Capítulo 5

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OUTROS COMO VOCÊ

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OUTROS COMO VOCÊ

   Exausto. Essa é, sem sombra de dúvidas, a melhor palavra para me descrever agora. Meu corpo parece pesar toneladas, tento mexer a mão, mas é como se ela fosse feita de chumbo. Minha cabeça dói e o ar que entra pelo meu nariz envia uma forte ardência até meus pulmões. Não consigo lembrar de nada.

Após muito lutar, consigo abrir os olhos. A primeira coisa que vejo é um móbile pendurado no teto por um fio de nylon. Há uma mandala e um conjunto de estrelas de feltro, minha mãe tinha me presenteado com aquilo nos meus 11 anos, quando me mudei para o alojamento e iniciei o treinamento.

Minha visão periférica me mostra um cartaz de filme colado na parede, Velozes e Furiosos, um dos melhores filmes produzidos no Antigo Mundo. Eu tinha assistido a todos, umas cem vezes, o meu favorito era o que se passava no Brasil, pois a forma como eles enganaram a polícia na troca de cofres é a melhor cena de todos os tempos. No lado oposto, há uma cômoda branca repleta de figurinhas de carros esportivos ou letras de músicas escritas com tinta preta, estava tão cheia de tranqueira que quase não se via o puxador.

É meu quarto. O lugar onde eu e Luís escondemos cerveja, embaixo da cama, dentro de uma caixa de sapatos. O líquido estava sempre quente e com um gosto horrível, mas a sensação de estar fazendo algo de errado nos fazia esquecer disso. O quarto onde eu e Alana namorávamos durante as folgas, onde Tobias pegava meus doces — escondidos na gaveta das cuecas — e deixava apenas as embalagens. O meu cantinho, posso até imaginar meu diário embaixo da cama.

Diferente de um diário comum, o meu não tem confissões e segredos, apenas anotações e curiosidades sobre os monstros já listados no sistema da agência — que abrange o mundo todo, mas só anotei os encontrados no Brasil. É um vício, quase uma coleção. Cada um foi desenhado por mim, até minha caligrafia ficou impecável.

Sorrio com a chuva de recordações e então relembro o porquê de estar tão cansado. Estava em modo zero, quer dizer, me recuperando dele. Nós majis temos uma espécie de reserva de poder, pelo menos foi isso que dona Lurdes me explicou, quando usamos nosso poder ao máximo quem sofre é nosso corpo, ou seja, precisamos descansar e esperar essa reserva recarregar. As memórias da luta no Centro voltam de forma rápida e clara, bem como a imagem de Pantera em cima de Cão Infernal. Eu fiz isso, eu ordenei que lutasse em meu lugar.

A dor de cabeça piora e traz consigo um enjoo, viro de lado na cama, reunindo a pouca força que me restava, e ouço a porta do quarto sendo aberta.

— Mateus! — A voz da minha mãe acentua minha dor ao mesmo tempo que me faz sentir um pouco melhor. Ela me vira de volta a posição que estava antes e seus olhos passeiam preocupados por todo o meu corpo, ou as partes a mostra, não encobertas pelo lençol. — Você está melhor? Consegue levantar-se? Quer comer alguma coisa?

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