Capítulo 15 - Amado, mas não amando

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Elizabeth nunca mais voltou à minha casa. Aquela parte de mim que perdi nem mesmo ligara e fui condenado à prisão perpétua do amor dela. Passaram-se dias, semanas e meses. Amanda teve muito trabalho comigo e cheguei mesmo a faltar ao serviço.

Ela me levou ao médico, que me diagnosticou com depressão e acabei afastado da empresa. Samir e Natália não ficaram sabendo de imediato, mas alguém os contou e eu os perdi... Essa era uma das causas do meu pecado.

Foi-me retirada também a amizade de meu irmão Rogério, que ficou anos sem falar comigo. Kátia, no entanto, me perdoou. Minha cunhada ainda teria um papel importante em minha história e eu saberia bem disso adiante.

Meus pais ficaram decepcionados, mas eram meus pais. Contudo, também me perdoaram, assim somo o restante da família. Também pais, Moacir e Letícia aceitaram, a contragosto é claro, a decisão da filha.

Meu martírio pelo vale das sombras também teve violência. Fui agredido em um dia pelo Erick, em um acesso de ciúmes, porque acreditara que retornaria à sua ex-namorada. Foram dois ou três socos, eu nem lembro.

Só não caí por causa do muro, onde me apoiei. Ela se meteu no meio e levou um também... A mãe dela chegou agarrá-lo e quase foi ao chão. Foi uma cena deprimente para todos, infelizmente.

Eu ainda estava sendo punido e teria aceitado os golpes dele com prazer. A morte para mim era um pensamento recorrente, mesmo diante do amor dela. Comecei a tomar remédios contra depressão, o que foi inevitável.

Tentei voltar ao trabalho, mas tinha medo de sair à rua. Comia no próprio escritório, mas apenas quando tinha fome, pois, raramente eu conseguia ir além da metade do prato. Perdi peso e emagreci uns 10 kg em meses.

Eu tinha medo realmente era de encontrar Elizabeth. Vê-la me ignorar e desprezar seria como um gatilho e, sem alguém por perto, eu não sei o que seria de mim... Para piorar, Samir e Natália não falavam mais comigo.

Gregório não conseguia me animar, sendo o único que ficara ao meu lado e isso seria crucial no futuro. Ele seria para mim como um pai...

Amanda todo o dia cuidava de mim, mesmo sabendo a verdade. Ainda que diante do meu quadro, que não mudara em meses, ela decidiu oficializar nosso casamento. Por algum tempo, em respeito a ela, eu melhorei um pouco.

Casar com Amanda era mais que agradecimento, uma tentativa de realmente tentar ser feliz do jeito que estava.

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No dia 8 de novembro de 2003, numa cerimônia simples na Paróquia Sagrada Família, eu e Amanda nos casamos. Eu vestia um terno preto com risca de giz. Ela tinha um lindo vestido branco com rendas serpenteantes, como se fossem as ondas do mar.

Seu vestido não era decotado e as mangas iam até os pulsos. O cabelo, com um coque, tinha o véu fixado sob a pequena coroa e ela estava realmente linda.

Na igreja, toda minha família se fazia presente, exceto Rogério. Kátia viera sozinha e era uma das madrinhas. Todos da família de Amanda vieram também.

Contudo, entre os presentes, havia alguém importante. Na verdade, eram duas pessoas e, do meu futuro dependia aquela amizade. Quando a vi chegar e acenar, lembrei-me da estrada de Damasco e daquela "luz".

Eu tive vontade de chorar, mas ainda não podia. Então, eu olhei para a imagem de um menino com seus pais. Sim, vira ali a luz de Damasco, que transformara meu algoz em aliado, uma amiga para sempre.

Kelly e Mark estavam sentados num dos muitos bancos daquela igreja. Ela prometera que me atormentaria enquanto pudesse, para que eu sofresse em vida tudo que tinha feito de mal a Elizabeth.

O que ela viu em mim? - Volume 1Onde histórias criam vida. Descubra agora