Capítulo 11. Sentir.

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0h39 - Casa Ana Mails.
     Eu não consigo pregar o olho, tudo que aconteceu na casa da Malu me fez sentir medo, não por mim, mas por ela, mesmo que na nossa última conversa ela tenha deixado claro que acredita que tudo vai ficar bem, não saí da minha cabeça as mil possiblidades de que de alguma forma, o que gente tem possa prejudica-la ou interferir de forma negativa na relação com o pai dela, que pelo visto não aceitaria um pingo que a filhinha dele namorasse outra menina, e eu jamais entenderei isso, a Malu é uma filha exemplar, que pode conquistar o mundo, mas nada disso parece importar pra ele.
     Laura 🍩: Ei, brigadeirinho! Ainda acordada?
Ana 🌻: Oi! Ainda acordada, cabeça a mil...
Laura 🍩: Em casa?
Ana 🌻: Estou, deitada no sofá, inclusive ouvindo uma das melhores playlist que já criamos juntas: As melhores Marisa Monte.
Laura 🍩: Você precisa ser resgata agora mesmo, veste um casaco, chego aí em 10 minutos.
Ana 🌻: São quase 1 da manhã, mas tudo bem, você que manda.
Laura 🍩: Papai dormiu, a chave do carro está em minhas mãos, não se preocupe.
     Eu vou vestir o meu melhor casaco, pulei do sofá com uma felicidade que não cabe em mim, até esqueci por uns segundos que eu estava triste e largada no sofá ouvindo Marisa Monte, fazia dias, na verdade semanas, que eu não sentia a Laura agir de forma tão natural e sincera comigo, não faço idéia do que vamos fazer, e na verdade é o que menos me interessa agora, ela poderia me levar pra fila de banco mais enorme do planeta, eu iria feliz, porque eu estaria com minha melhor amiga, que é a companhia mais incrível que existe.
- Psiu, Ana? Cheguei!
- Estou indo, silêncio, não vou acordar a mamãe, deixei um bilhete.
     Estamos no carro, ela me deixou continuar com a nossa playlist e até está cantando comigo e, além disso, ainda me trouxe um pedaço de bolo de prestígio, que é o meu favorito, amanhã ela tem entregas da lojinha de doces e sempre ganho esses mimos nesses finais de semana, estamos rindo e conversando, estou comendo o bolo e lembrando de quando ela começou, dos prováveis 20 pedidos que não deram tão certo, de todos que tivemos que dar um jeitinho de concertar na última hora, lembrando que era só um sonho, e que deu muito certo, são dois anos, ela é muito boa no que faz, e tenho muito orgulho dela e de tudo que ela está conquistando.
- Vem, chegamos!
- Laura, você me trouxe aqui para me matar e esconder meu corpo, né? Sempre soube que na verdade você me odeia.
- Descobriu tudinho mesmo? Então vou ter que deixar pra outro dia.
     Laura estacionou o carro no último estacionamento do parque, eu nunca tinha vindo aqui, como o começo do parque fica a alguns minutos da minha casa, lá é sempre o lugar que eu acabo ficando, andamos alguns minutos e chegamos numa subida íngreme, quase que impossível de subir, mas confiei nela e subi, e a gente andou mais um pouco e chegamos em um lugar que tem várias pedras enormes, escalamos duas e sentamos na mais alta, e eu entendi o motivo de ser tão difícil chegar aqui, a vista é linda, as luzes da cidade inteira e o céu cheio de estrelas, e eu estou me questionando porque ninguém, ou quase ninguém da cidade sabe desse lugar.
- Como você descobriu esse lugar, Laura?
- A mamãe que me falou sobre ele, disse que ela e o papai vinham aqui sempre, era o único lugar que eles conseguiam ficar a sós sem que ninguém os visse.
- Ah, por causa dos seus avós, não é? Eles não gostavam nada que sua mãe namorasse o punk motoqueiro.
- Exatamente por isso! Desde que ela me falou, eu já vim aqui várias vezes, me sinto melhor, por isso te trouxe.
- Com certeza funcionou, eu já me sinto melhor!
- Eu tenho uma surpresa, tcharam!
02h45 - Casa Ana Mails.
     A surpresa era um vinho barato, do nosso preferido, que sempre compramos com algumas notas de dois reais e moedas, e sempre ganhamos copos descartáveis coloridos, dessa vez eles eram um azul e um vermelho, brigamos pelo azul, isso sempre acontece, mas dessa vez eu venci e fiquei com ele, eu pouco falei sobre a Malu ou sobre faculdade, conversamos sobre achismos da vida, nos perguntando o que achávamos sobre o amor e se existiam alienígenas, eu iniciei a conversa dizendo que não, e ela que sim, no fim saí acreditando que talvez eles existam, a Laura é boa nisso, minha melhor amiga será uma ótima advogada.
     Nem eu sabia o quanto eu precisava de uma noite assim com a Laura, apenas nós duas, como nas noites do pijama quando éramos criança e a mamãe montava uma barraca cor de rosa pra gente no quintal, a companhia dela sempre me faz bem. Eu queria ter entrado no assunto que eu tanto julguei ser importante, eu queria muito saber o que levou a Laura a ficar tão distante e tão estranha, mas tudo estava indo tão bem que nenhum assunto que não fosse:  alienígena; não seria bem vindo. Agora eu preciso dormir, o dia será longo, prometi ajuda-la nas entregas, como sempre faço e adoro.
Sobre amizade é difícil falar,
quase que impossível explicar,
mas sobre você,
ah sobre você...

Eu + ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora