MODO ZERO
Consigo escapar da enfermaria quando Tainá pede licença para ir ao banheiro. Ela havia acabado de ligar para um tal doutor César, um psicólogo. Era necessário eu bater um papo com ele antes de começar a trabalhar oficialmente. Era apenas protocolo, porém eu sabia que se conversasse com ele seria expulso um segundo depois, assim que ele descobrisse que não estou fazendo tratamento.
Isso atrairia uma atenção indesejada. Estou ciente de que não posso adiar isso muito tempo, mas agradeceria a Nossa Senhora enquanto conseguisse.
O corredor mais se assemelha a uma confusão de portas, pelo andar em que me encontro, deduzo que são de alojamentos. Meu novo plib começa a apitar sem parar. A mensagem na tela diz Dirija-se à central imediatamente. Guio-me pelas antigas memórias de quando vivia ali e busco por um elevador. Jorge havia ligado, não deu tempo de mencionar Caio, ele apenas disse que meu quarto estava pronto e minhas coisas já estavam lá.
Ele tinha me enchido de esperanças, dizendo que eu era o melhor líder da agência e que minha vaga estava garantida. Uma maldita mentira.
Encontro o elevador e entro, encarando o painel sem recordar com exatidão para qual andar devo ir. Mexo no plib e em todas as novas funções que havia nele, entre elas o mapa da agência, em forma de holograma, com um ponto laranja indicando onde eu estava.
— Se estou aqui — Aponto para o pontinho. — então tenho que ir até esse andar e subir mais um lance de escadas. — Aperto o botão para o segundo andar e cruzo os braços. A voz de Caio ecoava em uma sintonia aguda em minha cabeça. Ele falava com aversão, como se eu fosse uma doença contagiosa ambulante. Mordo os lábios e balanço a cabeça para afastar a lembrança.
A porta se abre e me vejo em mais um corredor, com uma escadaria mais a frente, a cor das paredes ali é mais escura e a luz é azul, não há janelas. As escadas me levam até uma porta de metal, vigiada por dois agentes. Eles me olham de cima a baixo, estranho o gesto e logo percebo que me reconhecem. Espero que me xinguem pelo que aconteceu há dois anos, mas isso não acontece. Os dois levam a mão direita, fechada em punho, até o ombro esquerdo, a deslizando com lentidão para o peito, em cima do coração, e acenam com a cabeça. O cumprimento entre agentes, o símbolo de respeito.
Em seguida me deixam passar. Eles não enxergam em mim o cara que agiu insanamente e se tornou um belo assassino — ou símbolo de ousadia, dependendo do ponto de vista —, não. Eles viram o líder que um dia já fui, viram o filho de um dos melhores agentes do país, viram o filho de Saulo Céliz.
A porta dá passagem para uma ampla sala. Há mesas espalhadas por todo o recinto e computadores sobre todas elas, pessoas correm de um lugar para o outro e o telão presente na parede ao fundo apresenta diversos pontos vermelhos, cada um representando um chamado.
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Completamente Natural
Ciencia FicciónLIVRO 1 Mesmo sabendo que trabalhar na agência é inevitável, Mateus foge dessa responsabilidade, principalmente por ainda estar traumatizado com o acontecimento de dois anos atrás e a morte do pai, que marcou sua saída da União de Combate aos Monst...