Capítulo Sete - Vínculos

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"Mas, ainda sim, eu senti ódio, paixão e... amor. Apesar dele... ser um... ter nascido um deus. E o Deus que minha mãe acreditava não gostava muito de mim."

(N.T.: Que tristeza, suponho. Ele deveria ter continuado morto, Ò, Adormecido. - B)



"Desculpe, mas seres rastejantes não são bem-vindos aqui dentro. O cara do bar não suporta cobras... tem pavor." Disse, o urso marrom de mínimas características humanas, para a cobra preta, pondo a pata (com poucos vestígios de um ser humano) na frente impedindo que ela passasse. Parei também, afinal estou atrás dela na fila, e senti pena do homem pela forma na qual Bersek o encarou. "Desculpe..." Ele também teve pena de si, caso contrário não teria engolido o seco e pedido perdão. Admiro a força de vontade que essa fêmea tem de assustar a todos, ao mesmo tempo que temo pela minha vida. "Teria como... se retirar?" Perguntou a ela, com a voz trêmula. Ouvi uma ela respirando fundo, algo inacreditável por ser uma cobra.

"Claro que sim." Respondeu, com falsa gentileza. "Kevin, me empresta o seu casaco. Agora." Ela realmente não estava pedindo.

tal cobra tal Rainha.

"Ah... sim." Fui cauteloso, pois não sei do que é capaz. Eu uso um sobretudo de couro marrom com pelos brancos por dentro para aquecer. Faz frio no momento e, por Bersek, posso morrer congelado. Ela só quer o meu casaco. Saí da fila junto dela, tirando o meu sobretudo enquanto reclamo mentalmente o fato de um réptil que nem braços tem ordenar que eu tire uma peça de roupa! E eu cedo, ainda por cima. Eu sou um homem fraco, só pode. Bersek parou ao se aproximar da parede de madeira e eu fiquei a quarenta, aproximadamente, centímetros de distância. Franzi a testa ao vê-la crescendo o tal pescoço até sua cabeça chegar na altura dos meus olhos, fiquei mais surpreso quando o corpo de réptil começou a tomar formas humanas, com braços e pernas, e por fim se tornar uma mulher tão negra que chega a ser meio azulada, com a pele perto do olho pintada de tons roxos, assim como sua irmã, e olhos incrivelmente dourados. São... hipnotizantes... mas ela ainda me encara seriamente aguardando eu entregar o casaco. Mostrar o corpo nu não pareceu problema para si, eu a olhei de cima a baixo, perplexo. O urso e o restante dos que aguardavam a vez de entrar também a olham desse jeito.

Bersek, infelizmente, tem uma beleza exótica. E eu jamais admitiria em voz alta o quão linda ela é, com o seu corpo possuindo belas curvas e a sua pele escura chamativa - mas não tanto quanto os seus olhos, que parecem enxergar a sua alma, e os seus cabelos longos e lisos na cor preta. Não me admira que ela seja assim, afinal, a sua forma real é de uma cobra naja preta. E, apesar dos olhos serem bem redondos quando está na sua forma de réptil, notei que eles são um pouco puxados quando como ser humano. Acredito que devem quase fechar quando a mesma sorri. Se ela souber sorrir, não é?

"Já posso entrar, então?" Perguntou ao que guarda a porta, e ele concordou várias vezes com a cabeça. Dando espaço, assim como a fila inteira, para que entrasse no humilde estabelecimento. Fui atrás, não sou burro. "Obrigada." Disse, mas nem o encarou.

Debochada, mas dona de uma linda voz.

"Cadê a sua vergonha na cara, mulher?" Pergunto, aos sussurros, indignado com a pouca falta de senso dessa cobra e ao mesmo tempo admirado pela sua astúcia.

"Sou desprovida." Simples assim. Simples assim! Meu Deus, por que eu perco o juízo com um réptil rastejante? "O foco não sou eu, Kevin Evans, recomponha-se e aceite. Rowan está ao alcance da minha vista." Os olhos da cobra alteram entre as cores dourado, verde e azul. Estou impressionado com a beleza da cobra que virou mulher. Eu tinha imaginado uma aparência horrenda para ela e mais uma vez estou enganado. Já devia saber. As cobras são traiçoeiras, obviamente teriam a aparência mais encantadora possível para atrair, enganar e devorar a sua vítima. Eu agradeço aos Céus por não estar no cardápio de Bersek, ela não parece nem um pouco amigável para com a comida, da mesma forma que não é comigo.

Delírio (I - Coleção Sangue Vil)Onde histórias criam vida. Descubra agora