—Tem certeza? – Tia Sofia me perguntou.
Estávamos em meu quarto, eu arrumando minhas malas azuis, a mulher enxugando seus cabelos ainda úmidos do recente banho. Ela havia chegado meia hora atrás, conversado com Cedro em particular, enquanto Miguel e eu fazíamos café para a visita. Quando voltei para sala, titia me mandou fazer minha bagagem e ela fora para o próprio quarto, ao voltar, já não usava seu uniforme branco, sim um vestido bege e passava a toalha em seus fios castanhos.
E não, eu não tinha certeza, para falar a verdade, eu estava tão cheio de dúvidas que era provável estar pesando um pouco mais. E uma delas era o que fazer caso gostasse do Outro Lado, ou o que eu perderia se não tentasse e se eu me arrependesse depois? E também, queria confrontar Henrique, saber de sua boca os motivos de nunca ter me falado sobre magia e Sobrenaturais.
— Você sabia de tudo – não perguntei, assim como não a olhei.— Por que não me falou?
Sofia afastou um pouco a mala de cima da cama, sentou e me puxou para sentar a sua frente.
— Bento, querido – começou, agora ganhando minha atenção. — meu pai não tinha magia e casou com minha mãe, quando Henrique e eu nascemos, eles sabiam que só um de nós era um Sobrenatural, quando fizemos doze anos e eu não entrei em transição, eles separaram. Foi uma decisão difícil, meu pai veio para o Lado de Fora comigo e mamãe ficou com meu irmão. Eles ainda se amavam, mas pais fazem sacrifícios para protegerem seja filhos. Henrique achou melhor te trazer para cá porque sabia que você é de Alta Capacidade e isso pode ser ruim, entende?
— Ele poderia ter me contado – murmurei, sentindo um aperto no peito.
— Sim, podia – concordou.— mas, ele nem queria que você fosse.
— Por quê?
— Em todo lugar têm pessoas ruins, ele temia e teme que você acabe chamando a atenção dessas pessoas.
— Ok, entendi – falei, mesmo que ainda sentisse a coisa ruim no peito. — e você, por que não disse ?
— Respeitei a decisão dele.
— E minha mãe?– perguntei, porém já sabia que não obteria respostas, pois titia franziu o cenho.
— Pérola morreu durante o seu nascimento – respondeu o que eu já sabia.
— Cedro disse que ela era de Alta Capacidade.
— Eu não a conheci – falou, lamentosa.— sinto muito.
Levantei para voltar a dobrar minhas roupas para a viagem, no entanto, lembrei de perguntar:
— Você disse que meu avô teve que vir com você, por quê?
— Um Natural não pode viver do Outro Lado, a menos que seja casado com alguém com magia e se uma criança não entra em transição, é mandada para cá. Eu ficaria sozinha aqui.
— Isso não é preconceito?
— Não, querido. As pessoas sem magia naturalmente rejeitam a cultura Sobrenatural e o contrário também acontece. É como dar folhas a animais carnívoros, não vai ser suficiente, entende?
Sim, eu entendia.
— Sinto muito, tia.
Antes que eu pudesse sair do quarto, depois de acabar de fazer as malas, a mulher me chamou e quando teve minha atenção, disse apenas:
— Não esquece que seu pai só queria te proteger, querido.
Embora eu fosse novo ainda, consegui compreender a mensagem por trás daquela frase. Era para eu tentar entender meu pai e seus motivos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Bento Gowdin e os Sobrenaturais || A flor divina
Adventure(CONCLUÍDO) ✨FINALISTA DO PRÊMIO WATTYS2022 Bento não tem grandes expectativas sobre mais um domingo comum na cidadezinha onde vive com a tia, sua vida não é regida por emoções e ele prefere assim. Depois de acordar de mais um de seus rotineiros pes...