Para quem não sabe, a viagem até ao Japão é bastante longa e aborrecida. Tem uma duração de cerca de vinte horas, escolhendo bem o voo, e faz, nem mais nem menos, duas escalas distintas. Resumindo, é muito tempo num sítio fechado com o meu novo amigo, que de divertido, não tem nada, como já devem ter reparado até agora. Ainda tinha esperança de ir ao lado da nossa nova companheira de aventuras, Cleópatra, possibilidade que foi prontamente rejeitada por Nelys. Segundo ele, tenho que estar sempre no seu campo de visão, de forma a proteger-me e orientar-me, começo a pensar que é um bocado obsessivo. Outro fator, nada pequeno, que dificultou o desenrolar dos acontecimentos, é o meu medo aterrador de voar. Acreditem, se eu fosse um pássaro, era como a galinha, que tem penas e asas, mas não voa. As poucas vezes que andei de avião, tomei comprimidos para me relaxar um bocado, mas com a confusão toda desta aventura, não trouxe nada comigo.
A primeira escala era em Paris, o único sítio que já tinha visitado em toda a minha vida, fora o meu país, o que me deixou mais confiante, ainda que ligeiramente desiludido. Queria aproveitar todas as oportunidades para conhecer lugares e pessoas novas, fugindo da rotina que sempre me perseguiu. O tempo estimado até à Cidade do Amor, era de duas horas e meia, o que, até nem é muito, se estivessem na companhia de alguém do vosso agrado. Não estando, como foi o meu caso, duas horas tendem a parecer vinte. Ainda tive a ousadia de pensar que iríamos voar em primeira classe, porque, afinal, íamos numa missão oficial de salvar o mundo. Para meu desapontamento, o Deus Capricórnio aparenta ser forreta, arranjando-nos bilhetes em classe econômica.
Não havia bilhetes para a primeira classe? Perguntei a Nelys, quebrando o silêncio habitual. Tive que mexer as minhas pernas diversas vezes, até encontrar uma posição confortável naquele espaço diminuto.
Pensas que isto é o quê? O jato do Barcelona? Perguntou Nelys, com a sua arrogância normal. Se querias ir em primeira classe, comprasses tu. Atirou, olhando para mim de soslaio. E já que falas nisso, estás-me a dever oitocentos euros.
O quê? Cuspi as palavras, quando me preparava para chamar a assistente. De quê?
Do bilhete, de que haveria de ser? Indagou, com aquela expressão de superioridade.
Tenho que ser eu a pagar?
Querias que fosse eu? Não sou teu pai.
Pensei que fosse tudo incluído na função. Admiti, fazendo contas às minhas poupanças.
Isto não é uma empresa. E tu não és um funcionário, és o Campeão de Capricórnio, por isso, age como tal. Encerrou, abrindo um folheto publicitário.
Tinha que repensar toda a minha aventura, que pelos vistos, iria ficar muito cara. Esta gente devia pensar que eu era um magnata do petróleo, e, que, ao estalar os dedos, uma corrente de notas viria ter comigo, um pouco como nos desenhos animados. Infelizmente, a vida não é assim, e para pagar as contas que tenho, preciso de trabalhar e ganhar dinheiro, como o comum dos mortais. Acabei por não chamar a funcionária, pois tinha que começar a poupar, se não queria ir à falência.
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As (Des)aventuras do (Não) Herói
FantasiaO que têm em comum um simples Engenheiro Informático divorciado, um mundo mágico desconhecido, deuses vingativos e um possível apocalipse? Aparentemente nada, mas como devem saber, as aparências tendem a iludir. Quando quatro Deuses decidem colocar...