Capítulo 6: Arriscar.

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07h00 - Casa Maria Luiza Albuquerque.
Essa semana vai ser tão cheia que eu preciso me preparar mentalmente, eu nem cheguei direito e já vou ter semana de provas, mas o que me alivia é saber que essa semana tem feriado, o feriado Professora Violeta, eu procurei um pouco sobre na biblioteca da escola, que inclusive tem o nome dela, Violeta foi uma das primeiras pessoas a chegar em Santa Hellena, a primeira professora, para ensinar os filhos dos trabalhadores das plantações de café, ela fez tanto por essa cidade, como a abertura da primeira escola, que começou com um único cômodo, e hoje é a Fauldade da cidade, que é super renomada, Violeta ganhou um feriado alguns anos após sua morte, ela partiu com 89 anos e nunca parou de dar aulas, por isso sempre no dia do aniversário dela é feriado na cidade inteira, e tem uma festa, na Praça, do jeito que ela gostava, com música e muita comida, estou ansiosa, porquê além disso, a Bia vem me visitar, e no dia seguinte da festa, vamos para o sítio dos meus avós.
07h28 - Escola Municipal.
- Ei, Malu! Bom dia!
- Bom dia, Sam!
- Eu andei pensando, a gente sempre saí com toda a galera, nunca temos um tempo para conversar, o que acha de um sorvete depois da aula? Só eu e você.
- É... Eu preciso estudar, amanhã temos três provas bem difíceis, né?
- Pode ser rápido, a sorveteria fica aqui perto e o sorvete de morango é uma delícia, por minha conta.
- É... Tudo bem...
- Certo, eu passo na sua sala na saída.
Eu definitivamente não entendo porquê eu quase sempre não consigo dizer "não" para as pessoas, mesmo que eu queira, o Sam é um garoto legal, ele é sempre muito gentil comigo, mas eu mesmo não tendo o mesmo tipo de interesse que ele tem, não consegui dizer não para um quase encontro, e agora que eu disse que tudo bem, eu vou ter que ir, a gente já estava sendo visto como um casal pela escola toda, agora tenho certeza que todos vão achar que estamos no mínimo namorando, as notícias além de se espalharem rápido, elas se distorcem rapidinho também, foi o que eu percebi nesses últimos dias, e tudo que eu menos queria era que a escola nos vissem como um casal.
12h37 - Sorveteria Super Mel.
- Malu, seu sorvete será de que sabor?
- O mesmo que o seu, vou confiar no seu gosto.
- Dois de morango com cobertura de caramelo então?
- Morango com caramelo, provavelmente combina, então ok...
- Aqui está, você prefere comer aqui, ou ir andando?
- Podemos ir andando já que moramos na mesma direção.
- Beleza, vamos indo.
13h17 - Casa Maria Luiza Albuquerque.
- Ei, filha! Quem é o garoto que te deixou aqui?
- Oi, Mamãe! É o Samuel, um garoto da minha escola.
- Amigo ou...?
- Amigo, apenas amigo, e continuará sendo.
- Tá certo, foi só uma pergunta mocinha...
O quase encontro foi menos assustador do que imaginei, tentei fugir o máximo possível de "eu e ele" virar um "nós" durante a conversa, ele me trouxe até perto da minha casa, falamos basicamente sobre como funciona o feriado, ele me explicou tudo, disse que é uma data legal, me chamou para ir com ele, mas usei a desculpa que minha melhor amiga vai vir me visitar e não posso fazer compromissos, o que não é completamente uma desculpa, já que quero dedicar todo o meu tempo para ela, porquê parece que faz anos que não vejo aqueles olhos puxadinhos e ouço aquela risada engraçada.
17h03 - Casa Maria Luiza Albuquerque.
- Filha, fui dar uma limpada na sala de cinema e encontrei um casaco, como não é seu, julguei ser da sua amiga, está no seu quarto!
- Obrigada Mamãe, vou lá ver se é dela.
