Prólogo

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1834


Embora corresse sangue de homem do mar em suas veias, Kevin Evans não se dava ao luxo de usufruir de um navio. E mesmo que viesse ter algum dia, contrataria uma tripulação e colocaria um homem de confiança dentro para comandar. Entraria apenas numa situação de emergência - e quando parado na terra firme. Pelo menos era essa a sua ideia inicial. Ele sequer imaginou que o comissário o enviasse para outro país afim de investigar um assassinato, justamente por ter nada a ver a polícia especializada de Londres com a Marinha Real. Infelizmente, o seu cargo não permitia que o mesmo se pronunciasse contra. Durante a viagem, Kevin sentiu-se enjoado a maior parte do tempo. Vomitava, no mínimo, cinco vezes ao dia e mal aguentava se alimentar. Embora essa parte seja a mais irrelevante, comer algo era o que menos gostaria porque estava ciente de que, caso comesse, colocaria a comida para fora em menos de duas horas. Por fim, não conseguiu agir feito o homem que é e muito menos ajudar a tripulação nas coisas mais simples. Como, por exemplo, limpar o convés. E assim foi, na fragata Céu Azul, durante cerca de três meses e meio. O escocês quase se ajoelhou e agradeceu aos Céus por estar fora do navio de guerra quando atracaram. Haviam sido meses difíceis.

Kevin Evans tem certeza que chegara muito diferente em Nassau, localizado nas ilhas do Caribe, de quando zarpou da Inglaterra. A sua clareza natural havia se tornado mais pálida devido aos enjoos da navegação e os seus cabelos mudaram de preto para um tom castanho-escuro por causa da insolação que pegara. Pelo visto não adiantou usar o chapéu de palha toda vez que saía da cabine, obteve os efeitos que um velho inglês branco teria ao passar muito tempo no sol. Perdera peso, sem dúvidas. Ao se olhar no espelho, que carrega no bolso, pequeno luxo presenteado por sua irmã, Kevin Evans pensou ter visto o reflexo do tio. Agora realmente parecia um Armstrong! Como seus irmãos.

Que decadência.

"Céus, homem, vá descansar primeiro." O capitão do navio aconselhou. "Está parecendo um náufrago."

"Prefiro acabar logo com o que vim fazer aqui."

"Vai levar o corpo nadando?" Perguntou e Kevin arqueou uma sobrancelha, quase cogitando a ideia. Seria menos enjoativo do que subir novamente em seu navio, pensou. "Essa velha fragata aqui não vai a lugar algum durante cinco dias. É melhor se pôr em primeiro!" Sendo um homem velho que passara por diversas situações estranhas e muita das vezes constrangedoras, o capitão Forbes tinha um voto de confiança. Kevin Evans resolveu então, lutando contra a vontade de finalizar logo a tarefa, seguir o conselho. Horas mais tarde poderia se arrepender de não prestar muita atenção na paisagem, principalmente por terem chegado em terra firme bem cedo, entretanto, o segundo pensamento que ele teve era de dormir um pouco em uma cama de verdade e não acordar, enjoado, com qualquer mínimo barulho que fosse.

Seguindo as instruções do capitão, desceu do porto em busca da Taverna. Com certeza havia um nome escondido ali, mas todas as pessoas do local se acostumaram a chamá-la assim, mesmo tendo diversas outras tavernas em Nassau.

As ruas largas não haviam encontrado a evolução do asfalto. Kevin Evans observou com cuidado como continuam com o chão de areia e pequena vegetação. Casas empilhadas umas nas outras parecendo prédios feitos às pressas, e de aparência mais leve, construídos com madeira. Nassau ainda está localizada em uma ilha, afinal. Não se deve esperar algo tão grandioso num lugar feito esse, na opinião do homem, muito menos achar que não teriam animais de consumo nas ruas - como galinhas. Por sorte foi rápido de encontrar o local desejado, ele tinha certeza que vomitaria se andasse um pouco mais. Encontrou a Taverna, intitulada, pela placa ao lado das escadas, de Taverna do Timothy. Ele compreendeu o motivo então da encurtada do nome. Kevin subiu apenas dois lances pequenos de escada, deparando-se com o bar, pensando como Timothy era um nome extenso e antiquado.

Delírio (I - Coleção Sangue Vil)Onde histórias criam vida. Descubra agora