Aquário - Parte seis

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Podia, muito bem, vir para aqui armar-me em carapau de corrida, e dizer que o treino estava a correr às mil maravilhas

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Podia, muito bem, vir para aqui armar-me em carapau de corrida, e dizer que o treino estava a correr às mil maravilhas. Podia dizer o quão macho latino eu sou, daqueles com bastante pelo no peito, capazes de parar o trânsito com a sua masculinidade. Poder podia, mas como sou um tipo às direitas, gosto de contar a verdade, pautando-me por um código moral exímio e incontestável, às vezes, vá. Com base no que acabei de escrever, sinto-me na obrigação de proferir o que me vai na alma, por mais vergonhoso que isso seja. Quando pedi à rabugenta da Louise para me treinar, confesso que imaginava aquelas baboseiras zen de encontrar o meu equilíbrio, e por aí fora, sentado no conforto de um colchão de yoga. Para minha surpresa, não foi bem isso que aconteceu.

Para começar, colocou-me num regime de exercícios físicos, com a desculpa que necessitava de preparar o meu corpo para receber a magia. Quando digo exercícios físicos, é mesmo o que estão a pensar. Não é que ela me pôs a fazer flexões e abdominais? Na altura da escola, energizado pelo vigor da juventude, mal me conseguia desenrascar, passando à disciplina sempre por um triz, por isso, imaginem agora, com o peso da idade a aparecer. É que já nem tenho muito cabelo. Ainda a tentei demover da ideia absurda, dizendo que tinha a coordenação de um babuíno embriagado, mas não resultou. Quando dei por mim, estava suado que nem um porco, quase a cuspir o almoço fajuto que tinha ingerido, horas antes. Pelos menos, já tinha conseguido comer, vitória! Ainda fui ao YouTube, colocar a música Eye Of The Tiger, dos Survivor, para ver se me inspirava a malhar tudo de mim, tal como o grande pugilista fictício, Rocky Balboa. Infelizmente, não foi o caso. Nelys desligou imediatamente o som, alegando não gostar de rock. É uma fuinha, que se há de fazer?

Em boa verdade, dois dias passaram, e nem um vislumbre tive da magia, propriamente dita. Começava a ficar mesmo desagradado, prestes a partilhar as minhas preocupações com Louise, quando uma luz brilhou ao fundo do túnel.

Senta-te. Ordenou, com o seu jeito suave, tal e qual um tornado.

Onde? Indaguei, olhando para o espaço à minha volta. Por medo de colocar os seus companheiros em perigo, Louise pediu para que ficássemos no armazém sinistro onde acordei, depois da minha fraqueza.

No chão! Tens alergia ao pó? Provocou, com uma sobrancelha arqueada.

Não. Afirmei. Alergia não tinha, mas não era lá muito higiênico, afinal de contas, ratos e ratazanas perambulavam por ali. A custo, lá me sentei, tentando limpar a sujidade com um papel.

Deves ter sido um Príncipe, noutra vida. Atirou, em jeito irônico.

Porque dizes isso? Pela minha voz assertiva e charmosa? Provoquei, ligeiramente convencido.

Quando decidires acabar de brincar, avisa. Agora, o seu rosto estava mais carregado. É bipolar, o raio da mulher. Pensei, numa lamúria desesperante.

O que tenho de fazer?

Tenta explicar-me, da melhor forma que conseguires, o que sentes quando experiencias a magia. Pediu, encarando-me com os seus óculos de sol.

As (Des)aventuras do (Não) HeróiOnde histórias criam vida. Descubra agora