A luz clara da manhã invadia minha casa aos poucos, talvez já fosse umas cinco horas da manhã, talvez o sol estivesse adiantado ou ansioso, ou talvez eu tivesse passado a noite inteira acordado pensando sobre o dia anterior.
Ao menos tive disposição para levantar e correr, torcia para que Rose tivesse tido uma noite melhor que a minha e que estivesse dormindo até agora, se não, ela ficaria sozinha no meio das montanhas... Não que eu pense que ela se importaria muito, mas é perigoso né... Enfim...Eu nunca tinha gostado de alguém dessa forma antes, tipo, essas coisas que você lê em livros, amor eterno, alma gêmea e destino. O único amor que eu lembro de sentir é pelos clareanos, vivemos juntos por anos, é claro que eu os amo. Mas parece diferente agora, com Rosie é diferente, e eu me sinto como uma criança descobrindo novas cores para pintar ou um velhinho que começou a usar seus óculos de grau pela primeira vez, e pra ser sincero, eu não faço idéia do que fazer com esse emaranhado de sentimentos que me enchem agora, talvez eu pudesse tentar me fingir de doente e passar o dia todo deitado, ou talvez eu devesse esquecer o meu orgulho e ego por um minuto para conversar com alguém que entenda melhor desse assunto do que eu...
A única conclusão que eu cheguei com meus próprios pensamentos é que a partir daqui, minha vida poderia estar cheia de "talvez".
[...]
Entrei na nossa cantina esperando não encontrar muita gente, minha cabeça latejava e eu sentia meu corpo meio mole, eu não saberia responder se seria por causa da fome ou por causa do sono, TALVEZ fossem os dois.
Olhei o lugar de forma panorâmica observando algumas pessoas já sentadas comendo e conversando, no geral estava tudo bastante calmo e sem nenhuma bagunça, agradeci mentalmente e segui em direção a cozinha, com esperança de escontrar Caçarola no meio de suas ervas, sentia como se nesse momento, ele fosse o único que poderia me salvar da grande plong que eu tinha me metido.
Entrei na cozinha e a primeira coisa que eu vi foi meu amigo, ele parecia concentrado em esmagar os grãos de café que estavam em cima da mesa, suspirei aliviado e puxei uma espécie de banco para me sentar, isso chamou a atenção dele que me olhou assustado.
- Credo, assombração! - Caçarola disse colocando as mãos no peito como se tivesse passando mal. - Bom dia Minho! Parece que um caminhão te atropelou! - O garoto me olhava como se quisesse me decifrar, foi até as prateleiras e pegou uma das inúmeras canecas que nós tínhamos, colocou um pouco do café que já estava pronto e me deu.
- Obrigado Fryp, se você não me falasse, eu nem perceberia. - Debochei da fala do garoto e tomei um gole do café que havia recebido a alguns minutos atrás, o líquido me esquentava de dentro para fora e eu quase pude sentir minha alma voltando de volta para o meu corpo.
Caçarola me observava, ele sempre foi meio analista, prestando atenção sobre cada passo que nós dávamos e sempre sendo o cara que todos podiamos contar a qualquer momento.
Fryp encostou na bancada atrás de si e cruzou os braços. - Por acaso essa sua cara de mértila esmagado é por causa de uma certa loira? - Me lançou um sorriso cínico e uma arqueada de sobrancelha, por um momento me arrependi de ter ido procura-lo.
Bebi mais um gole do café, torcendo para que magicamente se tornasse algum tipo de bebida alcoólica, quem sabe assim, eu criasse coragem pra falar desse assunto sem sentir vontade de surtar toda vez.
- Talvez... Fryp, essa conversa não pode dair daqui me entendeu!? Estou desesperado sinto que meu coração vai sair pela boca! Odeio situações que eu não posso controlar! - Falei tudo de uma vez enquanto gesticulava com a mão que não segurava o café. Eu realmente odeio esses momentos onde eu me sinto vulnerável emocionalmente.
