07h49 - Escola Municipal.
Eu sempre fui uma excelente aluna, estudar é o que eu mais gosto de fazer, desde sempre, lembro da Maluzinha, que adorava a sensação de aprender coisas novas, a satisfação enorme de me sair bem nas provinhas, e isso tudo continua exatamente igual, a Malu de hoje ama aprender coisas novas, mas, anda difícil vir a escola, eu estava amando a experiência de estudar aqui, eu sei que seria complicado me enturmar, mas eu estava disposta a persistir e ter novos amigos e experiências diferentes das que eu era acostumada, posso dizer que as experiências estão diferentes, porque na minha antiga cidade a experiência de ser olhada como um extraterrestre não existia.
Noah, Bruna, Mateus e Marcos são os únicos que estão dispostos a fazerem eu me sentir menos pior, inclusive o Marcos vem vindo aí.
- Oi, Malu! As pessoas daqui são assim, não liga, percebi o jeito que te olham.
- Todo mundo me olha como se eu fosse de outro mundo, nem parece que eles vivem no século XXI.
- Isso é só porque você é nova por aqui, se fôssemos olhar torto para cada garota que já beijou alguma menina aqui, quase nenhuma sairia ilesa.
- Vamos deixar eles me olharem assim, e enquanto eles olham eu pago um sanduíche para o meu amigo que foi abduzido por mim.
- Vamos lá amiga Et, eu jamais negaria um sanduíche.
Estava agora pouco sentada no banco ao lado da lanchonete, com o pessoal, Marcos, Noah, Bruna e Mateus e observei algo que me incomodou muito, a Marcela andando sozinha e nos olhando com cara de poucos amigos, sempre notei que de todos, ela era e é a mais próxima do Samuel, e parece estar do lado dele até nessa história maluca, e eu poderia falar com ela pra tentar entender, odeio quando as coisas ficam mal resolvidas.
- Ei, Malu! O que você tá pensando em fazer?
- Calma, Noah...
- Eu já imagino o que é, vai lá.
- Oi, Marcela.
- Olha Malu, se você veio aqui pra tentar me colocar contra o Sam, como você anda fazendo com todo mundo, pode desistir.
- Eu não quero fazer isso com você, e nem estou fazendo isso com ninguém.
- Não está? Ninguém falou com o Sam pra saber como ele está, ele se sente sozinho e ninguém se importa.
- Olha Marcela, o que o Samuel fez não foi legal, e por isso talvez ele não esteja recebendo a atenção que ele tanto queria.
- E você está, recebendo toda atenção que queria desde o dia que pisou seu pé aqui em Santa Helena.
- Você está precipitada sobre quem eu sou e não vou tentar te fazer mudar de opinião agora, espero que um dia entenda.
- Nem que você tentasse iria conseguir.
13h42 - Casa Maria Luiza Albuquerque.
Papai demorou alguns minutos pra me buscar na porta da escola, aproveitei o tempo pra dar um pulinho no café, pegar um pedaço de torta de limão para a minha sobremesa e pra principalmente dar um abraço na Ana, que me pareceu tão triste, mas segundo ela não é nada além de cansaço, o que pode até ser verdade, mas fiquei um pouco desconfiada, além disso, depois que contei sobre minha conversa com a Marcela, ela me disse algo esclarecedor, ela falou que através do super poder de observação que ela tem, ela concluiu a algum tempo, que a Marcela gosta do Samuel, e meu Deus, como eu nunca tinha pensado nisso? Os sinais estavam na minha cara, mas foi bom saber disso, pelo menos a Marcela tem um "motivo" pra não gostar de mim.
17h56 - Casa Maria Luiza Albuquerque.
Cheguei agora pouco do curso de francês, hoje o Marcos não foi, passei em frente ao café da volta e estava cheio, não podia entrar, não queria atrapalhar a Ana na hora mais corrida do dia, então resolvi votar pra casa e ajudar o Noah com um trabalho de matemática, que por sinal é a minha matéria favorita, e não é por nada, mas a melhor aluna nessa matéria, sempre fui eu.
- Malu, desce aqui filha.
- Estou indo mãe!
- Tem um amigo seu na porta, o convidei para entrar, mas ele negou.
- Amigo?
- Sim, vai lá falar com ele.
Assim que eu abri a porta, no mesmo instante saí e fechei depressa.
- Samuel? O que você está fazendo aqui? Por favor vai embora.
