Capítulo 6

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NO LIMITE

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NO LIMITE

   Tento, a todo instante enquanto dirijo pela estrada vazia, ligar o rádio, mas meu plib não se conecta ao carro e sempre que tento mais uma vez um apito curto e alto ecoa. Desisto. Estou dirigindo há muito tempo e não há ninguém nas ruas, nenhum pedestre, nenhum carro. Ninguém.

Aperto o volante com força e piso com tudo no acelerador. Sigo direto, sem fazer curvas, sem me importar com o sinal fechado. A janela aberta e a alta velocidade fazem um vento forte balançar meu cabelo e traz consigo o cheiro do anoitecer, uma mistura de umidade e clorofila. É como se eu estivesse voando. É como se eu estivesse livre.

Uma risada amarga me escapa, não consigo parar de sorrir. Não penso em Alana machucada, não penso no babaca do Caio e nem naqueles cientistas estúpidos. A única coisa que me vem em mente é: estou livre, vou para casa e nunca mais pisarei na merda daquela agência.

Liberdade. Algo que nunca poderei alcançar, não enquanto estiver preso em mim mesmo. Às vezes uso uma analogia de que minha mente é como um mundo, mas não como o antigo ou atual, é diferente. É um mundo sujo e distorcido, e me perdi nele, não sei mais quem é Mateus e parece que ele nunca existiu, dividiram ele em duas partes e nenhuma delas representa bem a original. Uma metade é medrosa e fraca, está aprisionada em uma cela de pensamentos obscuros; a outra age como bem entende e tem todos os holofotes para si, mas sua plateia é composta por esqueletos.

Não consigo decidir qual das duas é pior.

Outra espécie. Arma poderosa. Menino quebrado. Assassino. Doente. Todos os nomes que já recebi ficam dando voltas ao meu redor, posso ver cada palavra pairando diante de meus olhos. O rosto assustado de Alana surge entre elas, em seguida vem o de Tobias, então todas as memórias se atropelam com violência.

Diminuo a velocidade do carro e mordo os lábios com força.

— Inferno! — grito comigo mesmo, me encarando em desafio pelo retrovisor. Meus olhos estão opacos, sem vida, como olhos de boneca.

O conjunto habitacional é só um simples vislumbre ao longe, a velocidade do carro faz as casas serem apenas um borrão. Depois de passar por ele, a estrada me leva até um corredor de colunas de terra seca, coroadas com plantas de galhos retorcidos e de cor marrom, queimadas e mortas pelo sol escaldante. O céu parece mais baixo deste lado da cidade, mas não sou mais uma criança para esticar a mão e tentar alcançar uma estrela.

Agi como um belo de um idiota. Podia aparecer um poste no meio da rua, ou um caminhão desgovernado poderia colidir e me jogar para fora da estrada, eu poderia capotar e morrer antes do carro explodir. Nada acontece, a cidade continua vazia e adormecida, negando satisfazer esse meu desejo oculto. Seria mais fácil, dizem que a morte é ponto final, gosto de acreditar nisso e tanto faz essa história de céu e inferno, a não existência já parece ser o suficiente.

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