doze| Não tem cura?

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— A poção Animalia! – Mestre exclamou, ao que entramos na sala de Regina Bentre.

Era cedo, o café nem tinha sido servido ainda e embora estivessemos liberados do uniforme preto, todos ainda usavam pijamas, exceto Alfredo, uma vez que sua nova pelagem enegrecida, o protegia da nudez e nenhuma roupa serviria nele.

Quando acordamos com os gritos de nosso amigo, não demoramos a descer atrás de ajuda, porém só achamos o anfíbio.

E eu já tinha lido a respeito dessa tal poção Animalia. Tinha sido criada há muito tempo, por um pocioneiro que não queria que seu filho casasse, e o transformou em um cavalo. Funcionou, por outro lado, ele passou o resto de sua vida tentando achar uma reversão. Sim, eu sabia que não tinha cura, mas eu que não daria essa notícia ao meu amigo peludo e desesperado.

— Fazia muitos anos que eu não via essa poção – o sapo continuou, se aproximando de Alfredo para o olhar de perto. — Pensei até que a receita se perdera. Sinto muito... não tem cura.

— Como assim não tem cura?! - Aflito, Alfredo indagou.

— Não tem cura, não tem antídoto, não tem solução – Mestre explicou com seu característico mal humor. — Você será um gato pelo resto de sua vida.

— Não – Pedro, logo atrás de mim, discordou. — todo feitiço e poção tem solução.

— Não tem – o professor disse, severo. – se a poção Animalia tivesse cura, eu já teria achado.

— Você foi atingido por essa poção? – indaguei, e não de propósito, o analisei de cima a baixo. Era meio difícil de crer que ali também havia um homem.

— Ingeri, na verdade – esclareceu e se voltou para o garoto felino. — o mesmo deve ter acontecido com você. O que comeu nas últimas doze horas?

— A comida oferecida pela instituição – respondeu meu amigo, sentando-se nas patas traseiras.

— Também os bombons que lhe dei – mencionei e todos na sala me encararam. — mas eu não coloquei nada lá — abanei as mãos frenéticamente.

— Sabemos disso – esclareceu o adulto. — porém acho que todos chegaram à mesma conclusão que eu.

— A poção era para você, Bento – Pedro concluiu.

— Para mim? – franzi o cenho, confuso. — Quem faria algo assim?

E como em um desenho animado, uma luz acendeu em acima de minha cabeça, quando o rosto de Daniel Calixto apareceu em minha mente. E mesmo não sabendo ler as expressões felinas na face de Alfredo, pude perceber que ele lembrara da ameaça também.


° ° °

Enquanto procurava por Daniel em Kolaustro, também tentava não pensar em armas afiadas ou em qualquer outro tipo de objetos letais. Estava uma mistura insana de furioso com frustrado e culpado, afinal eu provocara o príncipe e eu dera o chocolate ao meu amigo e, embora aceitasse minha parcela de culpa, ainda queria enfiar meu punho na cara magra de Daniel.

Não foi difícil achá-lo, foi só ver que ele não estava praticando na Área Aberta ou lendo algo na biblioteca, para deduzir que devia está em seu quarto e foi fácil de encontrar, uma vez que ficava no mesmo corredor que o meu quarto.

Bento Gowdin e os Sobrenaturais || A flor divinaOnde histórias criam vida. Descubra agora