- Vamos filho, nós vamos perder o voo! - Escuto meu pai me chamando.
- Já vou pai, estou terminando de arrumar minhas coisas! - Respondo-o.
"Que belo dia pra perder o horário, logo hoje quando vamos nos mudar", penso comigo mesmo, enquanto coloco as últimas coisas dentro da mala. Quando finalmente termino e estou me colocando à porta para sair deste quarto pela última vez, olho para o meu criado mudo, que fica do lado da minha antiga cama, e prendo os olhos na foto que está sobre ele, é uma foto que tirei no meu aniversário de três anos atrás, nela reparo no meu melhor amigo, Dylan, e lembro dos bons momentos que tivemos, dos passeios no lago perto de casa, quando nós inventamos de subir na árvore mais alta do parque e tiveram que chamar os bombeiros pra tirar a gente de lá, o primeiro beijo de cada um ... Dessa cidade, a coisa que eu mais sentiria falta seria o meu melhor amigo, éramos inseparáveis, fazíamos tudo juntos, onde um ia, o outro ia atrás. De repente me encontro triste, parado ali olhando para aquela foto, pensando se conseguirei alguém tão bom quanto o Dylan na nova cidade. Acordo desse pensamento com a voz do meu pai me apressando para descer.
- Já vou pai! - respondo imediatamente.
Enquanto desço as escadas me lembro da minha mãe, lembro de quando ela ainda estava viva, que ela brincava comigo nessas escadas, as mesmas escadas que eu chorava quando era mais novo e ela vinha me dar carinho. Por que mãe? Por que você teve que partir tão cedo? Começo a chorar lembrando desses momentos, momentos antes daquele maldito acidente, que tirou ela de mim.
Quando chego do lado de fora da minha casa tenho uma surpresa, meus melhores amigos estão ali para se despedir de mim.
- O que é isso filho? Por que está chorando? - pergunta meu pai.
- Não é nada demais, caiu um cisco no meu olho enquanto descia as escadas!
- Que isso cara, não tem nenhum problema em chorar! -diz Dylan.
- Você está se despedindo de todas as suas lembranças, de toda a sua vida até agora, pelo que te conheço você deveria estar chorando mais. -Brinca Crys.
Então todos começamos a rir.
Enquanto meu pai chama o Uber para nos levar para o aeroporto eu tenho a minha última conversa com os meus melhores amigos, uma das melhores conversas que já tive. No final, damos um abraço coletivo e começamos a chorar todos juntos, até o meu pai que observava de longe chorou conosco.
- Promete que vai vir nos visitar nas férias? -Pergunta Dylan com uma voz de choro.
- Que se dane, se ele não puder vir, eu é que vou para Center Ville te visitar. - Retruca Crys.
- Você está certa! Se for o caso, eu vou junto com você Crys.
- Eu vou fazer o possível e até impossível para vim ver vocês, eu prometo! - Assim que terminei essa frase o Uber chegou.
- Vamos filho! Está na hora de irmos! -Diz meu pai.
- Até mais galera, a gente se vê no verão!
- Tchau Noah! -Diz Dylan em um tom mais marrento, forçando-se para não chorar
- Tchauuu Noah! -Diz Crys de um jeito mais fofinho, mas também forçando para não chorar.
Finalmente entro no Uber, com lágrimas nos olhos, e lembro dos momentos que tive junto com os meus melhores amigos, todas as vezes que íamos para a coordenação da escola juntos por causa das nossas brincadeirinhas, dos rolês que dávamos nos sábados à noite, das vezes que voltávamos tarde pra casa e nossos pais brigavam com a gente. Mesmo depois de tanto tempo, tenho ótimas lembranças de todas as nossas aventuras. E entre esse passeio pelas minhas memórias, lembro novamente da minha mãe, o jeito que ela nos defendia perante os outros pais, dizendo que éramos apenas crianças e que estávamos nos divertindo. Sempre que eu lembro dela sinto uma dor horrível no peito, como se mais nada fizesse sentido. Quando acordo dos meus pensamentos percebo que já estamos perto do aeroporto.
- Não se preocupe meu filho, teremos uma boa vida em Center Ville. - Diz meu pai, parecendo querer encorajar a si próprio.
- É claro que sim! Nossa vida vai ser incrível pai! -Digo quase gritando, querendo anima-lo um pouco.
Ele me olha de um jeito que renova minha alma, um olhar confiante, que pode dizer mais do que mil palavras. Percebo que chegamos ao aeroporto, descemos do carro e levamos nossas malas para serem despachadas, e logo vamos para a sala de embarque. Logo estamos dentro do avião em direção a Center Ville, logo adormeço, e depois de algumas horas acordo com o meu pai me sacudindo.
- Olhe filho, essa é Center Ville! -Diz meu pai com uma empolgação contagiante.
A princípio não parece ser grande coisa, é uma cidade pequena, com casas comuns, facilmente encontradas em subúrbios americanos, oque mais me chamou a atenção foi um lago cercado por uma floresta bem fechada. E nesse momento começo a pensar como seria minha vida dali pra frente, uma vida comum, será?
"Essa era uma dúvida que me atordoou constantemente."
VOCÊ ESTÁ LENDO
Center Ville: O despertar
Mystery / ThrillerA História se passa em torno de um garoto chamado Noah, que se muda junto com seu pai de Nova York para uma cidadezinha chamada Center Ville, que fica no interior o estado de Nova York. Nessa nova cidade, ele pretendia viver uma vida comum e neutra...