Capricórnio - Parte cinco

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Irritação

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Irritação. Penso, que de todas as palavras que conheço, é a que melhor pode descrever o que sentia, ao ver aquela maravilhosa sobremesa derreter, mesmo à minha frente. Pensei várias vezes em degustar a beldade, ignorando a presença do estranho miúdo ao meu lado. Mas não me sentia bem, não posso fazer nada. Fui educado de uma maneira pouco convencional, para não dizer outra coisa. Sabem aqueles momentos em que conhecem alguém novo, mas não sabem o que dizer, tornando a ocasião num verdadeiro espetáculo constrangedor? Foi o caso, e como sempre, tive que ser eu a desbloquear a conversa.

Então Nelys, que idade tens? Perguntei, fingindo-me interessado. A meu ver, perguntar a idade a alguém, é um bom início de conversa. A não ser que seja uma senhora, pois segundo a boa educação, nunca se deve perguntar a idade a uma senhora. Apesar de pouco convencional, a minha mãe educou-me bem.

Dezenove. Respondeu, num tom monocórdico, que mal consegui ouvir. Aguardei que retribuísse a gentileza, olhando, expectante, para ele, mas nada aconteceu. Fixava os meus olhos como um cãozinho abandonado que tinha perdido a mãe.

Está bem... Cortei o silêncio, de maneira irónica. Não és um bocado novo para seres o meu professor?

Em magia não. Tenho muito mais experiência que tu. Respondeu, no que parecia, um tom ríspido. Mas não podia ter a certeza, tal era o baixo volume da sua voz. Estava a ficar com medo de adormecer durante aquela conversa.

Visto que não tenho nenhuma experiência, não é difícil. Atirei, batendo palmas suavemente. Sentia, cada vez mais, que isto não ia correr bem. És o Campeão do Leão? Perguntei, curioso, estudando a sua enorme tatuagem no pescoço.

Achas que ias encontrar um Campeão assim tão facilmente? Questionou, contorcendo a cara. Sou um feiticeiro normal, que nasceu sob a proteção do signo de Leão.

Não devia ser um Capricórnio a treinar-me? Perguntei, confuso. Afinal de contas, tenho que aprender a agir como um.

Nesta fase, o mais importante é aprenderes o básico. E para isso, precisas de alguém que domine bem os quatro elementos, de forma a ensinar-te o máximo de feitiços possíveis. Informou, olhando para a janela da loja, na direção da rua. Desde que chegara, tirando a vez que me olhou nos olhos, evitava sempre o contacto visual. Indivíduo estranho. Pensei.

E esse alguém és tu. Afirmei, tendo um aceno como resposta. Diz-me, qual é o teu elemento principal? Perguntei, debruçando-me sobre o rapaz, que imediatamente se afastou. Devo ter lepra.

Fogo.

Vês? Isso é um elemento mega porreiro. Porque é que o meu tem que ser terra? Brinquei, em jeito de lamento, tentando animar a estátua que era Nelys. Ora adivinhem lá, continuou com a expressão de uma estátua!

As (Des)aventuras do (Não) HeróiOnde histórias criam vida. Descubra agora