Eu tenho certeza que esse casaco é da Ana, eu nem precisei tocar nele, meu quarto tá inteiro com o cheiro dela, um cheiro que eu nunca senti em nenhuma outra pessoa, geralmente não sou fã de cheiros, eu sou uma pessoa que uma vírgula de cheiro me mata de dor de cabeça, mas o cheiro da Ana, ao mesmo tempo que consegue tomar um lugar inteiro, é suave e leve, não é tão doce, mas doce o suficiente, e eu acabei de me perceber parada, analisando o perfume dela, e por uns segundos me passou a possibilidade de não devolver o casaco só para o meu quarto ficar com esse cheiro por dias, mas preciso devolver, e vou fazer isso agora mesmo, vou pegar minha bicicleta e vou até o café, ela ainda deve estar por lá.
17h28 - Kafé da Ká.
De longe eu já consigo vê-la, antes mesmo de atravessar a pista, ela está lá, limpando o balcão, ela sempre prende o cabelo e deixa solto só duas mechas na frente, que ficam enroladinhas, sempre de óculos, e usa o dedinho para arrumar quando está caindo, ela tem a boca tão rosa que parece passar batom o tempo todo, e tenho certeza que ela não passa, não é nada a cara da Ana passar batom, sempre com uma blusa preta, calça jeans e all star, todas às vezes que a vi, ela estava exatamente assim, exceto no dia em que ela foi na minha casa, ela estava de casaco e com o cabelo solto e molhado, fica tão bonito quanto preso, ela tem um pescoço lindo e eu nem sei porquê observei isso, e também não faço ideia do porquê ainda não atravessei a pista, o sinal já fechou duas vezes...
- Ei, Ana. Ainda bem que te encontrei aqui.
- Oi, Malu. Você me fez uma surpresa, não te esperava aqui, já que está na semana de prova, os alunos nunca vem por aqui nesses dias.
- Eu precisei vir te entregar uma coisinha.
- Uau, ser sua amiga é tão legal assim, já to ganhando presentes?
- Você é engraçada, mas isso aqui já era seu.
- Eu esqueci na sua casa? Eu não lembrava, parabéns pela sua honestidade, apesar de não fazer o seu estilo, se você quisesse ter me roubado, eu nem perceberia.
- Não vou dizer que não pensei nessa possiblidade, mas fica muito melhor em você.
- Nunca te vi vestida, então não sei dizer, veste para eu dar minha opinião.
- Tudo bem, vamos lá para a análise de look, por Ana Mails.
- Tenho que dizer que me surpreendeu, ficou mil vezes melhor em você.
- E eu tenho que admitir que eu adorei, ficou muito melhor do que eu esperava.
- Então, eu achei que ia ganhar um presente, mas na verdade vou dar um presente, fica com você.
- Eu não posso aceitar, vai te fazer falta.
- Não sei se já percebeu, mas eu costumo vestir roupas parecidas, e prometo que não são as mesmas, não se preocupa, tenho outra quase que idêntica. Um cappuccino para comemorar o presente?
- Eu aceito, o casaco e o cappuccino.
21h46 - Casa Maria Luiza Albuquerque.
Hoje o dia foi longo, aconteceu muita coisa e vai valer por toda a semana, já que até sexta eu só vou para a escola e depois voltar para casa e estudar sem parar, Mamãe sempre prefere que eu não vá para as aulas de canto e violino e também tire folga do francês, em épocas de prova eu me dedico, não é torturante, mas também não é agradável, digamos que sou acostumada, mas dessa vez, estou torcendo para passar o mais rápido possível, meu final de semana vai ser incrível, e o mínimo que eu posso estar é muito ansiosa.
17h00 - Rodoviária.
Eu estou tão feliz nesse exato momento, eu e o Papai estamos esperando a Bia, a semana passou tão rápido que eu nem vi, provavelmente me saí bem nas provas, e agora eu posso curtir os próximos 3 dias com minha melhor amiga e a companhia incrível dela...
- Malu, ei, aqui!
- OI, QUE SAUDADE QUE SAUDADE, EU VOU TE DAR O ABRAÇO MAIS APERTADO E DEMORADO DO MUNDO.