- Malu, eu vou ser direto, meu pai está ali dentro do carro, me trouxe aqui para eu te pedir desculpa, só assim ele me devolve o meu celular.
Olhei por cima dos ombros do Samuel e vi o seu pai dentro do carro acenando pra mim com um tchau.
- Tudo de Samuel, diz pro seu pai que eu te desculpei, mas por favor saí daqui.
- Mas você me desculpou de verdade?
- A gente conversa sobre isso depois, em algum lugar que não seja minha casa. Aproveite seu celular, vou entrando, tchau.
- Tudo bem, tchau.
Meu Deus, será que a mamãe ouviu alguma coisa, ela não pode ter ouvido nada, eu não me sinto preparada para contar tudo o que está acontecendo na minha vida, eu preciso que isso seja um segredo até o dia em que eu tenha plena certeza que é a hora de contar.
- Oi, filha. Por que seu amigo não entrou?
- Oi, mãe... é... ele só queria tirar uma dúvida sobre um trabalho, não era nada demais...
- Ei, Malu! Não sobe ainda, vem lanchar... Filha? Está tudo bem?
Ai que desastre, eu saí correndo e deixei a minha mãe falando sozinha, parabéns Maria Luiza! Se eu queria que ela não desconfiasse de nada eu acabei de falhar completamente, com certeza ela percebeu que algo está errado, e eu não sei o que dizer caso ela me questione, inclusive, o Caju já percebeu que algo não está bem, ele não saí do meu pé um único segundo e isso é raro pra um gato desapegado como ele, mas não vou negar que eu adoro.
Ana 🌻: Boa noite, Malu! Está livre ou estudando ainda?
Malu 🐱: Oi, Ana! Agora estou livre, você não sabe o que aconteceu.
Ana 🌻: Só não sei porque ainda não me contou, conta conta conta.
Malu 🐱: Samuel veio aqui, me pedir desculpa, obrigado pelo pai é claro.
Ana 🌻: Eu não acredito, e como você reagiu?
Malu 🐱: Eu tive que enfrentar, falei que o desculpava e pedi para que fosse logo embora, não queria que minha mãe ouvisse nada.
Ana 🌻: Você fez o certo. Posso passar aí na volta da faculdade? Tenho algo pra te entregar.
Malu 🐱: Pode sim, meus pais tem um jantar de negócios em outra cidade.
Ana 🌻: Então combinado, até mais tarde.
22h32 - Casa Maria Luiza Albuquerque.
Estou na varanda, olhando lá pra baixo e ansiosa pra chegada da Ana, eu adoro ficar aqui, o condomínio em que fica minha casa, tem um mini parque bem no centro, e a minha casa fica exatamente em frente, então daqui da varanda do meu quarto eu vejo centenas de árvores, e principalmente a que eu mais gosto, a maior de todas, um pé de manga, que é centenário e gigantesco, e é graças a ele que o mini parque existe, já que a prefeitura não autorizou a derrubada quando o condomínio começou a ser construído, daí surgiu a ideia de junto com ele, manter várias outras árvores e transforma-las em um parque.
Olha quem chegou, a Ana, ta acenando pra mim lá de baixo, com um sorriso e um papel na mão, ela está linda como sempre, com a mochila azul marinho apertadinha nas costas e a jaqueta que eu tanto amo quando ela veste.
- Ei, você não vai descer? Vai ficar me admirando de longe podendo me ver de pertinho?
- Ana e o seu ego, estou indo, me espera aí!
- Até que enfim, esperei horas.
- Não exagera vai, vamos entrar, vem!
Decidimos ficar na varanda do meu quarto, quis mostrar pra Ana como é bonito ver o parque daqui, ela deixou o papel que carregava em cima da minha cama, e me disse pra ler só depois que ela for embora, e eu estou tão curiosa, mas a única coisa que quero agora é curtir a companhia dela, mesmo que seja por pouco tempo, afinal daqui a pouco meus pais chegam e eu não quero que eles desconfiem de nada disso por enquanto.
23h45 - Casa Maria Luiza Albuquerque.
- Vem aqui me dar um último beijo, eu preciso ir, ainda não tá na hora de conhecer meus sogros.
- Você que manda.
É incrível beijar a Ana, ela me puxou pela cintura e me deixou pertinho dela, eu senti cada centímetro da boca dela tocar a minha, com toda aquela delicadeza e ao mesmo tempo com a maior vontade do mundo, a mão dela passando da minha cintura para minha nuca fez em me arrepiar inteira, nossos corpos estão elétricos, grudados um no outro, e eu não queria que isso parasse aqui...
