Capítulo 23

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REINÍCIO

  Matt deita sobre meus pés enquanto escovo os dentes em frente ao espelho, ao mesmo tempo que molho a outra mão e ajeito alguns fios revoltados do cabelo.

— Tem certeza que não quer que eu vá? — Mamãe pergunta da porta, encostada no batente e estalando os dedos para atrair a atenção de Matt, que levanta e vai em sua direção, balançando o rabo com animação.

  — Tenho — respondo depois de cuspir e enxaguar a boca. — Cuide de seus hóspedes. — Aponto para o corredor atrás dela, de onde é possível ouvir a TV ligada e a voz de Tobias.

  — Mãe, cadê meu carregador? — Ele enfia  a cabeça no corredor.

  — Como você vivia sem mim? — Mamãe sai do banheiro e segue sua voz, com Matt logo atrás.

Fico mais um tempo ali, sozinho, tentando conter minha crescente inquietação ao que aconteceria mais tarde, o inevitável encontro. O favor que Tobias pediu era simples e ao mesmo tempo complicado, e admito que concordei sem pestanejar, porque realmente precisava disso no fim das contas. Cuide de você! ele disse em meus braços, dando um tapinha em meu ombro para enfatizar. Quando Jorge e dona Lurdes chegaram na casa, ou que restara dela, vi a preocupação em seus rostos e o profundo alívio pela única vítima ter sido a casa, agora reduzida a paredes chamuscadas e móveis transformados em pilhas de destroços salpicados de cinzas.

Vizinhos observavam de suas portas e janelas enquanto Jorge conversava com a equipe de bombeiros e mamãe abraçava a mim e Tobias desesperadamente. Eu estava em estado maníaco, sabia disso muito bem, também tinha ciência de que se estivesse me tratando muitas coisas poderiam ter sido evitadas. Portanto, quando mamãe enfim nos soltou, acenei para meu irmão e ele entendeu. Estava na hora de dar outra chance a mim mesmo.

Atravesso a sala e cato as chaves do carro de minha mãe — o meu ainda está na agência e só Deus sabe quando vou buscá-lo — e passo por Jorge, debruçado sobre a mesa de jantar na sala, o plib mostrando os classificados de imóveis no jornal. Ele havia recusado, a princípio, a oferta de minha mãe, que pediu que ele viesse morar conosco na casa dela “ como sempre deveria ter sido ”, só depois de muita insistência por parte dela ele aceitou por fim.

Agacho para amarrar os cadarços e o ouço dizer:

— Se sentiu melhor? — Ergo o olhar e franzo a testa. — Quando incendiou a casa?

Não há acusação em seu tom, nem raiva, só a curiosidade. Dou de ombros e levanto, caminho até a porta e só respondo quando coloco o primeiro pé para fora:

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