três| Mestre, o sapo

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Kolaustro era enorme.

Quatro casarões cor de chumbo, ligados por um pátio grande, onde várias mesas de cimento com seis ou oito lugares eram distribuídas. Os prédios não eram tão altos, mas eram largos e tinham muitas janelas.

Passamos pelo pátio coberto, meu tênis sujando de poeira o chão de mármore negro e quase espelhando de tão limpo. Entramos na primeira construção para encontrar mais um pátio, dessa vez pequeno, com algumas poltronas em volta de uma mesa de vidro elegante. Seguimos por um corredor iluminado por luzes brancas, que pareciam flutuar no ar. Dobramos para a direita e entramos na primeira sala, também do corredor.

— Espere aqui – Cedro instruiu, deixando minhas malas perto da porta. — Vou buscar a diretora – saiu e voltou meio segundo depois.— Não mexa em nada.

Não me movi, mas com os olhos fiz uma vistoria pelo ambiente, parando no que me pareceu ser o brasão da escola. Uma varinha negra, uma espada prateada e um livro com a letra K em destaque, formavam um triângulo em um fundo rubro. Tudo dentro de uma círculo.

Vários quadros foram pendurados nas paredes acinzentadas. Todos tinham rostos bem pintados em óleo sobre tela, porém o que mais me chamou a atenção foi o do sujeito usando uma coroa. No roda-pé dizia Rei Hélio Calixto e ele parecia olhar para minha alma. Seus rosto magro, não exibia um sorriso. A coroa com grandes rubis, estava sobre fios de um rosa berrante e em sua mão destra, estava uma varinha comprida.

Desviei meus olhos da pintura para as prateleiras, uma delas continha vários animais de cristal, que podiam ser do tamanho do meu punho. Controlei minha curiosidade, me sentei em uma das poltronas perto da lareira, sempre levando minha mala comigo.

Passado algum tempo, Cedro não apareceu e pela janela eu via que já era noite lá fora e meu estômago já estava fazendo um barulho vergonhoso. Uma mistura de trator com gatos no cio.

Mais um tempo se foi, eu com fome, deixei minha curiosidade vencer e acabei por me aproximar dos animais de cristal.

Era seis, o primeiro era um unicórnio, e sim, eram do tamanho da minha mão. O segundo era uma ave em seu poleiro, uma ave que eu não reconhecera a espécie. O terceiro era uma barata, com uma riqueza de detalhes que cheguei a ficar com um certo nojo. O quarto era um peixe, mas tão estranho quanto o pássaro. O penúltimo era um sapo...

— Bento Gowdin? – alguém me chamou e foi de por impulso, olhei para o quadro do Rei Hélio.

— Bento – reconheci a voz de Cedro e virei-me para a porta, para vê-lo ao lado de uma mulher. – esta é Regina Bentre, a diretora.

Ela era alta, magra, elegante e austera. O cabelo cor de ouro estava preso em uma coque alto, seu terninho branco, estava impecável. Rosto oval, mesmo que sério, exibia um brilho simpático nos olhos castanhos. Não sei o porquê, mas me deu vontade de cumprimentá-la como na Ásia, com uma reverência respeitável. Me contive, para meu próprio alívio, e estendi minha palma em sua direção.

— Não – o buscador falou, risonho. — Aqui se cumprimenta assim – ergueu a mão canhota, juntou o indicador e o médio, baixou os outros e separou um pouco o polegar.— com a esquerda é chegada e cumprimento, com a direita é despedida — fitou a mulher e sorriu como se pedisse desculpas. – Por motivos familiares, ele foi criado do Lado de fora.

Recolhi minha destra e fiz o gesto ensinado pela rosado.

— Sim, Henrique explicou que...– Regina começou.

— Meu pai tá' aqui?– perguntei afobado e ganhei o olhar reprovador da Sobrenatural. — Desculpe – pedi e quase fiz uma reverência.

— Sim, seu pai está aqui – ela, no entanto respondeu, educada.— Tivemos que mandar um mensageiro para busca-lo. Ele já chegou e podemos realizar o teste de aptidão.

Bento Gowdin e os Sobrenaturais || A flor divinaOnde histórias criam vida. Descubra agora