Capítulo 12 - Nuvens negras

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Fomos para o centro e deixei-a no trabalho. De posse de meu atestado, decidi esquecer aquele episódio, fazendo o que fazia todos os dias, trabalhar. Havia reparado que, no céu, nuvens negras prometiam uma chuva pesada, mas anunciavam algo mais...

Decidi não compartilhar aquele estranho encontro no hospital, nem com Natália e muito menos com Samir. Eles não acreditariam na história, especialmente meu colega libanês. Com isso, evitaria ser confrontado pelos dois o dia inteiro.

Lembrei-me do alerta de Gregório sobre a tal garota e decidi ficar na minha, pois ele novamente me apontaria com a caneta e talvez dizendo: "último aviso". Então, dei seguimento ao dia...

Eu já tinha alguma percepção sobre os sentimentos de Beth e conseguia "ler" algumas mensagens que escapavam. De minha parte, eu não queria estar no Castelo Inglês naquele dia. Assim, levei-a até em casa, mas fui embora em seguida, pois tinha outro motivo para não ficar...

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Quando cheguei à minha casa, perto das 20h, a chuva parara e novamente eu não vira o Peugeot. De novo pensei: Erick não deve mais aparecer. Só que meu Fusca, barulhento como sempre, denunciou minha chegada. Então, não demorou até que eu abrisse a porta de casa e a campainha tocasse.

Fiquei pensando: quem será uma hora dessas? Voltei até o portão e, quando o abri, lá estava ela, Amanda. Como nos dias anteriores, a garota estava "de outro jeito". Com uma jaqueta de couro e uma saia vermelha, cheia de hieróglifos egípcios, a morena tinha uma expressão séria no rosto.

Então, logo de cara começou:

— Oi Regi, tudo bem? Queria falar contigo, pode ser?

Arrepiei-me, pois "falar comigo" significava entrar em casa. Concordei, afinal, a água podia cair novamente a qualquer instante. Amanda estava realmente bonita e ainda tinha nos lábios num vermelho bem forte.

Convidei-a para tomar um lugar no sofá maior e me posicionei a certa distância, como precaução. Até semanas atrás, eu nem pensaria nisso. Amanda? Sem chance! Sentou de lado e cruzou as pernas, enquanto eu fiquei na outra ponta do mesmo sofá, perto da passagem para a cozinha.

Mexendo no cabelo, Amanda disse:

— Então Regi, eu pensei muito naquela nossa conversa nos dias que se seguiram.

Meus batimentos subiram de uns 60 ou 70 bpm para 90 ou 100 bpm, de imediato. Olhei para ela com certa preocupação, mas decidi não interromper. Ouvir primeiro é uma característica pessoal, mesmo em situações "perigosas".

— Eu decidi terminar com o Erick. Ele não gostou nada e disse que nos últimos dias eu estava agindo de modo estranho, essas coisas... – falou.

Como Erick não podia estar mais certo? Eu também achava o mesmo. Amanda mudara e não fora o emprego novo que fizera isso.

— Ele pediu um tempo para eu pensar melhor e tal. A princípio eu não concordei, mas depois, não sei o porquê, aceitei a ideia – disse.

Acenei com a cabeça como que concordando com ela, mas continuei quieto. Estava interessado em saber até onde iria aquele assunto. Pouco depois, me sentiria estranho ao pensar nisso. Por que eu haveria de ter interesse?

— Só que nos últimos dias, eu tenho percebido que o melhor é não estar mais com ele. Creio que aquelas fases da "pegação" e "curtição" passaram. Eu quero algo mais sólido para mim, entende? – ponderou.

Realmente, ela mudara.

— Sim, você tem razão Amanda. Acredito que a vida da gente tem fases e quando se inicia uma, não dá para ficar preso à outra, exceto se a mesma nos acompanhar – opinei.

O que ela viu em mim? - Volume 1Onde histórias criam vida. Descubra agora