Pouco Tempo

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Hoje. É hoje. Hoje mesmo! Céus! Me caso hoje! Estava me sentindo nauseado desde que acordei, se é que posso dizer que consegui dormir. Eu me revirei durante a noite toda. Depois de meu encontro com NamJoon, nossa relação se tornou menos complicada. Era bom poder falar com ele sem que me sentisse culpado ou pressionado. Nos vimos uma ou duas vezes durante a semana que se correu. Mamãe me arrastava para lá e para cá. Recebemos parte de nossa família durante os últimos dias, e nossa casa estava explodindo de tantas conversas paralelas. Eu não me dava muito bem com meus tios de Busan, mas eu estava tão aéreo a tudo que mal me importei com o que falavam. Meus primos de Seul eram pequenos ainda, crianças divertidas que aprontavam bastante. 

A manhã de hoje, dia vinte e três de Janeiro, eu levantei da cama com as pernas bambas. Minha mãe logo entrou no quarto, abrindo as cortinas, deixando o sol daquela manhã ensolarada perfeita me cegar. Ela tagarelou enquanto eu tentava descobrir como me manter são naquele dia. Ainda perdido nas emoções, encontrei um arranjo de flores bonitas na mesa no centro do quarto. Dálias. Suspirei, sabendo quem havia mandado. Lembro de ter dito a NamJoon que eram as minhas favoritas. Me aproximei delas, cheirando o perfume bom, e então espirrei. Franzi o cenho, remexendo entre as flores, encontrando a impostora. Bufei, sabendo que isso era a cara de NamJoon. Uma maldita margarida branca escondida entre as dálias. Deus, me dê paciência, pois com forçar eu o mataria. 

Fui rapidamente lavado e vestido, em seguida arrastado para a mesa do café da manhã. Minha família falava animada, empolgada pelo dia de hoje. Eu, bem... Eu estava prestes a vomitar, ou desmaiar. Encarava minha mão esquerda. Encarava o anelar nu. Céus, a partir de amanhã, eu ataria usando uma aliança pelo resto de minha vida. Me perguntava como Nam estava se sentindo. Afobado como eu? Ou talvez só nervoso? Meu coração palpitava tão forte que eu estava com medo de sofrer uma parada cardíaca antes mesmo de entrar na Igreja. Queria poder sair, galopar com Pegasus, rolar na grama como uma criança, talvez só admirar a paisagem me deixasse menos nervoso. Eu só queria que acabasse logo. 

O casamento estava marcado para algo perto do por do sol. O pai ômega de NamJoon alegava que era o momento mais emocionante do dia, e que representaria a maturidade do casamento. Me pergunto se ele diria algo assim se soubesse o quão criança era seu filho. Eu ainda tinha tempo de respirar fundo e ficar sozinho, mas não sei se conseguiria fugir da mamãe. Por esse motivo, recorri aos meus dois cavalheiros de armadura. Jimin e JungKook. Após o café da manhã, perto das onze, chamei os dois num canto, implorando para que distraíssem nossa mãe o suficiente para que eu possa me esconder em meu quarto. Pedi que a pusessem numa situação em que ela pudesse esquecer completamente de mim, mesmo que fosse difícil. Dado o desafio, vi os olhos de JungKook arderem em ideias mirabolantes. E lá foram eles, me salvando como sempre. 

Eu logo segui cauteloso para o meu quarto, lembrando de trancar a porta. Suspirei, encostando a testa na madeira. Silêncio. Eu adorava o silêncio. Respirei fundo, caminhando até a mesa do quarto, onde as lindas flores ainda residiam. Eu amava tanto as dálias. O arranjo era colorido, tendo um pouco das dálias amarelas e vermelhas. Reconhecimento, gentileza, união... Suspirei profundamente, gostando de como NamJoon falava através de flores. Eu achava tão meigo e romântico, mas sei que aquela maldita margarida era parte de seu lado provocador e irritante. Isso me fervia o sangue. Eu estava me submetendo a viver com um homem gentil e delicado, que dividia o corpo com uma criança atentada de dez anos. O que será de mim? 

Cauteloso, afastei algumas flores, buscando a margarida solitária. Branca e linda, porém mortal para mim. Apanhei um lenço antes de segura-la pelo cabo, mantendo-a longe de meu rosto. Levei a flor pálida até a janela, a jogando dali. Assisti a flor voar com o vento, parando na grama do jardim. Suspirei, imaginando o que a natureza faria com ela. Respirei o ar puro do dia, olhando o céu azul, quase sem nuvens. Era um dia tão lindo. Quase como um conto de fadas, eu podia ouvir pássaros cantando ao longe, podia ouvir as árvores balançando, sentir a brisa macia em meu rosto. Era o dia perfeito para o casamento perfeito. Isso me dava náuseas. Sinto que deveria estar explodindo em felicidade, mas... Eu só queria adiar mais alguns meses, talvez conhecer NamJoon do jeito certo, talvez até me apaixonar por ele... Não entendo o motivo de termos sido privados disso. 

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