Segredos e Conflitos

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TaeHyung's view

Eu estava trêmulo ainda. O cheiro forte de SeokJin perfurava minhas entranhas. Seu grito ecoava em minha cabeça. Minha pele formigava e eu revivia os piores dias da minha vida de novo. A dor, a agonia, o desespero. Sair daquela casa foi um certo alívio, mas lá estava eu, sentado no sofá dos Kim, bebendo um chá de camomila. Vim o mais rápido para avisar aos pais do ômega sobre o cio. Era um período perigoso para ômegas jovens como nós, mas eles se tranquilizaram com o fato de Jin ser marcado. Mal sabem eles. Mas tudo bem, ele será marcado essa noite, ele ficará bem, tenho plena certeza, e isso me motivou a aparentar estar bem também. Sorrisos e chás, era minha especialidade eventos assim. Parecer ser quem não sou, fácil. Contudo, meu coração batucava forte, e eu me perdia na escuridão que aqueles malditos dias se tornaram na minha mente. Dias nublados, dias escuros, dias sem lembranças.

-Está ficando tarde, querido. - a senhora Kim disparou, sorrindo calma para mim. Lhe encarei, devolvendo o gesto. Gracioso e educado, duas características simples de exibir, mas naquele momento, eu estava entrando em um colapso. -Por favor, durma em nossa casa, e pela manhã buscamos notícias de SeokJin. - ela sugeriu, e eu queria tanto recusar seu pedido, queria tanto lhe dizer que estava tudo bem e que eu deveria ir para a casa de meus pais na região. Mas não pude, não consegui. Não quando senti aquele odo de morangos selvagens inundar meus sentidos. JungKook. Eu lhe reconhecera apenas pelo cheiro, e tal coisa me dava medo.

-O que houve, mamãe? - questionou com a voz rouca. Havia acordado de um sono profundo imaginei. Engoli em seco, bebendo o chá, e em seguida lhe olhando. Lembrei da ferida de NamJoon, lembrei quem a fizera, e de fato lembrei dos encontros deliciosos que tive com tal pessoa.

-JungKook, querido, está de pé? - a mulher disparou, e eu respirei fundo. Morangos... Eu adorava esse cheiro. -TaeHyung veio avisar sobre o cio de seu irmão. - contou e vi o olhar do alfa se tornar sombrio, frio, áspero. Aflito, eu diria. Lhe lancei um olhar rude, ríspido, me perguntando o que se passava em sua cabeça para acertar um soco em meu irmão. Engoli a informação e a raiva, não querendo expor seus atos infantis e brutos. Mais um segredo para a lista.

-J-Jin hyung está bem? - perguntou, afetado pela notícia.

-Ele está no cio. - foi o que respondi a sua pergunta ridícula. Vi seus membros tencionarem, me olhando de forma culpada e ainda sim rude.

-Ele ficará bem. - sua mãe disparou, tocando o rosto do caçula. JungKook e eu tínhamos a mesma idade, mas de fato ele era muito mais que o caçula dos Kim. Ele era um alfa forte, de peito estufado e músculos grandes. Não parecia nem um pouco com o bebê que sua mãe via. -Já que está aqui, poderia acompanhar TaeHyung até um dos quartos de hóspedes? Ele passará a noite. - pediu, e senti meu sangue gelar.

-Claro, mãe. - assentiu de prontidão.

Terminei meu chá. Eu queria descansar, queria me deitar e não me imaginar na situação que meu cunhado se encontrava. Era difícil. Meu coração agitado me fazia ficar ofegante e abatido. Foram necessários poucos segundos para que a senhora Kim desaparecesse, e eu estivesse andando pelos corredores da mansão de braço dado com JungKook. Pura cortesia, pura educação. Mas nós dois sabemos que sozinhos nãos usamos nada que aprendemos em aulas de etiqueta. O grito de SeokJin ainda ecoava na minha cabeça, me lembrando constantemente daquilo. A agonia crescente em meu interior ardia, mas a presença de JungKook me acalmava de forma confusa. Eu não desejava entender, não naquele momento, não quando estou implodindo, não quando sinto raiva dele por bater em meu irmão. 

Andamos em silêncio, e eu me permiti controlar a respiração afobada. Meu coração ainda disparava, pensando em SeokJin, pensando em mim meses atrás. A dor, o calor, o desespero, a solidão... Minhas mãos começaram a  tremer e então paramos de andar. JungKook segurou minhas mãos e eu ergui o olhar para lhe fitar. Suas íris escuras e brilhantes me tiravam o fôlego, e poderiam drenar todos os pensamentos angustiantes que eu sentia. Engoli em seco mais uma vez, lembrando de ter raiva e força. Suas palmas quentes seguravam firme as minhas mãos molengas. Tínhamos a mesma altura, mais ou menos. Tínhamos a mesma idade, eu sendo alguns meses mais velho. Tínhamos aquela química brutal durante nossas fugas secretas. Então, por que sinto que não deveria prosseguir com o que quer que ele sugira?

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