Capítulo Nove - Cão

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"Aguardo ansiosamente pelo dia onde olhos não me verão e, assim, irei adentrar escondida para matá-lo. A rainha disse que não precisaremos esperar pelo nascer do Sol, e que a casa é sua. Logo entrará pela porta da frente."

(N.T.: Gostaria que não fosse assim. - B)


Existem criaturas bonitas neste mundo, eu percebi.

Algumas são uma mistura de doçura e inocência, já outras banhadas na perversão... que não merecem a beleza que têm. Bersek se encaixa na última frase, ela é ruim demais e, possivelmente, atrativa. Brat é dócil e amável, a sua irmã nada parecida, elas são o exemplo que me vem à cabeça por estarem mais próximas de mim do que o resto da nação. Eu não conheço muito daqui, o mais longe que já fui, foi hoje mesmo, na Taverna. Terríveis criaturas ao meu ver. O horário me deixa cansado, perdido, uso a pouca reserva de sanidade que tenho agora. Talvez por essa razão tenha vindo esse assunto em mente. A rainha... Rowan tem uma beleza peculiar, quase surreal, que sugere que ela possa enfiar uma faca no coração de alguém e continuar sorrindo. Os seus traços de rosto não são muito femininos, algo incomum para uma rainha. Por que falar sobre ela? Ela é intrigante e, mais ainda, eu estou vendo-a neste exato momento, furiosa, sentada de uma forma desleixada em seu trono - Usando um vestido branco, justo e sem mangas, pouco longo com rendas da mesma cor, com luvas longas da cor do pecado e uma coroa de rosas vermelhas. Elas ficam mais chamativas ainda por conta da cor escura dos longos cabelos que têm. Ela não irá se casar, embora o vestido que usa grite o contrário, e a espada que segura contra o chão sugere que matará algum súdito. Aquela sombra está ao seu lado, parada, imóvel, como se fosse parte da paisagem. Eu o temo com todas as forças, tanto por conta da sua aparência horrenda quanto por saber que não brinca em serviço.

Carpe noctem... Kevin Evans.

A porta dupla foi aberta com força, imaginei-a se despedaçando. Depois eu descobri que aquela não é a única porta para esse salão, tem uma outra aqui ao lado do trono, entreaberta, que dá para um dos corredores próximo a saída. Digo, se não me falha a memória. É como uma rota de fuga nada escondida. Estou sentado nos pequenos degraus próximo a Rowan, por pura falta do que fazer e curiosidade. Depois que eu contei o que vi, a rainha disse que daria um jeito e me agradeceu.

"Por que me chamou aqui?" Yilbegan pergunta, grosseiramente, ao entrar no salão. O nome de quem me lembro bem, pois os homens que agem de má fé nunca são esquecidos. Ele franziu a testa, olhando a rainha de cima a baixo. "Você nunca usa branco. Qual é o motivo da vez?"

Esse homem fala demais, Jesus!

"Tenho uma única pergunta e espero que seja sincero." Rowan ignorou as falas de Yilbegan, balançando rapidamente o ombro esquerdo. É percetível, ao encará-la, que não está para brincadeiras. "Em prol os velhos tempos."

"Fale, rainha." Demorou dois segundos para uma suposta tragédia acontecer, pois o cachorro foi rápido demais. Cão surgiu no salão trazendo metade da parede, próxima à Rainha, consigo. Levei um susto, quase pulei para frente, enquanto Rowan e sua sombra permaneceram imóveis, exceto por seus cabelos, que voaram imitando os blocos e vidros. A besta tem sede de sangue, deduzo ao ver seu olho de pupila dilatada, e procura a sua presa como um verdadeiro cachorro de caça. Quando viu Yilbegan a fúria aumentou, fazendo-o correr na direção do suposto homem tão rápido que me foi difícil de acompanhar com o olhar. Confesso ter achado graça, minimamente, pois estou ainda com o coração acelerado. Imaginei por um segundo que ele poderia fazer isso comigo. Yilbegan não conseguiu se defender da nova manobra de Cão, cujo pulou em sua direção de mãos juntas, batendo fortemente no chão. Yilbegan voou para longe, indo ao encontro da parede. A velocidade impressionante do hominum se revelou quando num segundo que o outro bateu na parede, o cachorro já estava lá, empurrando-o com sua grande mão para o centro do salão. Uma das unhas pegou bem na bochecha de Yilbegan, deixando um grande arranhão.

Delírio (I - Coleção Sangue Vil)Onde histórias criam vida. Descubra agora