cinco| Tenho Amigos

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Diferente do que achei, não tinha informações sobre Petros Leneu nos livros da biblioteca, e um fim de semana não serviu para que os alunos esquecessem de minha semelhança com o desviado morto.

Depois do almoço de sexta-feira, os estudantes eram liberados para irem para suas casas, pelo menos os que residiam no reino, pois outras três crianças e eu não saímos de Kolaustro. Todos os meus colegas voltaram para suas moradias e não tive muitas opções do que fazer.

Tentar uma aproximação com  os Sobrenaturais do Lado de Fora ficou fora de cogitação após a aula desastrosa de Uso da Varinha, todos passaram a me encarar como se eu fosse um filhote estranho, de um mamífero raro.

Meu fim de semana se arrastou entre um livro e outro. Para passar o tempo, fui até a Área Aberta, treinar feitiços com minha varinha. Então, voltava para o quarto e lia mais um pouco. Fiz toda a tarefa da semana e fui pegar mais alguns exemplares para matar o tédio. Acabei por me deparar com livros de feitiços das outras classes e como a regra era não praticar magia elevada, não vi motivos para não ler, apenas.  Eu não queria dar motivos para advertência ou qualquer outra coisa negativa, o fato de eu ter certeza que meu pai me tinha vergonha, ainda não me deixava dormir direito.

Foi remexendo em algumas obras, que esbarrei em uma de ingredientes raros. Eu não ia abrir, só o peguei para colocar de volta no lugar, afinal era um daqueles exemplares que não podia deixar a biblioteca, e também porque Botânica Mágica era um porre em forma de matéria escolar, porém o livro caiu aberto em uma página em específico, onde uma flor se destacava. Curioso, li a respeito.

Era a Flor Divina, descrita como extremamente difícil de conseguir, pois nascia no temido monte gelado, lar das fadas. O único pesquisador que ousou cataloga-la, acabou sendo morto pelas moradoras da região, deixando para trás só o caderno de anotações. A Flor possuía propriedades curativas, embora ninguém soubesse ao certo o limite. Podia ser usada em poções de cozimento, mas nunca deveria ser ingerida crua. Também se podia usa-la em compressas ou passa-las na pele, mas sempre depois de cozida. E nunca, em hipótese alguma, podia ser dada a um Natural, as consequências podiam ser catastróficas.

Seu tempo de vida era indeterminado, podiam viver dias e até anos após o colhimento.

E acabava com alguns esboços de uma flor negra.

Quando saí da biblioteca, me deparei com as gêmeas me procurando. Era início da noite de domingo, os alunos estavam voltando para Kolaustro.

— O que estava fazendo? – Violeta me perguntou, cheia de julgamentos.

— Tentando não morrer de fastio – respondi. — e vocês, estavam me procurando?

— Sim – Tulipa sorriu, animada. – Temos uma surpresa para você.

— Ah, é? – sorri. Era impossível não se contagiar com aquele sorriso genuíno.

— Vem – a de cabelos compridos chamou e logo estava liderando o caminho  pelo corredor.

— Do que se trata? – indaguei à outra e ela também sorria animada, deixando evidente sua covinha na bochecha direita.

— Tulipa, os outros e eu – explicou Violeta. — pensamos no quão triste é passar o fim de semana aqui, sozinho e em como você tem nos ajudado nos estudos. Então fizemos uma junção para levá-lo conosco semana que vem.

— Como assim?– pisquei um tanto atordoado. Junção era a famosa vaquinha, e embora já soubesse contar o dinheiro local, nunca tinha pego em uma moeda daquele lugar.

— Explicamos tudo na presença dos outros – decretou ela, ao que chegamos ao hall de entrada do prédio.

Andamos mais um pouco e sentamos junto aos garotos em uma das mesas do refeitório. Não tínhamos muito tempo, o jantar não demoraria a ser servido.

Bento Gowdin e os Sobrenaturais || A flor divinaOnde histórias criam vida. Descubra agora