Coração bandido

A liga dos vilões

    Acordei com uma dor de cabeça horrível, completamente desorientada. Primeiro fiquei confusa por abrir os olhos e não encontrar as paredes brancas do meu quarto como de costume, mas sim paredes pintadas de preto, com a tintura descascando. Estava em um quarto iluminado só por algumas velas fracas que estava praticamente vazio a não ser por minha cama e um guarda roupa pequeno.

   Eu tentei me levantar mas senti uma resistência, olhei pro meu pulso esquerdo e lá estava uma algema, me prendendo à cama. Não era uma algema comum, ao invés de ser prateada e de metal como quase todas as algemas, essa era branca e parecia feita de pedra.

    Aos poucos eu fui conseguindo lembrar do que tinha acontecido na noite anterior. Do alarme sendo acionado, do nosso encontro com Deku e por último de Denki. Que traidor desgraçado, a quanto tempo será que ele trabalha com a liga dos vilões? Messes? Anos? Vai saber quanta informação ele já não passou pra eles.

   Eu me sentei de lado, de um jeito que a algema não me machucasse e fiquei ali só com meus pensamentos, tentando entender alguma coisa. O que será que eles queriam comigo em? Não querem me matar, por que se não já teriam feito. Denki me pegou tão de surpresa que se ele me matasse ontem aquela hora ninguém ia ter notado.

???— Ela acordou!- ouvi uma voz feminina dizer do outro lado da porta- posso conhecer ela?? Por favor, por favor, por favor...

   Uma voz grave respondeu ela, e essa eu conhecia muito bem.

Denki— Daqui a pouco, aquieta o facho menina- ele e aquela voz riram- deixa eu ver como ela está primeiro.

   Dizendo isso eu ouvi o barulho de chaves na porta, e logo em seguida ela abriu. Kaminari colocou primeiro o rosto dentro do quarto, procurando meus olhos. Ele estava diferente, normalmente ele tinha uma expressão inocente no rosto, mas ela tinha sumido.

Denki—Bom dia, bela adormecida- ele se aproximou e sentou na beirada da cama, enquanto eu permaneci em silêncio- Que foi? Tá em choque?- ele riu, e confesso que me segurei pra não rir do trocadilho ridículo também- e essa sua cabeça como que tá, em?

    Ele colocou a mão na minha testa, medindo minha temperatura. Eu segurei seu pulso com a mão direita, que não estava presa na cama, e tirei ela do meu rosto.

S/n— Não encosta em mim- eu apertei seu braço- seu traidor de merda.

Denki— Ai S/n, quanto drama- ele disse tirando o braço da minha mão- eu já era vilão muito antes de você me conhecer, ok? Não leva pro pessoal, é só uma questão de...princípios.

S/n— Que princípios, Kaminari?? -disse indignada- roubar, matar e mentir?? Mas que merda!

   Ele ficou mais sério.

Denki— Você não sabe de nada, menina- ele disse segurando meu rosto num movimento brusco com a mão direita- acha que o mundo se divide entre o bem e o mau? Os mocinhos e os vilões? Parece uma criança. A maioria daqueles filhos da puta que se chamam de herói são tão horríveis quanto a gente, meu amor. Todo mundo é podre por dentro, mas só nós levamos a culpa, óbvio - disse isso soltando meu rosto e se levantando- mas isso você ainda vai entender.

    Ele tirou uma chave pequena do bolso, e começou a soltar a parte da algema que estava presa na cama. Denki segurou meu pulso e enrolou a corrente dele, prendendo a ponta da algema no mesmo braço que a outra. Parecia uma pulseira.

S/n— E como isso me impede de te matar?- debochei.

   Ele só sorriu com o canto da boca e foi em direção a porta.

Denki— Essas não são algemas normais, gatinha, no seu material tem o sangue de uma pessoa que tinha uma individualidade que anulava as outras, não sei se conheceu um tal de Eraserhead. Enfim, não vai conseguir usar sua individualidade em ninguém aqui - ele segurou a porta aberta- Ainda vai querer tentar me matar?