Meu amigo soltou uma risada baixa e procurou mais um dos banquinhos, ele sentou de frente para mim e sorriu. - Minho você era o maior corredor da clareira, infrentou um monte de cranks e fugiu de um prédio com centenas de pessoas querendo te matar! Não acredito que está assim por causa de sentimentos amorosos. - Ele falou de forma calma, Fryp não queria me alfinetar, mas ele estava certo. Parecia idiota estar me sentindo tão estranho e incomodado após tudo que passamos para chegar até aqui.
- Fui ensinado a correr para salvar minha vida e a dos outros, mas eu não lembro de terem me ensinado a lidar com "amor", e se ela não gostar de mim? E se eu a magoar? E se nossa amizade se desgastar? Tantas coisas podem dar errado que eu nem sei dizer! - Me sentia desconfortável expondo assim tudo que eu sentia, mas se não o fizesse, não saberia lidar com isso sozinho.
Caçarola botou a mão no meu ombro e sorriu. - Você tem razão amigo, ninguém te ensinou sobre isso, eu não acho que esse tipo de coisa se aprenda com explicações, é natural eu acho... Rose pode se sentir tão perdida quanto você, não adianta pensar nos "e se" se você nem ao menos tentou falar com ela ainda, ahm... - Fryp parecia tão perdido quanto eu, não acho que ele já teria passado por essa experiência, e se passou, ele disfarça muito bem. - Pare de se martilizar antes de que algo realmente aconteça, se você estiver realmente "apaixonado" uma hora você vai ter certeza que é real e que é recíproco porque claramente é, todos percebemos o jeito que vocês se olham. - Ele falou como se fosse algo óbvio - Você vai ter que decidir se vai continuar descobrindo o "lance" de vocês, ou se vai ficar igual um panaca com cara de morto pelos cantos! - Caçarola parecia ter finalizado, ele levantou do banquinho e voltou a mexer com seus grãos. Ele estava certo, eu tinha que decidir se iria continuar tentando ou morrer na praia.
Eu já tinha tido a infeliz chance de morrer outras vezes, não me parecia aceitável largar de mão alguem que realmente me faz feliz e traz o melhor de mim.
Fiquei uns minutos preso nos meus próprios devaneios e então decidi que eu tentaria! Eu queria ficar com Rose, e queria que ela me ensinasse como agir quanto a tudo isso, e se ela precisasse, eu a ensinaria, e assim nós aprenderiamos sobre esse sentimento novo juntos.
Mas antes eu precisava dormir, se não eu iria desmaiar em cima de alguém.
Devolvi a caneca agora vazia para Fryp e me despedi dele, sai da cozinha e fui em direção à minha casa. Só algumas horinhas de sono e então estaria pronto para qualquer coisa!
[...]
Acordei novamente na esperança que tudo tivesse sido um sonho, assim conseguiria olhar na cara de Fryp sem querer rir muito da minha própria situação ou morrer de vergonha do meu drama adolescente, eu espero muito que ele não conte nada a ninguém.
Decidi tomar um banho e fazer minhas higienes para pelo menos enfrentar oque vem agora cheiroso né, é o mínimo.Assim que terminei, sai de casa e a essas horas, o nosso pátio improvisado já estava cheio; umas crianças correndo, pessoas fazendo suas tarefas, construindo coisas e vivendo suas vidas de forma pacata.
Queria procurar a Rose, para explicar o motivo de não ter aparecido para nossa caminhada matinal, mas eu não fazia ideia de onde a loira poderia estar, Rosie é imprevisível, é uma das coisas que mais gosto nela...
Enquanto caminhava por nossa comunidade, passei por Sonya e perguntei sobre sua amiga, Sonya me disse que ela havia saído cedo como sempre e que deveria estar perto das montanhas, assenti e fui caminhando para o lugar onde eu a vi pela primeira vez...
Dessa vez eu sabia que iria encontrar a garota loira sentindo o vento nos cabelos, que parecia conversar com a natureza e saber todos meus pensamentos.... O problema é que agora todos meus pensamentos eram sobre ela.
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𝑷𝑨𝑪𝑰𝑭𝑰𝑪 𝑩𝑳𝑼𝑬 𝑬𝒀𝑬𝑺 | MINHO
FanfictionApós toda aquela loucura de labirintos, curas e cranks, nunca achei que seria possível sentir um vestígio de paz novamente... Até que encontrei aqueles lindos e pacíficos olhos azuis...