12 - Rosa Chiclete (!trans)

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Aurora tinha cabelo rosa, combinava tanto que a peça de roupa chamativa parecia nascer cada vez mais vívida de forma natural. Ela estudava na sala ao lado da minha, era um ano mais nova do que eu e durante o intervalo, sempre andava sozinha. 

Geralmente, como almoço, escolhia trazer uma maça e um lanche natural de casa e eu realmente a admirava pela determinação em todos os dias cumprir tal objetivo. E como eu sabia de tudo isso? Bom, quando os olhos se camuflam no lugar do coração, fica difícil não notar.

Ela vinha caminhando pelo corredor ouvindo uma música nos fones de ouvido quando dois garotos passaram ao seu lado e a empurraram com os ombros, fazendo de conta que havia sido sem querer. Porém, essa não é uma história de uma garota nerd que sofre bullying na escola, na verdade, Aurora era do tipo que não deixava nada barato. 

Não deu tempo dos indivíduos correrem para que ela rapidamente os pegasse pela gola da camiseta e os juntasse em frente á sua visão com o olhar de assassina, dizendo alguns sermões em tom de ameaça, suficientemente capaz de fazer com que ambos se desculpassem, abaixassem a cabeça ressentidos e saíssem da presença dela no mesmo segundo.

No meu mundo, eu a achava incrível, tanto que a idealizei inúmeras vezes como uma super-heroína. Contudo, as ideias nunca saíram da minha mente como deveriam já que eu era uma ótima escritora como desenhista. Mas ainda assim, Aurora era a minha noite, meu dia, era o sentido da palavra e até mesmo a falta de todos as outras.

Certo dia, meu melhor amigo sentou-se ao meu lado e disse uma das coisas que não saiu da minha cabeça:

– Você deveria ir falar com ela. – Apontou para Aurora do outro lado do pátio. – Olha tanto para ela que é como se os seus olhos fossem cair.

Ri soprado.

– Cala a boca, idiota! – O empurrei com os ombros. – Ela não deixa ninguém se aproximar, não vê? Todos os garotos que tentam o mínimo de aproximação, ganham o decreto de morte.

– Já parou para pensar que talvez ela não goste deles justamente por serem garotos?

O encarei e ele tinha as sobrancelhas se mexendo, sugestivo.

– Ela não deve...

– Você já tentou? – Ele se aproximou de mim, me interrompendo todo afoito. – Está sempre a assistindo, mas precisa chegar nela ou outra pessoa fará isso antes de você. Imagina como será! Ficará de camarote, assistindo ela ir embora com outro?

E foi assim que me tornei audaz, com uma coragem que jamais teria se não fosse pelo incentivador medo. Peguei minha bandeja com os lanches, pensei em jogar metade deles para me mostrar mais vegetariana como ela. Entretanto, desisti ao pensar que precisava ser sincera desde o primeiro momento, afinal, estaria mentindo principalmente para mim.

Me joguei ao lado dela e Aurora continuava concentrada na canção nos fones em seu ouvido, fitando a maça como se fosse um celular nas mãos de qualquer jovem adolescente ao nosso redor. Ela balançou o corpo possivelmente no ritmo da melodia e eu arregalei os olhos quando seu braço quase tocou o meu, se não fosse pela desistência de voltar na mesma posição anterior. 

Droga, Aurora, foi por pouco! Quase nos tocamos.

Respirei fundo, tentei imaginar flores, marshwallos, chicletes alinhados e morangos, porém, tudo isso me lembrava Aurora e de volta eu era jogada a realidade.

– Você deveria ser menos complicada, Aurora. – Comentei baixinho, imaginando que ela não me ouviria. Ainda assim, senti minhas mãos soarem em nervosismo. – Deveria me dizer o motivo por eu gostar tanto de você, o motivo de eu te descrever nos meus textos mesmo sabendo que você nunca vai lê-los. Deveria me dizer porque perco a linha toda vez que você coloca uma mecha desse teu cabelo rosa deslumbrante, para trás de sua orelha. Me sinto como um trem desgovernado, onde é a saída senão voltar o outro dia e continuar te olhando? É um ciclo sem fim e viciante. Porque se eu descer a estação, eu estarei fugindo do sentimento mais bonito que senti. Aurora?

ANTOLOGIA DE PARK E BYUN  | ChanBaekOnde histórias criam vida. Descubra agora