Capítulo 7. Entender.

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- Casa Ana Mails.
Essa semana foi louca e corrida, estou animada para o fim dela, que tomara que compense todo o resto, eu vou junto com a Bia e com a Malu, para o sítio dos avós dela, estou meio nervosa, eu sou consideravelmente sociável, mas ainda sinto frio na barriga antes de conversar com pessoas estranhas, principalmente ir em casa de pessoas estranhas, mas vamos lá, eu acabei de acordar, resolvi arrumar minhas malas ontem, liguei para a Laura, falei empolgada sobre a novidade, mas como nos últimos dias, ela não pareceu muito empolgada comigo.
Logo que Laura voltou da visita que fez a tia, nos encontramos na faculdade, ela continuou com poucas palavras, tentei por várias vezes conversar e entender o que estava havendo, mas ela se demonstrou irredutível, disse que andava triste com o Pedro, e apenas isso, o que me preocupa, por isso decidi conversar com ele no dia seguinte, e ele disse que a Laura está agindo da mesma forma com ele, não falou nada sobre estar triste com ou qualquer outra coisa, ele parecia tão preocupado quanto eu, então talvez minha melhor amiga esteja me escondendo algo, que eu ainda não sei como descobrir, mas vou, vou investigar até a última gota, para entender o que está acontecendo, e principalmente para ajudar, observei tanto tudo sobre ela essa semana, mas ela está fazendo questão de ser tipo um cofre de banco, inacessível.
9h25 - Casa Ana Mails.
- Mamãe, eu avisei ontem que eu vou viajar com uma amiga, lembra, ou o sono no sofá já estava muito pesado?
- Eu não estava dormindo, claro que lembro... Na verdade não lembro, estava dormindo mesmo.
- Eu sabia, mas e aí? Tudo bem eu ir?
- Depende, quero detalhes.
- O pai dela vai nos levar, o sítio dos avós dela fica a poucos minutos daqui, vamos daqui a pouco e voltamos amanhã no fim da tarde, ela vai lavar a melhor amiga e eu, deixei o número dos pais dela na geladeira, e a amiga é a Malu.
- Ah tá, assim você pode ir! Malu filha do Sr. Albuquerque?
- Ela mesmo, por que?
- O pai dela vai ser meu maior cliente, ótimo negócio.
- Uau, que coisa boa mãe! Agora preciso ir, te amo, até amanhã!
- Te amo filha, cuidado!
9h58 - Casa Maria Luiza Albuquerque.
Estou parada aqui na frente da casa da Maria Luiza a uns 5 minutos, não sei como chamar, não sei se grito, bato palmas, ligo ou mando mensagem, provavelmente eu vou ficar aqui até a hora que ela me ligar perguntando onde estou e eu vou dizer: estou na sua casa faz 1 hora.
- Ei Ana, você não ia me chamar?
- Ah, oi Malu, eu ia, é que acabei de chegar.
- Vamos dizer que eu estava a uns 5 minutos te vendo aqui, por aquela câmera.
- Ai meu deus, eu só não sabia como chamar, é difícil.
- Eu te entendo, mas eu queria saber sua decisão, por isso esperei.
- Ia demorar, ainda bem que decidiu vir abrir.
- Eu percebi, vamos entrar, vamos terminar o café da manhã e o Papai vai nos levar.
10h21 - Carro.
Estamos a caminho, o dia está lindo, o frio resolveu colaborar e sair um pouco de cena, agora o sol tá aqui lindo, e pegando nos cabelos da Malu, e eu estou tentando não olhar tanto, mas parece impossível, ela tem os cabelos mais lindos que eu já vi, são cabelos crespos, castanhos bem escuros, quase pretos, e com um volume invejável, quando ela arruma colocando uma mão de cada lado e ajeitando cada cacho, isso é de uma das coisas mais incríveis que já vi, é exatamente o mesmo movimento, com a mesma precisão e duração, eu amo observar, vejo o sol batendo na pele dela e brilhando, os olhos dela que são castanhos tão claros, que destacam perfeitamente no rosto dela, de pele escura e tão macia que eu nem preciso tocar para saber que é lisinha como o pelinho do Caju (ele deitou no meu colo outra vez).
10h51 - Sítio dos cajueiros.
Acabamos de chegar, eu estou muito apaixonada por esse lugar, cada canto que eu olho eu vejo amor e cuidado, eu fui super bem recebida, os avós da Malu são acolhedores e fizeram meu nervosismo ir embora de cara, já tem uma mesa com um bolo de milho que a cada mordida eu gosto mais, um café perfeito que se fosse para competir com o meu, ganharia fácil, a avó da Malu mostrou o orgulho dela, os pés de caju, recheados, e nos contou que o lugar que a Maluzinha mais amava ficar era ali, em cima dos pés de caju, brincando e comendo, pelo jeito vamos ter muitas histórias da Malu durante esse final de semana.