- Tudo bem, pode demorar o quanto quiser, sobre apertar, não tanto, eu preciso respirar Maria Luiza!
- Me desculpa, eu já estava quase com saudade de você.
- Vamos lá meninas, vocês vão ter um final de semana cheio, vão a festa da cidade hoje?
- Oi Tio, é claro que vamos, festa é meu sobrenome!
18h45 - Casa Maria Luiza Albuquerque.
Já estou pronta para a festa, já contei sobre tudo para a Bia, e combinamos de fugir o máximo possível do Samuel, mas eu estava com um plano super maléfico de apresenta-lo para a Bia, ela é a garota mais linda que eu conheço e eles formariam um casal lindo, além de acabar com a possibilidade de um romance entre nós dois, esse plano ainda não foi excluído da minha mente, pode funcionar, além de tudo, a Bia o achou um gato, teve a audácia de dizer que queria ser eu por um único dia ao lado dele, essa garota tem toda a atitude do mundo, mais corajosa que a Bia com garotos, só duas dela, o que eu acho simplesmente incrível, minha amiga além de linda é cheia de atitude, cada dia a admiro e a amo mais, menos quando ela demora 3 horas para se arrumar, e isso acontece sempre, ela já provou e tirou umas 10 combinações de roupa, eu não sei o que fazer com essa garota, eu só posso esperar.
20h37 - Festa do Feriado Professora Violeta.
Acabamos de chegar, eu nunca poderia imaginar que era uma festa tão grande, uma banda local está tocando, e são ótimas músicas, tem muitas barracas de comida, e tem muita gente animada, de todo mundo só encontrei o Noah até agora, ele tá mostrando tudo para mim e para a Bia, eu estou encantada com tudo, todo mundo se divertindo, todo mundo se conhece e se ajuda, e isso é tão novo para mim, eu morava numa cidade umas 5 vezes maior que Santa Helena, então como as coisas funcionam aqui é novo para mim, mas eu gosto, o contato que as pessoas têm me deixa completamente apaixonada por esse lugar, eu achava que isso era impossível quando cheguei aqui, mas está acontecendo, e que bom que está.
- Malu, estava te procurando a tanto tempo.
- Oi Samuel, eu estava dando uma volta com o Noah e com a Bia, inclusive, essa é a Bia, minha melhor amiga!
- Olá, Bia! Eu sou o Samuel, mas pode me chamar de Sam.
- Oi, Sam! O prazer é todo meu.
- Noah, então vamos procurar as garotas, para ficarmos todos juntos. Você vem Malu?
- Vou sim, se a Bia puder nos acompanhar.
- É claro que pode, vamos lá.
Andamos toda a festa com a galera, agora eu e a Bia resolvemos parar na barraca do cachorro quente, para comer e conversar um pouco, e eu estou inquieta, queria ver a Ana para dizer que o casaco está sendo super útil nesses dias frios, inclusive estou com ele, sinal que o presente foi ótimo, mas ainda não a encontrei, ela não tem cara de que curte muito festas, mas é que nessa, a cidade inteira vem, ela também deveria estar aqui, vou acionar o super poder de visão da Bia para encontar a Ana, vai funcionar, sempre funciona.
- Preciso do seu super poder de visão, sabe a Ana, a garota do café que me deu esse casaco?
- Claro, o que tem ela?
- Preciso encontrá-la
- Vamos ao trabalho então, deixa eu ver mais uma foto dela, assim fica mais fácil.
- Tudo bem...
- Não precisa, acabei de encontra-la, ali, na fila da roda gigante.
- Você é incrível, vamos lá agora!
Eu estou nervosa, um sentimento estranho, estou tentando andar o mais devagar possível, para lidar com esse sentimento antes de chegar até lá, e eu sou tão horrível com esse tipo de coisa, ela está linda, com o cabelo solto, os cachos estão mais definidos, uma camisa preta, com botões até o pescoço, uma calça que parece ser 2 números maior que o dela, mas está com um caimento perfeito nela, um all star verde escuro e uma jaqueta jeans no ombro, e sempre arrumando o óculos com o dedinho, além de tá com algodão doce que é quase do tamanho dela, e eu achei isso fofo, na verdade eu nem deveria achar isso fofo, não pode ser fofo, pare agora Maria Luiza.
