15 - Ingredientes: Chanyeol, Baekhyun e o Ex-Amor

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Modo De Usar: Você está a noventa e nove segundos de sair da minha visão. Já pegou as chaves do carro e fechou as malas que ajeitou na porta do nosso apartamento, este mesmo, que agora é só meu. Está com os olhos vermelhos de tanto chorar, olheiras inchadas demais para alguém consciente e um grito abafado dentro da garganta. Eu te conheço, querido, não sabe o que faz, desde que disse que me amava no banco passageiro do meu carro há uns quatro anos atrás, nunca soube, eu sei!

Concentro-me em fitar apenas a joaninha no chão, parada e tão pequena diante da grandiosidade de tudo ao seu redor, e é então que entendo que ela é praticamente a melhor simulação do que éramos em relação à vida. Miúda, sozinha, querendo ir sabe-se para onde, numa vontade louca de calçar a coragem nos pés, jogar um mapa nas costas e abandonar tudo no sótão. Mas você ficou até que tempo demais, forçando-se a permanecer e fazendo de conta que eu sabia somar, quando se esvaziou de mim por mais tempo do que a tua vida apostou.

Em passos barulhentos, arrastando as pantufas que te presenteei no seu último aniversário, você se aproxima, respira fundo e me aponta a chave do apartamento. Diz que agora ela é minha de volta. Ergo o queixo firme até encará-lo e por um instante você treme, pisca sem parar, pois foi instantaneamente atingido por um rio de vergonha e não sabe como se portar. Pergunto-lhe o que faço com o resto que ficou, sobrou na minha estante e faltou na minha cama, pois lembranças não são cópias de algo original que se recicla ou se devolve ao dono. Eu não teria como me reembolsar pelos momentos perdidos e pelos beijos roubados, certo? 

Do meu ângulo você só sorria de canto daquele jeito porque eu era o motivo da graça. Na minha visão, você me olhava com os olhos faiscantes, pois queria mostrar o corpo que se aninhava no meu pelas noites, como uma prova do quanto o nosso encaixe era perfeito.

A mentira é realmente fascinante, não? Porque começa com abraços a menos, olhares afastados, bocas apenas contestando quem terá a maior razão e vencerá a batalha, e quando percebemos que o meio está rumo ao fim, trazendo enxaquecas matinais, mais maços de cigarro do que o normal e cômodos apertados pela falta de assunto, não há como negar a rotura de algo que existia, mas não existe mais.

Desde sempre, eu lhe acompanhei nas suas escolhas, agora nem mesmo até a saída eu tive força para levá-lo. Antes, eu mantive-me presente em cada passo, pois se eu corresse demais, sentia que havia lhe deixado para trás, tão longe de mim.

Dei-lhe chances na mesma dose que os pingos da chuva, sem contar, admirando do vidro da janela, a sua beleza predominante. Só te ofereci paciência na espera de um sentimento recíproco tão importante para que eu sentisse o soco dentro do meu peito me acordar, até que eu perdesse o controle, o ar, o que era mais importante de mim: o meu coração. Fielmente, dia após dia, eu me mantive em pé mesmo sentindo as pernas tremerem a ponto de me fazer cair, e você nem sequer me segurou pelas pontas de mim ou me ergueu para cima, com uma declaração pequena do tamanho da minha importância pra você. Ela existiu, certo? Não minta dessa vez, pois sei que está cansado de fazer isso.

Você está a três, a dois, a um segundo e se foi, desceu as escadas e desapareceu dentro do táxi, deixou a porta aberta quando sabia que eu sempre lhe chamei a atenção para que a trancasse. Ainda que por dentro eu tivesse certeza que enquanto eu era liberdade, você era prisão, avisar-te aos gritos de que se tornaria um solteiro, namorando com meu coração aos pedaços. É, você se vendeu á solidão ou contratou uma bela forma de me destruir aos poucos? Prendeu-se a si mesmo e foi-se, decretado como vítima dum crime de descompaixão.

Peguei a joaninha na palma da minha mão, levei-a até a janela e a joguei de lá de cima, homicida que eu sempre fui, assistindo-a voar quando a altura a recebeu. Sorri triste, afinal, era um adeus. Fechei a janela e voltei para o meu macio sofá.

Acendi um cigarro e nenhuma lágrima caiu. Estava tudo bem em não ser o mocinho dessa vez, estava tudo bem!

ANTOLOGIA DE PARK E BYUN  | ChanBaekOnde histórias criam vida. Descubra agora