- Ana, é o carro dos meus pais, vem!
Corremos o mais rápido possível, a Ana ia sair pela porta de trás, mas demos de cara com o papai na cozinha, que não está com a melhor cara.
- Essas são horas de receber visitas estando sozinha em casa Maria Luiza?
- Oi, Sr. Pai da Malu! Eu já estava de saída.
- Tenha uma boa noite, Ana! E você Malu, volte aqui depois de deixar sua amiga na porta.
Meu Deus eu nunca estive tão nervosa, que idéia péssima, eu sabia que meus pais não iam gostar dessa idéia, eles não são os pais mais liberais desse mundo, a Ana coitada, subiu na bicicleta e saiu sem nem olhar pra trás de tão nervosa que estava, e eu to aqui, parada na porta sem coragem alguma de virar e caminhar até a sala pra enfrentar o Sr. Albuquerque bravo.
- Maria Luiza, estou te esperando.
- Oi, pai.
- Eu e a sua mãe queremos explicações. Você sabe nossa opinião sobre receber visitas depois das 22h e principalmente estando sozinha.
- Me desculpem, a Ana veio só me entregar uma coisa e acabamos perdendo o tempo.
- Perderam o tempo fazendo o que Maria Luiza? Vocês estavam fugindo e eu percebi, essa história está cada vez mais estranha.
- Pai, foi isso que aconteceu, não vai se repetir.
- Eu espero que não se repita mesmo, senhorita, não gostei nada dessa idéia.
- Mãe, você não vai dizer nada? Eu tenho que agir sempre como o meu pai espera, caso contrário eu estou errada.
- Maria Luiza, ouça seu pai e suba para o seu quarto, outra hora conversamos melhor!
Eu sabia que seria assim, que a qualquer movimento suspeito o mundo desabaria para o papai, já aconteceu outra vez e foi exatamente assim, ele já sente que a menininha dele não vai suprir 100% as expectativas que ele criou, e isso mexe com ele, a mamãe é mais flexível, ela foge do verdadeiro assunto sempre, mas ela me acolhe melhor quando estamos a sós, na frente do papai ela sempre prefere não discutir e não se intrometer a não ser que ele ou eu passemos do ponto.
Ana 🌻: Ei, como as coisas estão.
Malu 🐱: Discuti com meu pai, ele ficou desconfiado, Ana. Eu não sei o que fazer.
Ana 🌻: Acho que a minha idéia de ir aí foi péssima, espero que me desculpe... E sobre o seu pai, não tem o que fazer, apenas tente ignorar, ele vai esquecer e vamos tomar mais cuidado.
Malu 🐱: Eu adorei a visita, não precisa se desculpar, da próxima vez tomamos cuidado, e sim, o Papai logo vai esquecer o que aconteceu.
Ana 🌻: Então terá próxima vez?
Malu 🐱: Claro que terá, não ouse pensar que não!
Ana 🌻: Já tinha ousado... Mas não ousarei de novo, agora lê o que te escrevi e descansa, boa noite e um beijo, como aquele que te dei aí na varanda.
Malu 🐱: Pode deixar, vou fazer isso agora mesmo. Boa noite e dois beijos como aquele que demos aqui na minha varanda.
Eu deitei, abri o envelope amarelo fechado com um adesivo de urso panda e encontrei isso:
Aonde você for,
eu também irei;
No lugar que estiver
eu também estarei;
Nos lugares mais frios,
prometo ser teu abrigo;
Nos lugares mais quentes,
ser como um ventinho vindo na mente;
Nos lugares que andares sem companhia
eu chegarei rápido como a ventania;
Quando estiveres em meio a multidão,
eu não deixarei de segurar sua mão;
quando estiver no escuro e se perder,
eu serei teus olhos para que possa ver;
Quando a luz ofuscar teus olhos pode fechar,
confia, eu vou te guiar;
Em todos os lugares que fores,
irei junto pondo flores;
Flores em cada caminho que precise passar,
para nunca doer quando for me encontrar.
Para: Malu, com carrinho Ana! Ana que quer andar ao teu lado.
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Eu + Ela
RomanceAna Mails, uma garota sonhadora, dona de um coração cheio de amor e poesia Maria Luiza, uma garota com planos grandes, uma vida agitada, e com foco em tudo, menos no amor. Duas garotas e uma história, de amor, amizade, conquista, erros e acertos, tu...