- Malu, terra te chama!!
- Oi, não estava te ouvindo...
- Eu percebi amiga, você parou do nada e não falou mais, vamos.
- Vamos, vamos.
- Ei Ana, achei que não fosse aparecer.
- Oi Malu, é claro que eu ia aparecer, dei uma atrasada, graças a minha mãe, mas estou aqui... já vi que adorou o presente.
- Era sobre isso que eu queria falar, obrigada, está servindo muito nesses dias frios.
- Que ótimo... Ah essa é a minha amiga, Laura!
- Melhor amiga... Oi, prazer Laura!
- Olá Laura, que coincidência, minha melhor amiga também está aqui, essa é a Bia.
- Oi meninas, é um prazer, ouvi muito de você, Ana.
- Bia, ei, psiu...
- Ouviu falar muito de mim? Me conte agora se foi coisa boa ou ruim, é uma ordem.
- Isso a Malu não me autoriza a dizer.
- Malu, você falando mal de mim para sua melhor amiga, como ousa, vou querer saber melhor sobre isso.
- Ana eu juro que não foi nada demais, a Bia é exagerada... Cadê a sua amiga?
- Ué, Laura? Gente eu não a vi saindo.
- Eu vi, ela saiu naquela direção.
- Obrigada, Bia, vou ver se tá tudo bem, até depois meninas!
- Até!
0h58 - Casa Maria Luiza Albuquerque.
Acabamos de chegar, não ficamos tanto porquê amanhã logo cedo vamos para o sítio dos meus avós, então precisamos descansar, a Bia já dormiu, eu ainda estou vendo tv e pensando em como a festa foi legal, eu adorei muito mais do que eu achei que podia, as pessoas foram legais e simpáticas o tempo inteiro, provei um milho assado incrivelmente gostoso, o clima estava frio, mas um frio não tão frio, mais ou menos isso, um só casaco era o suficiente, o casaco que a Ana me deu, foi o precisei para me manter aquecida... Uma noite tão agradável, é difícil acreditar que cheguei a tão pouco tempo aqui e já estou me sentindo em casa, essa cidade tem gosto, jeito, cheiro e cara de casa, e eu amo isso.
Meu celular está vibrando e eu penso nesse exato momento que se eu pudesse ter um super poder eu com certeza escolheria mover coisas com a força da minha mente, ele está em cima da minha mesinha e minha cama está tão confortável, mas já que não sou a Jean Gray do X-Men, vou ter que ir pegar.
Ana 🌻: Oi, senhora Maria Luiza! Você pode me explicar agora o que falou de mim para a sua melhor amiga?
Malu 🐱: Que tal se eu falar amanhã? Tenho um convite...
Ana 🌻: Você sempre tem convites? Não estou reclamando, só perguntando.
Malu 🐱: Não para todo mundo, sou exigente quando o assunto é fazer convites.
Ana 🌻: Me sinto lisonjeada, qual o convite?
Malu 🐱: Amanhã, às 10 horas, eu e a Bia vamos ao sítio dos meus avós, fica a poucos minutos, vamos passar o final de semana naquele lugar que eu te juro que é o mais incrível que eu conheço. E aí, topa?
Ana 🌻: Se você for me falar o que disse para a Bia, eu topo tudo! Amanhã às 10 horas estarei na sua casa!
Malu 🐱: Não garanto nada, apenas que os próximos dois dias serão incríveis!
Ana 🌻: É o suficiente, e tenho plena certeza que será muito incrível!
Boa noite, Malu!
Malu 🐱: Boa noite, Ana. Até logo, te espero ansiosa!
Ainda bem que aceitei que eu não era a Jean Gray e fui pegar o meu celular. Não tenho noção de como será esse final de semana, garanti para Ana que seria perfeito, mas eu não tenho idéia de como vou me sair, já que pareço ficar 100% tensa e nervosa quando estou perto dela, mas independente de como fico, eu gosto de ficar, gosto de ficar perto dela.

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