seis| Daniel e sua Alta Capacidade de me irritar

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Algumas semanas depois do meu passeio pelo reino, praticamente nada tinha mudado, exceto que agora os alunos implicavam com a cor da minha magia. Era vermelha e além da de Petros também ser, os Sobrenaturais que tinham essa característica eram, segundo os boatos maldosos, mais corrompiveis.

Naquela terça-feira em específico, Tulipa e eu estávamos em uma das muitas mesas de madeira da biblioteca, estudando para as primeiras provas, que começariam pelas próximas semanas. Ela achando que estava me enganando ao passar os olhos pela página do livro, e eu fingindo que não via o absurdo.

— Vamos? – me perguntou, algum tempo depois de desistir de "lê" o livro de História Local.

— Deixa eu acabar este capítulo – respondi, sem erguer os olhos.

— Falta muito?

— Não – menti, mas ninguém tem nada contra isso.

— Certo.

Queria dizer que ela ficou quieta e me deixou terminar de ler meu exemplar em paz, no entanto, outro traço importante de sua personalidade era sua mania de falar muito ou de fazer perguntas, e naquele momento não foi diferente.

— Assim que o vi pela primeira vez, fiquei curiosa. Como conseguiu esta cicatriz? — apontou para minha mão esquerda.

— Um acidente quando era criança – respondi.

— Sua mãe deve ter ficado preocupada – ela falou e eu juro que tentei me manter focado na leitura, mas foi impossível, tanto que levantei meu olhar para o rosto de minha dupla. — Perdão, falei algo errado? – indagou, alarmada.

Neguei com a cabeça, a tranquilizando. Afinal, não tinha como Tulipa saber que aquele era um assunto delicado para mim. Eu nunca falava de minha família e quando o tópico surgia entre os outros, procurava não falar muito. Porém, ali naquela sala, encarando os olhos amendoados e gentis de minha amiga, fiquei sem reação, pois de todos, Tulipa me era a mais próxima e nem se eu quisesse,  conseguiria me esquivar da pauta. Não com ela.

— Minha mãe morreu quando nasci – confessei, baixando os olhos e deixando o livro de lado.

— Oh! – abriu um pouco mais os mirantes, levando a mão destra até a boca. Eu nem precisava estar vendo para deduzir o gesto, a menina o fazia todas as vezes que exclamava o seu famoso " oh!". — Eu não devia ter tocado no assunto.

— Tudo bem – falei. — você não sabia que...

Não completei, esperando sinceramente que a garota entendesse.

— E seu pai? – indagou e completou logo em seguida. — Responde somente se quiser.

Não foi de propósito que eu cruzei os braços em frente ao peito, talvez em um gesto inconsciente de auto proteção.

— Não o conheço – menti e nem tive coragem de a fitar, sabia que piscaria sem parar. — Ele me deixou do Lado de Fora logo após meu nascimento, com minha tia Sofia.

— Então Sofia é irmã de sua mãe?

— Sim – outra mentira e não me orgulho disso. — Tia Sofia nunca falou sobre meus pais. Tudo o que sei é que minha mãe se chamava Pérola. Mas não sei o nome do meu pai.

— E você não tem vontade ou curiosidade de saber mais sobre eles? — questionou e eu a encarei, para encontrar um semblante de estranhamento.

— Sim – admiti sem jeito.— porém tenho poucas informações. Não saberia nem por onde começar.

— Tem razão – concordou.— Podemos começar a procurar por sua mãe aqui no Reino das Árvores.

— Você quer dizer nós dois? – estranhei.

Bento Gowdin e os Sobrenaturais || A flor divinaOnde histórias criam vida. Descubra agora