quinze| Kodumo

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— Animal? — perguntei para todos.

— Gaivota — Ulisses falou, sorrindo provocativo por ter sido o primeiro.

— Grifo — respondeu o príncipe, fazendo Tulipa e eu trocarmos um olhar.

— Ganso — pronunciei, erguendo uma sobrancelha para minha amiga.

— Gafanhoto — ela disse, sem precisar pensar muito.

Já era nosso quarto dia de viagem e desde o encontro com dalibis, não se teve mais contra tempos. Agora, movidos pelo tédio, jogávamos Adedonha, depois que eu expliquei as regras.

Dali algumas horas paramos sob um abacateiro, para que pudéssemos almoçar sentados. Ulisses, usando gravetos e sua mágica rosa, fabricou uma fogueira, onde esquentamos nossa sopa enlatada, regalia que não tínhamos todos os dias.

— Você consegue me dizer em quantos dias chegaremos? — a garota indagou.

— Se continuarmos nesse ritmo — pausou para pensar.— em cinco dias ou menos — continuou sem se dar o trabalho de engolir antes.

— Perfeito — Daniel sorriu pequeno. — assim estaremos de volta ao Reino antes do dia três de dezembro.

— É a Cerimônia da Escolha? — o guia questionou, alternando o olhar entre nós três.

Tanto o príncipe quanto Tulipa buscaram por meu rosto, como se eu decidisse se devíamos responder ou não.

— Somente os fulins lhe interessam, Ulisses — relembrei, usando sua própria sentença.

Sem ter o que acrescentar, o adulto apenas deu de ombros, curvando os lábios para baixo, demostrando pouco interesse

• • •

Depois que tomei conhecimento sobre a trajetória diabólica de Petros Leneu, passei a acreditar naquele dito sobre ignorância ser uma dádiva, pois todas as vezes que fechava os olhos para tentar dormir, minha mente era invadida por cenas de terror criadas por meu medo.

Me sentia como uma criança que assiste um filme de terror e depois tem que pedir para dormir com dos pais na esperança de evitar pesadelos. A diferença era que Pérola estava morta, Sofia bem longe dali e Henrique tinha me ferido o suficiente para não ter mais o sentimento de segurança.

Após acordar de um pesadelo, onde uma figura indistinta me aprisionava, fiquei algum tempo encarando o céu noturno, me perguntando se algum dia esses pesadelos iriam embora.

Já era o sexto dia de percurso, e naquele momento eu me encontrava sobre um cobertor no chão, sendo espremido entre Tulipa e Daniel, coisa que o frio nos obrigava a fazer, mesmo que houvesse um fogueira.

A deixa para sair dali, foi o príncipe passar seu braço por minha cintura, me puxando ao seu encontro e ficando por cima do meu braço. Se continuasse assim, logo estaria dormente.

Rolei os olhos e me sentei para ouvir o resmungo irritado da garota. Sem me importar com minha amiga, me ergui para sentar-me mais perto das chamas.

Fiquei algum tempo encarando o fogo pensando em nada em específico, apenas esperando o sono ganhar de todo o receio de um novo pesadelo.

— Você é sempre assim? — alguém disse às minhas costas, e infelizmente, não tive que virar para saber quem era, pois reconheci o timbre.

— Assim como? — mesmo sem paciência naquele momento, preferi não mandar o príncipe ir pastar.

— Semelhante à uma coruja? — sentou ao meu lado, aparentemente não ligando se sujaria seu jeans caro com a poeira. Também tinha um cobertor em volta de seu corpo.

Bento Gowdin e os Sobrenaturais || A flor divinaOnde histórias criam vida. Descubra agora