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Querida Adelaine, Estou sentado na mesa da cozinha e não consigo parar de olhar para o local onde beijei você pela primeira vez, e isso me faz sentir culpado. Sou um covarde e, mesmo sabendo que deveria contar isso pessoalmente, acho que não seria capaz. Portanto, estou pegando o caminho mais fácil e estou escrevendo esta carta, apenas para você. Lamento que as coisas tenham que ser assim Addie, mas espero que você entenda que não posso mais ficar aqui em Avonlea. Esses quatro dias foram um tormento terrível, pois em todos os lugares que vou há uma lembrança de todas as coisas que perdi. Sinto-me preso em uma gaiola e não posso ser o cara que você merece desse jeito, e me recuso a lhe dar menos do que isso. Eu vou embora hoje. Vou trabalhar em um navio a vapor, com o objetivo de ver o mundo, e talvez encontrar meu verdadeiro caminho na vida. Não sei quando voltarei, ou se algum dia voltarei, mas lembre-se que uma pequena parte de mim, sempre estará apegada a você. Sinto muito mesmo, e espero que algum dia nos possamos ver novamente para continuar nossa história, se você quiser.
Com amor, Gilbert.
ADELAINE SUSPIROU ALTO, enquanto olhava o papel que tinha nas mãos, analisando cada centímetro dele. Era algo que lentamente se tornou parte de sua rotina. Todas as manhãs ela acordava e olhava para a gaveta onde guardara a carta até não poder mais resistir e andava em direção a ela com a esperança de que talvez, apenas talvez as palavras escritas mudassem.
Era estúpido da parte dela. As palavras não iriam mudar. Ela sabia a carta de cor e a recitava sem nem mesmo lê-la. Ela sabia que não devia se sentar e esperar que as coisas mudassem, quando não iriam.
Mais uma vez, Adelaine não era a mesma pessoa de um ano e meio atrás, quando se mudou para Avonlea. Se alguém voltasse ao passado para dizer a ela que em algum momento ela estaria sentada em seu quarto em uma pequena cidade, totalmente entregue aos sentimentos por um garoto, sua primeira reação seria uma grande risada.
Ela precisava controlar suas emoções. Ela precisava esquecer Gilbert Blythe e seu sorriso malicioso e olhos castanhos. Ela estava feliz, ela tinha seus amigos, Sam, até mesmo Ethan estava de volta em sua vida agora. Não adiantava ser masoquista, afinal ele não iria voltar.
Ou talvez sim.
As palavras de Ruby cruzaram sua mente. Ela queria escrever uma carta para ele? Ou, ela queria convencê-lo a voltar?
Porque ela não tinha tanta certeza desse último. Mesmo sabendo que contar a ele sobre o enigma do ouro era a coisa certa a fazer, por que tinha que ser ela? Muita gente se importava com ele, por que não eles não escrevem aquela carta idiota? E o que ela escreveria? Essas eram uma pequena parte das perguntas que assombravam Adelaine a cada segundo.
