Aquário - Parte quatro

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Devem ter passado, sensivelmente, quinze minutos, mais coisa menos coisa, mas posso dizer-vos, pareceram duas horas

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Devem ter passado, sensivelmente, quinze minutos, mais coisa menos coisa, mas posso dizer-vos, pareceram duas horas. Acham exagero? Então experimentem caminhar por uma rua abandonada, completamente escurecida pelo breu da magia negra, com um bando de magos incríveis atrás de vocês. Garanto que não vão achar piada. Eu cá não achei, e olhem que até tenho um bom sentido de humor, segundo dizem. Nunca tive muito medo do escuro, encontrando mesmo, por vezes, um encanto sublime no seu silêncio, sentindo-me envolvido e aconchegado. Agora, percebo as fobias de todas as tristes almas fustigadas pelos seus terrores, arrepiando-me só de ver uma luz ser apagada. É nestas alturas que percebemos o verdadeiro encanto da ignorância, pois, como dizem, o que os olhos não veem, o coração não sente.

Enquanto os nossos passos pautavam o silêncio macabro, algo de diferente captou a nossa atenção. O ruído produzido pelos seis pés, estava agora menos vigoroso, faltando alguma peça essencial para o ritmo perfeito daquela melodia. Troquei um olhar preocupado com Cleo, tentando avaliar tudo à minha volta. Para nossa surpresa, Nelys já não se encontrava ao seu lado, tendo desaparecido, algures, na imensidão da escuridão.

Nelys! Chamou Cleo, sem aumentar muito o tom da voz. Tínhamos que ter cuidado em não revelar a nossa posição.

Nelys! Onde estás? Tentei, também, a minha sorte, sem grande sucesso. Como resposta, apenas obtivemos o silêncio ensurdecedor do local. Ele não ia, pura e simplesmente, abandonar-nos. Afirmei, convicto. Pois não? Afinal, não estava tão convicto. Para minha defesa, não o conhecia muito bem e, no fundo, não gostava dele, o que, na verdade, não é lá grande defesa.

Claro que não. Alguém o apanhou. Afirmou, preocupada. Mesmo inquieta, a sua beleza era algo de admirar. A luz alaranjada da sua magia ardente, projetava um tom de mel na sua já escurecida pele, aumentando, ainda mais, o contraste com o cabelo esbranquiçado.

O que fazemos? Questionei, sentindo o meu medo aumentar exponencialmente. Sinceramente, já esperava que tal coisa acontecesse, mas uma coisa é prever, outra é viver.

Temos que o procurar. Vamos voltar alguns metros para trás. Sugeriu Cleo, dando meia volta.

Quem te garante que ele está atrás?

É o que faz mais sentido.

Sem responder, acenei com a cabeça, seguindo-a imediatamente. Para mim, não era o que fazia mais sentido, porque, bem vistas as coisas, nada fazia sentido.

Porque é que o Nelys não gosta de mim? Perguntei, cortando o silêncio.

Ele não tem nada contra ti. É um bocado frio, mas no fundo é um bom rapaz. Assegurou, soltando-me um sorriso.

Não precisas de o defender, eu sei que ele não gosta de mim. Já vi como me olha e como me fala.

Ele tem uma personalidade difícil, e mesmo eu, não me dou muito bem com ele, mas se tivesse que adivinhar, diria que era por causa do Otávio. Concluiu, pensativa.

As (Des)aventuras do (Não) HeróiOnde histórias criam vida. Descubra agora