Quando uma versão pequena e mais aventureira de Lyanna corria pela floresta, em busca de flores azuladas, e em busca de novas ervas para a mãe, a bruxinha pensava ouvir as árvores falando com ela, os galhos que ficavam próximos ao caminho que seus pequenos pés percorriam eram afastados por uma força delicada da natureza, a folhagem das árvores balançavam sempre em direção norte, mesmo que no sul vivessem. Se balançavam em direção ao campo repleto de brilhantes hortênsias.
A bruxinha passava suas tardes absorvendo o calor do sol junto às flores azuis, e sempre voltava para a casa com um buquê para sua mãe, pois na sua cabecinha vermelha, as flores lembravam um dos olhos da mãe, de um azul intenso, enquanto o outro era igual aos olhos de Lyanna, de um vinho inebriante. E também o fazia, por aquelas flores serem as preferidas de sua querida mama.
Lyanna voltava do campo sempre com uma pequena mancha de terra nas bochechas coradas, e sua mãe uma vez ou outra a repreendia por isso, mas nunca prendia o espírito selvagem da filha inquieta.
Lyanna dizia para a mãe que a floresta falava com ela toda a vez que saia correndo atrás de suas aventuras. Sua mãe lhe disse uma vez, que sim, a floresta falava, assim como outros seres nela, mas apenas pessoas especiais poderiam ouvir o seu poder e retornar com algo ainda maior. E sempre, sempre sorria para ela.Esses sorrisos aqueciam o coração de Lyanna quando criança, e ela sentia falta de mais desses sorrisos amorosos de sua mãe, ela sentia falta do amor. Porém sabia que esse sentimento continuaria com o espaço vazio em si, na verdade tinha certeza de que não fora destinada ao amor de alguém.
Lyanna se acostumou com isso.
E olhando para o ringue, para um Rhysand provocador e uma Feyre felina. Um Cassian selvagem e uma Nestha mais selvagem ainda. Ela sabia que aquelas pessoas eram dignas do conforto do amor, mesmo que demonstrassem esse amor por meio de socos e ocasionalmente um…— Seu grande imbecil, vou acabar com você.— Grunhiu Nestha.
— O seu esforço é comovente, querida.— Cassian falou com um sorriso ardiloso na face animalesca, suor cobria a sua testa e corpo. As tatuagens dos braços mais marcadas do que nunca.— Vamos, amorzinho. Me mostre do que é capaz de fa…
Antes de Cassian sequer completar a sua palavra, Nesta atacou as costelas do general com o bastão de ferro, Cassian tentou se esquivar para a esquerda, mas a ponta do bastão ainda se fez presente em sua pele, o fazendo se desequilibrar por um momento. Com um movimento perfeito, Cassian, também com um bastão, agachou rapidamente em um giro, e passou a arma contra as pernas de Nestha. Ela caiu sem nem ter tempo para pestanejar.
— Nunca mais vou te dar um bastão, me deixou com duas manchas roxas nas costelas, vai pagar por isso.— Cassian disse entre lábios, enquanto sua parceira se levantava. Os olhos do guerreiro passeando pelo corpo coberto pela armadura justa, e pelo rosto dela. Nestha soltou um muxoxo, logo depois lhe oferecendo um sorriso quase como um felídio para ele. Do outro lado de onde casal selvagem estava lutando, era possível ver os grão-senhores se enfrentando em uma luta mais elaborada, e Lyanna encostada contra uma parede rochosa, assistia tudo com muito afinco e com uma pitada de admiração. Enquanto Cassian e Nestha lutavam para derrubar um ao outro a qualquer custo, os movimentos do casal noturno se construíam como uma dança letal, as espadas nas mãos tilintavam suavemente, mas eram capazes de partir ossos sem hesitar. E assim se desenrolava o embate deles.
Lyanna não tinha a escolha de não assistir todas essas lutas. Depois de sair da casa dos ventos com um Rhysand espantado e um Azriel interiormente aliviado, o espião voou com ela até aquele ringue localizado
na única montanha banhada de verde entre outras ainda com um bom resquício de neve, e ela só conseguiu associar aquela anormalidade à magia, é claro, e logo após o pouso voltou aos céus . E agora ela estava lá, sozinha, encostada no pequeno chalé rochoso, sentada na grama, assistindo a golpes sendo desferidos.
Depois que passaram mais alguns minutos, Lyanna, já não tão pensativa, viu que os embates pararam, o suor brilhava pelos corpos dos machos e pelos rostos e pescoços das combatentes. Cassian e Nestha se dirigiram para dentro do chalé, Lyanna pensou ter escutado Nestha dizer: "Preciso tomar banho, estou suando como um porco" e Cassian responder: "Não insulte o porco, querida".
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Corte de sombras e verdade
FantasiaOito anos depois da grande guerra contra Hybern, um objeto mágico usado pela Feyre desapareceu da cela do entalhador de ossos. O espelho Uróboro. Sua ausência inesperada apenas mostra que está sendo amparado por mãos erradas, podendo ser usado para...