“Crês tu que há um só Deus? Fazes muito bem. Contudo, os demônios crêem e estremecem”.
(Tiago 2:19)
Santos, São Paulo / Janeiro de 2015.
Ela caminhava cautelosamente, qualquer ruído era motivo para aquelas criaturas irem direto ao seu encontro. O dia já não os amedrontava mais. O céu nublado ficava parcialmente enegrecido, fator que lhes era favorável. Essa situação já durava algumas semanas. Com seu olhar aguçado, fitava atentamente pelas sombras. Não podia correr o risco de ser surpreendida ou capturada pelos monstros sem cumprir sua missão.
— Merda! – sibilou ao escutar o estampido de um tiro.
E aquilo não parou. Vários disparos indicavam uma guerrilha não muito longe dali. E ela estava certa.
Correu em disparate dois quarteirões acima e chegou em um dos poucos locais que ainda continuavam intactos naquela cidade, um ginásio recreativo.
Estancou seus passos após se esconder atrás de um poste e analisou a situação. Os tiros vinham de locais estratégicos, todos de dentro do ginásio. Criaturas sombrias avançavam sem medo para invadir o provável refúgio de muitos humanos.
— Imbecis! – murmurou por entre os dentes. – Será que terei que ensinar ao mundo como se destrói esses palhaços? – indagou em alto tom de voz, enquanto corria com suas espadas empunhadas em direção aos monstros.
Ela estava acostumada a fitá-los, suas aparências não lhe causavam repulsa e nem medo. Poderia até chamar um por um pelo nome, tamanha intimidade que tivera com aqueles seres. No entanto, para qualquer humano comum, não passavam de monstros asquerosos, demônios descomunais.
Tinham rostos adornados por olhos profundos e vermelhos, maiores que o normal. As narinas formavam um todo em saliência com a boca, que era dotada de dentes pontiagudos, avantajados, despontados para fora dos lábios repuxados. Os urros guturais ecoavam no silêncio mórbido que se instalava em toda a cidade, talvez em todo o país, em todo o mundo.
Seus corpos pareciam um monte de excremento marrom coberto de escamas foscas. Chegavam a medir mais de dois metros de altura. Mesmo assim, não a intimidavam, apenas atrasavam seu rumo.
Ainda correndo, ela tomou impulso com o pé direito em uma mureta lateral que delimitava o jardim que adornava toda a volta do ginásio. Dessa forma, avançou em salto de encontro às costas de uma daquelas criaturas e, com golpe certeiro, arrancou-lhe a cabeça. Ao pousar os pés no chão, só teve tempo de perceber o resto daquele corpo se desfazendo em pó negro, o que causava uma esfumaçada nuvem de poeira maligna.
Essa primeira eliminação teve o efeito desejado. A atenção da maioria dos monstros voltava-se para ela.
— Podem vir quente, pois estou fervendo – brincou diante do perigo, tal atitude era quase que uma marca registrada de seus modos.
Sem perder o tempo precioso, avançou para outro que vinha ao seu encontro. As espadas foram habilmente embainhadas; bem como as adagas de pontas longas, pontiagudas e encurvadas, logo empunhadas do meio daquele arsenal louco que consigo carregava. Sabia que teria uma luta corporal com os monstros. Então, as primeiras lâminas atrapalhariam seu desempenho.
Segurando firmemente o cabo daquele athame, com a lâmina voltada para seu antebraço, ela desferiu um soco de direita na face do monstro, de baixo para cima, aproveitando nitidamente sua desvantagem de tamanho diante da criatura. Outro golpe com o punho esquerdo o fez recuar alguns passos. Aproveitando-se do torpor que seus ataques causaram na fera, ela saltou no ar, dando um giro de trezentos e sessenta graus e acertando novamente o deformado, chutando-o com a ponta da botina que calçava.
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Apócrifos - Liberos Ignis Vol. I
AdventureLiliel estava à procura dos príncipes sombrios: os filhos de Lúcifer. Em meio a uma contenda sobrenatural que se instalou na Terra, ela buscava incessantemente pela prole do submundo, criaturas que ela mesma gerou...Natasha sempre acreditou ser apen...