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𝗖𝗵𝗮𝗽𝘁𝗲𝗿 11

Scarlett estava retraída durante a caminhada de volta até o Model S branco. Diversas vezes Chris a viu massagear as têmporas, mas quando perguntou se ela estava com dor de cabeça a resposta foi um resmungo ininteligível. Talvez ela não estivesse falando por causa do beijo, mas aquilo não parecia ser do seu feitio.

Bom, ela era do tipo que ia embora sem avisar. Ouvir Sebastian dizer que Scarlett queria pegar um táxi sozinha foi como um soco no estômago de Chris. Lembrava-o do abandono do próprio pai, que o deixara com um problema gigantesco para resolver. Já Scarlett ia deixá-lo com a chave do carro e o cartão de crédito dela. Quem faria uma coisa dessas?

Chris achava que não merecia aquilo. Em ambos os casos.

Tentara evitar que uma antiga cliente fizesse um escândalo na frente de Scarlett. Aliza era chegada em um drama. Enfim tinha se divorciado do marido milionário e queria Chris só para si. Estava disposta a pagar o que fosse preciso.

Ela se recusava a admitir que Chris preferia pisar em brasas a aceitar aquilo. Insistiu por vários minutos, citando cifras extravagantes uma após a outra, e então simplesmente o beijou.

Chris sempre associaria o gosto de chiclete de canela, cigarro e uísque a Aliza.

Já Scarlett tinha gosto de... sorvete de menta com gotas de chocolate.

Eles entraram no carro dela, que acionou o aquecedor de assentos, se afundou no encosto, apoiou a cabeça e ficou olhando pela janela, batucando nos joelhos distraída. Chris ligou o rádio para quebrar o silêncio, mas Scarlett o desligou de imediato e logo recomeçou a batucar. Era um movimento hipnótico, um pouco irritante.

Chris lhe lançou um olhar incomodado, mas ela nem percebeu.

Depois de saírem da cidade e entrarem no tráfego iluminado da 101S, ele cansou de se segurar e perguntou:

— Quando você faz isso com os dedos... é uma música? Como se tocasse um piano?

Ela interrompeu o movimento e sentou sobre as mãos.

— É o Arabesque, de Debussy. Gosto muito da combinação de quiálteras e oitavas.
— Então você sabe tocar?

Quando fora encontrá-la na casa dela, no centro de Palo Alto, tinha sido impossível não notar o piano de cauda que dominava a sala quase vazia. Se ela tivesse talentos artísticos além de inteligência, sucesso profissional e beleza, seria oficialmente a encarnação da mulher de seus sonhos. E tão fora de seu alcance que chegava a ser risível.

O peso das merdas feitas por seu pai ainda não havia recaído sobre ele, mas Chris não tinha quase nada a oferecer a uma garota como Scarlett. Só seu rosto e seu corpo, mas aquilo qualquer uma com algum dinheiro podia ter. Talvez Scarlett tivesse se atraído por quem ele era antes, alguém que podia se dedicar a suas paixões. Aquele cara tinha potencial. Chris quase não se reconhecia mais.

— Sei — respondeu Scarlett — Comecei a tocar antes de aprender a falar.

Ele ergueu as sobrancelhas. Além de ser a mulher dos seus sonhos, ela também era uma espécie de Mozart.

— Não é tão impressionante quanto parece — Scarlett comentou com um sorriso ácido — Demorei para começar a falar.
— Não consigo imaginar uma coisa dessas. Você parece perfeita.

Ela baixou a cabeça e soltou o ar com força. Chris perguntou qual era o problema, mas uma minivan lenta à sua frente chamou a sua atenção. Ele mudou de faixa e pisou fundo, numa ultrapassagem silenciosa. Adorava carros potentes.

𝐃𝐈𝐒𝐂𝐎𝐕𝐄𝐑𝐈𝐍𝐆 𝐋𝐎𝐕𝐄 | ✓ Onde histórias criam vida. Descubra agora