. Quando Etienne desejava ser ouvido, todos os demais se calavam. Era um dom, que era bem vindo quando ele falava no Parlamento.

            - Muito bem. Todos sabem que lady Benson havia sido uma pessoa próxima de mim. Que eu passei alguns anos junto à sua família, quando meus pais tiveram gripe espanhola. Fui amigo de seu filho e aluno de seu marido no começo da minha carreira. Pois bem, em seu leito de morte ela pediu a Srta. Samantha Whitmoore, irmã de sua nora Susan, que me entregasse uma missiva onde ela pedia que eu me tornasse tutor de sua neta de 7 anos, Isabella. Pedido esse que eu aceitei imediatamente. Agora, senhores, me deixem ir trabalhar. – finalizou ele, descendo os degraus.

            Os repórteres ainda insistiram por mais declarações, mas Etienne entrou no carro oficial e sumiu de vista.

           

            E no sábado, uma situação semelhante passou Samantha. Mas quem fazia as perguntas era Isabella:

            - Tia Sammy, aonde nós iremos hoje? – as crianças logo se recuperam das perdas, voltando à energia inicial.

            - Nós vamos almoçar fora hoje.

            - Mas nós não estamos de luto? – a menina subia os braços para Samantha por o vestido.

            - Ah, isso só serve para jantares e festas. Não para almoços. E não será com muitas pessoas. Apenas uma só, nos acompanhará.

            - Quem, titia? – a menina sentou-se na cama para Samantha calçar-lhe as sapatilhas.

            - Alguém que Ernestine adorava. E que eu espero que você goste também.

            Agora Samantha colocou Isabella sentada em frente ao espelho para pentear-lhes os longos cabelos ruivos. Isabella era uma mistura adorável de Susan e Norton: da mãe herdara os cabelos ruivos e o nariz arrebitado. Do pai, a expressão pensativa e os olhos azuis. E da tia o temperamento...

            - Pronto. – Ela olhou a sobrinha de cima a baixo. Isabella estava perfeita. Seria bom que Etienne tivesse uma boa impressão inicial de Isabella, por que logo descobriria que a menina, embora não fisicamente, era uma cópia perfeita da tia. – Agora vá brincar com suas bonecas e não se suje.

            - Sim, tia Sammy. – e sentou-se perto da janela, brincando com a casinha de bonecas que ganhara no Natal.

            Samantha ficou observando a sobrinha e seu coração se apertou. Só tinha uma à outra agora. Se algo acontecesse a Isabella, Samantha sabia não que resistiria. Perdera os pais durante a guerra, em um dos bombardeiros relâmpagos alemães. Não optara, como Susan, ficar longe da guerra. Seus pais mandaram Susan e Samantha para a casa de parentes nos Estados Unidos e nesse ínterim os bombardeiros começaram.

            Susan, como uma boa donzela casadoira, esperou pela volta de Norton, de quem já era noiva. Samantha, mais aventureira, alistou-se no Grupamento de Enfermeiras e seguiu para a guerra. Foi na Austrália que ela ficara sabendo por cartas da irmã que seus pais haviam morrido.

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