- Ana, você tem duas opções, você pode dormir no quarto de visitas, ou podemos dormir todas juntas no meu quarto.
- Não vou incomodar vocês?
- Bia, bate na Ana por mim, ela acabou de perguntar se vai nos incomodar se dormir no quarto com a gente.
- Não acredito nisso, você ronca?
- Claro que eu não ronco.
- Então você não vai incomodar né, você vai dormir com a gente e ponto final.
- Tudo bem, vou.
11h48 - Sítio dos cajueiros.
Aqui é mesmo um sítio, o almoço está pronto antes do meio dia, e na minha cabeça isso só é possível em lugares como aqui, os avós da Malu estão botando a mesa, e já falei que desmontar vai ser trabalho nosso, eles não aceitaram, mas mesmo assim vou fazer, minha necessidade de ajudar quando sou visita é maior do que eu. A Bia deu uma super ideia, logo depois do almoço vamos deitar em umas redes debaixo dos pés de caju, depois vamos a cachoeira que fica aqui dentro do sítio, e depois quando o sol começar a baixar, vamos andar por um trilha que leva até o topo de uma montanha, para segundo a Bia, ver o por do sol mais incrível do mundo, estou ansiosa, quero conhecer cada cantinho desse lugar.
12h47 - Sítio dos cajueiros.
- Só tem duas redes, tenho uma ideia, vamos tirar zerinho ou um, quem ganhar fica na rede sozinha.
- Bia, essa foi a melhor ideia sua desde que te conheci, eu vou ganhar claro, a rede vai ser sua e da Malu, vou ficar sozinha.
- Vamos ver então, zerinho ou um.... eu sabia que eu ia ganhar, só dei a idéia por isso!
- Tchau meninas, vou deitar na minha rede sozinha.
- É Ana, perdemos, não temos outra escolha.
Acabei de perceber que é impossível duas pessoas ficarem numa rede sem nenhum tipo de contato físico, eu e a Malu estamos praticamente uma em cima da outra, e eu estou estática, sem mover um único dedo, não sei se continuo na rede ou se saio e sento na grama, ou se digo que preciso ir beber água, difícil decidir, mas acho que decidi relaxar, a Malu não parece incomodada, ela está bem relaxa e colocou a mãozinha na minha cabeça, está fazendo um carinho tão leve que meu olhos estão quase fechando, o silêncio tomou conta de tudo, a Bia deve ter dormido, não consigo ver direito, e a Malu está olhando o céu e parece já ter feito carinho no meu cabelo várias vezes, ela consegue fazer tudo ficar natural, tudo ser mais leve do que seria se fosse com qualquer outra pessoa.
14h30 - Cachoeira.
- Vem Bia, a água está incrível, eu e a Malu vamos nadar até o outro lado!
- Gente a água está tão gelada, não sei se eu vou.
- Vem amiga, por mim...
- Tudo bem gente, to indo, to indo
Acabamos de atravessar a cachoeira nadando, agora estamos atrás da queda d'água, aqui é lindo, mas meu Deus é muito frio, a Bia está rindo de mim, disse que nado engraçado e que meus lábios estão roxo de tanto frio, a Bia é tão legal comigo, ela me fez sentir saudade da Laura, e imaginar como seria legal se ela estivesse aqui, logo que chegamos, a Malu comentou que eu poderia ter chamado a minha melhor amiga, mas na verdade, eu nem sei se ela estaria aqui se eu tivesse feito o convite, ela está cada vez mais distante, isso me assusta tanto, e o pior é não saber o que fazer para mudar isso.
- Eu vou te abraçar agora Ana, ou então você vai morrer de frio.
- É, tudo bem... vamos ficar aqui por muito tampo ainda?
- Não vamos não, eu to com muito frio, eu sabia que não deveria entrar na água, vou matar vocês duas!
- Tudo bem, vamos ficar na parte funda, assim a gente nada, se movimenta e esquenta mais, vamos Ana?
- Vamos!
17h03 - alto da montanha.
Fizemos uma trilha muito íngreme para chegar aqui, eu sou bem sedentária, e estou quase sem conseguir fazer que um centímetro de ar chegue aos meus pulmões, mas vale muito a pena, o lugar é lindo, já sentamos de frente pro sol e estamos esperando ele começar a se por, enquanto isso a Malu e a Bia estão contando todas as histórias de infância das duas aqui nesse lugar, fica tudo dentro do sítio, então elas tinham liberdade para correr e explorar tudo isso, o que rendeu histórias engraçadas, principalmente da Maluzinha, que parece que era uma criança bem criativa, que sempre amou vir aqui para olhar o céu, que fica lindo; tirando meu diário da mochila agora, ainda bem que ele é como meu segundo coração, impossível andar sem ele, assim sempre que tenho alguma ideia, consigo colocar aqui...

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