Capítulo 6 - "Naquele lugar especial"

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Acordei cedo, como de costume. Olhei pela janela e o tempo continuava tão feio quanto no dia anterior. Antes de começar o dia, refiz meu pensamento e disse a mim mesmo: "tenha calma, será um dia sem ela".

Lembrei-me da camisola e achei-a debaixo do meu edredom. Ainda sentia o perfume de jasmim e o doce cheiro de Elizabeth. Apesar de sua ausência momentânea, eu estava alegre. Tomei um bom banho, me agasalhei bem e fui para o ponto de ônibus. Ao sair, olhei para meu Fusca com ar saudoso...

— Ah! Quantas aventuras, não é mesmo, meu companheiro?

Disse isso para eu mesmo ouvir, sob o guarda-chuva preto. Rumei para o ponto, que não era longe, apenas um quarteirão de casa. Chovia sem parar, mas essa quinta-feira prometia e eu ainda nem sabia disso...

Ao chegar, tinha seis pessoas sob a cobertura, que não era muito grande. Devia ter uns dois metros de comprimento por um de largura. Assim, tive que ficar sob a minha própria proteção.

Enquanto aguardava, abaixei-me para olhar as calças e notar que já estavam úmidas, mas quando levantei a cabeça – e o guarda-chuva – me deparei com ninguém menos que ela...

— Oi Regi.

Amanda acabara de falar comigo e eu, surpreso, não a tinha visto atravessar a rua. Sorri e respondi ao cumprimento, mas perguntando também:

— Oi Amanda. Está melhor?

Sim, eu não havia esquecido o que acontecera com ela. De sombrinha branca com tons de vermelho nas pontas, ela me olhou surpresa. Talvez pensasse que eu já tinha esquecido seu problema de saúde recente, mas respondeu com simpatia, algo que me deixou espantado.

— Sim, agora estou bem melhor – fez uma pausa enquanto tomava fôlego – mas naquele dia estava bem mal...

Continuei olhando para ela.

— Ainda bem que tomei uma injeção "daquelas" e, com repouso, as dores acabaram.

Eu parecia uma estátua, ouvindo o que ela dizia. Naquele dia, Amanda parecia estranhamente falante e achei-a diferente. Parecia outra pessoa.

— Após um tempo, meu pai veio nos buscar – disse.

Ela então olhou na direção de onde sairia o ônibus e me retornou. Eu continuava ali, observando-a atentamente e querendo saber o motivo daquela mudança toda. Então, subitamente ela disse:

— Minha mãe te mandou um recado, lembrei agora...

Frisei o olhar. Recado? Dona Letícia? O que seria? Amanda resolveu a questão.

— Ela pediu para te agradecer por ter nos ajudado na calçada.

Arregalei os olhos e sorrindo, falei:

— Que nada! Não precisa agradecer... Vi que precisava de ajuda e fiz a minha parte. Ela teria feito o mesmo por mim.

Eu não devia ter dito esta última parte, mas saiu inocentemente. Só me dei conta quando ela falou e aí já era tarde, mas também me ajudou a ter uma noção do que acontecia ali. Amanda fez uma cara séria e perguntou, virando levemente a cabeça e me encarando:

— E eu? Não teria feito o mesmo por você?

Pensei que ela estava querendo arrumar confusão, então tentei apaziguar com outro sorriso, não de escárnio, mas de simpatia:

— Claro Amanda! Você, sem dúvida, me ajudaria com certeza.

Essas eram palavras proféticas que eu jamais poderia esquecer... Ela desfez o rosto sério e até abriu um sorriso, enquanto o ônibus se aproximava. O coletivo era o meu – quer dizer, o nosso – mas estava bem cheio. Nesse momento, decidi pegar o seguinte, que já virava a esquina.

O que ela viu em mim? - Volume 1Onde histórias criam vida. Descubra agora