Capítulo 1 | Ninguém em casa

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     Cheguei em casa após muitas aulas, apenas queria descansar em paz, mas já havia percebido que meu pai não estava em casa, mais um dia, como de costume.

     Eu poderia ficar em casa sozinha, nem ligo, mas o meu bairro não é completamente seguro, já ocorreram vários assaltos aqui por perto, e isso é comum nesse lado da cidade.

     Esse foi um dos dias que eu estudei integralmente, voltei somente às 17h. A última vez que vi meu pai foi ontem de madrugada, quando ele saiu, ou seja, ele com certeza está na rua desde aquela hora, e eu não recebo nenhum sinal de vida dele.

     Como já era sexta-feira eu não teria que ir para a escola no dia seguinte eu costumo ir para a casa de Isis, em vez de ficar sozinha e insegura em casa.

Oii Isis! – disse ao telefone com um tom de voz fofo.

Oii amiga, o que você quer, coloca tudo pra fora, eu já te conheço! – disse impaciente.

Precisa esfregar na minha cara que eu sou previsível dessa forma? Mas você está certa, quero dormir aí hoje, posso ir?

Claro, podemos até fazer uma programação mais divertida do que os dias comuns, para comemorarmos o fim do ano escolar, não aguento mais!

Acho ótimo, daqui a 20 minutos estou aí! – disse, desliguei e corri para tomar banho e arrumar minha mochila.

     Tomei meu banho bem rápido! A água estava tão quente que o espelho do banheiro ficou completamente embaçado.

     Consegui arrumar minha mochila entulhando o máximo de roupas possíveis dentro dela, porque ficaria até domingo na casa de Isis. Chamei o Uber e lá fui eu, mais um final de semana fora de casa graças ao meu pai.

     Chegando na casa de Isis, subi o elevador, toquei a campainha e a funcionária que trabalha para a família, na casa, atendeu a porta. Diferentemente de mim Isis e sua família tem uma condição financeira bem melhor do que a minha, mas ela nem se importa com isso.

     A moça me disse que Isis estaria em seu quarto, e eu realmente imaginei que estivesse, porque lá de dentro estava vindo uma música no volume máximo do Harry Styles.

— Oii amiga! – disse abrindo a porta do quarto.

     Isis estava completamente distraída colocando algumas peças de roupas dentro do armário, mas parou pra falar comigo, me comprimentou, eu deixei minha mochila na poltrona dela e nós começamos a conversar enquanto terminávamos de arrumar o quarto de Isis.

     Depois que terminamos a arrumação nos deitamos na cama para escolher uma série. Em um dos assuntos que estávamos conversando Isis conseguiu arrumar uma forma de abordar o assunto da minha relação com meu pai, algo que eu não gosto de conversar, e ela sabe disso, mas sempre insisti, vem com um discurso dizendo que é necessário esse tipo de conversa.

— Mia, eu sei que você não gosta de falar sobre isso, mas como você está se sentindo em relação ao seu pai? Você diz que está levando tudo na boa, mas eu sei que é uma situação muito complicada, e eu te conheço!

— Olha só, eu tento não expressar minha tristeza, porque não gosto de sair espalhando meus sentimentos, acho algo muito pessoal. – digo fazendo gestos com as mãos.

— Mas tratar as coisas desse jeito é pior, um dia você vai precisar explodir, um dia chegará a famosa "gota d'água", e você não irá aguentar mais nada! – ela disse e lágrimas lentas caíram dos meus olhos sem nem mesmo pensar, eu sabia que tudo o que ela dizia estava certo, mas sempre foi algo difícil de admitir.

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