Explosões e Jacintos

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-Acho que falta mais elegância. - dizia minha mãe.

Eu não sabia onde estava. Minha cabeça vagava em tantas dimensões naquele momento. Os dias passaram tão rápido, não imaginava que fosse ser tudo tão corrido. Desde o ano passado, minha mãe começara a preparar o casamento com o pai ômega de meu noivo. Eu era questionado sobre certos detalhes, como flores, enfeites e cores, mas não era como se eu tivesse planejado tudo. Dois meses atrás, quando planejávamos o baile de meu aniversário, mamãe contratou um alfaiate para fazer meu terno da festa e também do casamento. Foi um dos baques que a vida me deu sobre esse detalhe. Eu me casaria. Faltava agora algumas duas semanas, acredito eu. Quatorze dias. NamJoon passou a frequentar nossa casa, o cortejo, ele usava como desculpa, alegando que o pai estava mais ansioso sobre isso do que ele próprio. Ao contrário do que eu imaginei, o Kim não passou da linha, não tão drasticamente. Tomamos chá uma tarde de domingo, ele me contou sobre sua infância com TaeHyung e a arte do flerte que seu irmão possuía. Falamos mais sobre ele do que de mim, e eram breves os minutos que eu conseguia rir verdadeiramente com ele. Me mantinha sempre em defesa, pronto para jogá-lo de outra colina. 

Minha relação com aquele alfa melhorou, mas ainda era complexo. Meu interior pegava fogo perto dele, meu estômago embrulhava em ansiedade. Eu sempre esperava algo, uma brincadeira maldosa, uma fala ousada. As vezes me surpreendia, mas ele sabia como me provocar. Gostava de me tocar, gestos singelos e castos, nada profundo, mas era ele. Tudo com ele parecia um vulcão em erupção. Isso me assustava. NamJoon sumiu nos últimos dois dias, o que me permitiu relaxar completamente. Bem, nem tanto. Voltando ao alfaiate... Lá estava eu, em meu quarto, em pé num pedestal largo, vestido nos trajes pálidos, com seda e cetim. Meu terno de casamento. Minhas mãos tremiam, e eu realmente não conseguia me encarar no grande espelho a minha frente. Minha garganta estava fechada. Eu poderia desmaiar facilmente ali, mas mamãe saberia que teria algo errado assim. Ela não pode saber sobre meu pânico. 

-Acredito que se apertarmos um pouco mais aqui... - falava o alfaiate, tocando levemente em pontos do traje. -E talvez aqui também, irá trazer toda a graça do corpo de seu belo filho. - disse. Não conseguia entender nada, não conseguia olhar, não conseguia imaginar como aquele tecido branco ficava em mim. 

-Concordo plenamente. - mamãe disparou segundos depois. -Pois bem, marcamos a segunda prova para esse fim de semana? - sugeriu, e eu congelei. Já? Tão rápido assim?

-Acredito que sim. - disse o beta. -SeokJin, querido, pode ir tirar o terno, mas cuidado com os alfinetes. - permitiu. 

Engoli em seco, controlando as pernas. Apressado e silencioso, marchei até o biombo, tentando me despir rapidamente. Queria estar livre do terno, livre do tecido branco, livre daquilo tudo. Pensei então em Pegasus, meu amável e lindo Pegasus. Tomei cuidado ao pendurar o terno pálido no cabide, sentindo-me ofegante quando enfim o encarei melhor. Era lindo. O paletó branco era liso, com bordado dourado nas golas e nas extremidades das mangas longas. Não havia colete, mas a camisa de linho era detalhada com dourado, e na gola se enrolava um lenço de seda, num tom esverdeado bem clarinho. Eu amava verde. A calça era apertada na cintura, com um cós alto. Descia em pregas delicadas pelas coxas, indo até os calcanhares. Com mais detalhes dourados nas extremidades. Engoli em seco. Era perfeito. Lindo, como eu sempre sonhei, mas por que eu não conseguia o vê-lo em mim? Por que eu queria tanto fugir daqui? 

Vesti minhas roupas comuns, vestindo as calças de equitação, desejando ver Pegasus e correr pelo vale como um louco. Meu coração berrava tanto, fazendo meu peito doer. Suspirei, tentando acalmar meu estado. Fechei os botões do colete verde escuro, calçando as botas em seguida. Vestido, pronto para uma boa cavalgada pelo campo. O beta, cujo o nome eu havia realmente me esquecido, logo veio atrás do traje matrimonial, e eu o acompanhei com minha mãe até a saída de nossa casa. E de repente, vi mais pessoas entrando em casa, pessoas com tabelas, mais decisões do casamento. Eu precisava sair antes que desabasse ali. Me retirei levemente, aproveitando a distração de minha mãe. Corri para a saída dos fundos, pela cozinha, logo atravessando o longo pátio até o estábulo. O tratador escovava Pegasus, e logo sorriu, se curvando ao me ver.

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