capítulo 17 • arco 3

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UM CHEIRINHO inconfundível de hospital inundou as suas narinas. A mente confusa de Bakugo sentia o mundo ao seu redor girar, e seus olhos carmesim fitaram o teto por uns segundos até que notasse a luz branca incomodando sua visão. Desviou o olhar, olhando o médico conversar com sua mãe e Hyuna.

—— Ele é muito forte. Seu cérebro não parou de pensar e fazer ele falar coisas aleatórias para que sobrevivesse sem aparelhos e auxílios médicos. —— o homem mexeu na prancheta, folheando as páginas ali presas. —— Sua metodologia de sobrevivência foi perfeita. Foi um milagre eu conseguir recuperar seu cérebro em 51,4%. O corpo dele está em um estado horrível, e... Sinto lhe dizer, mas ele nunca mais poderá usar sua individualidade novamente.

—— Oh, céus... Desde que ele fique bem... —— Mitsuki suspirou, olhando o médico com pesar.

—— Era o sonho dele —— Kagami estava desnorteada, parecia que viu um fantasma. —— Ele queria ser um herói. Certeza que preferiria ser morto do que perder o que tinha...

—— Hyuna, não pense assim... —— antes que Mitsuki pudesse terminar, o médico ficou boquiaberto ao olhar o loiro no canto da sala.

—— Ele acordou... Antes do esperado! Ele me surpreende a cada segundo que passa... —— murmurou, se aproximando assim como as mulheres, as duas de um lado e ele de outro. —— Você consegue falar?

O loiro tinha um olhar perdido. Encarou o médico por segundos antes de alterar seu olhar para Hyuna e Mitsuki.

—— Hyu...na... —— foi tudo o que saiu de sua boca, a garganta arranhando, e engolindo em seco. O homem lhe deu um copo de água na boca para que ele bebesse.

BAKUGO KATSUKI

Eu não sentia meu corpo. Estava tudo dormente, como se ainda dormissem. Minha mente estava uma confusão, a cabeça doía só de tentar lembrar o que estava acontecendo. Hyuna e seus olhos verdes que me encantavam, me encaravam preocupados. Sua mão segura a minha, não sei como senti isso, mas respirei calmamente enquanto ainda a observava.

—— Katsu... —— ela murmurou, e eu tentei sorrir. Meus lábios se esticaram em um sorriso fechado e dolorido, eu queria dizer de alguma forma que estava bem.

—— Não se esforce muito para falar. Sinta-se a vontade, você tem todo o tempo do mundo para lembrar das coisas e se manter calmo —— avisou o médico devagar, para que eu conseguisse absorver suas falas. Eu não conseguia nem mexer a cabeça, meu corpo nem parecia mais ser meu, então só o observei em resposta. Talvez fosse preocupante eu estar assim sem me mexer, mas era o que eu tinha.

—— Oh, meu Katsuki —— lamentou minha mãe, se sentando numa poltrona ao lado. —— Você foi tão bem... Eu te vi lutar pelas câmeras que transmitiam tudo para a televisão. Você foi maravilhoso. Me orgulhei tanto... —— ela parecia querer chorar, mas sorriu ao invés disso.

—— Você... É meu grande herói, Katsuki —— completou Hyuna, sorrindo melancólica enquanto deixava um selinho em minha mão direita. Eu fiz uma careta por sentir uma ardência, e decidi olhar meu corpo de uma vez.

Eu devo ter quebrado no mínimo duas costelas pois eu sentia embaixo da camisola de hospital os curativos. Quebrei das duas pernas, estão ambas engessadas, e meus braços tem curativos e bandagens desde os ombros até as pontas dos dedos. Minha barriga também estava cheia de arranhões e bandagens, provável que feri algum órgão interno.

—— Hyu... —— a chamei, e ela sorriu novamente e me encara. A olho de volta. —— Está... tudo bem. Eu não preciso... Ser um herói... Número 1 pra cidade... —— me doeu dizer aquilo (nos dois sentidos, cara, preciso de água), mas queria confortá-la. Eu não precisava de um posto de herói número 1 pra ser realmente um herói.

—— Relaxe Katsuki. Não é seu fim, vamos dar um jeito! —— ela respondeu. Nem mesmo minha mãe quis intervir e falar coisas positivas, então eu já imaginava o que viria a seguir. O médico no canto da sala anotava o meu processo de recuperação aos poucos.






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Eu fui entrevistado. Me nomearam como o segundo melhor aluno por encarar frente a frente Chisaki, e nomearam Midoriya como o primeiro melhor aluno por finalizar a batalha por mim. A escola recebeu maus olhares, mas os heróis venceram e manteram todos da escola a salvo, isso que importava.

All Might me dizia coisas positivas, enquanto Aizawa me mandava a real: eu não seria mais um herói. Não tinha outra alternativa.

Com dificuldade, me movo usando a cadeira de rodas (sim, cadeira de rodas, não me recuperei por completo apesar de ter levado alta. A fisioterapia ajudou, mas fazer o que?) e continuo a ir até o fim do corredor de salas de aula. Eu troquei de lugar com Shinsou na turma, a diferença é que ele foi para a 3B. Agora eu faria vestibular normal.

Eu sempre quis ser o herói de classe número 1, por isso nunca pensei em fazer um ensino médio regular. Eu precisaria de muita ajuda para pensar em outra coisa que eu queira ser.

Por mais que todos me olhem de maneiras diferentes (uns com medo pela força que eu tive de peitar o Overhaul, outros com respeito e outros me olhavam estranho) achando que eu não superei o fato que não serei mais herói... Sim, eu superei.

Se eu quase morri, salvando alguém, eu fui mais herói que qualquer um ali e esse pensamento de que eu fui superior aos outros alunos me deixou satisfeito comigo mesmo pela primeira vez na vida.

Com um sorriso bobo no rosto e discreto, saio da escola e vou pelo campus (haja força nos braços pra me empurrar na cadeira até lá junto com a mochila). Sinto de repente a cadeira ficar mais leve, e olho para trás.

—— E aí, Kacchan —— ele também estava cheio de curativos dos pés a cabeça, todo quebrado, mas a mão direita podia me ajudar a "andar". —— Como vão os novos estudos? —— sem nenhuma intenção de me zoar ou algo do tipo, senti (mesmo olhando pra frente agora) um sorriso gentil de formar em seu rosto.

—— Estão indo bem, apesar de ter frequentado só metade da semana. Os estudos deles são muito leves —— murmurei, e ouvi sua risada baixa. —— É sério! Nós estudávamos muito mais. Só não sei ainda que droga de profissão eu escolho.

—— Você é inteligente, Kacchan. Só não pode escolher nada muito físico... Mas você tem muito potencial pra bastante coisa —— ele respondeu, e eu suspiro. —— Você fazia balé quando menor, não fazia? —— essa pergunta me constrangeu. —— E sabe tocar bateria. Por que não pensa em dar aulas das duas coisas?

—— Tá, tanto faz, pode ser —— sinto minhas bochechas corarem, e apenas me observo ser carregado por ele até o lado de dentro da sala principal do prédio de dormitórios.

—— Quer tentar andar agora? —— ele perguntou curioso, me analisando. Talvez quisesse ver como estava meu desempenho.

Resmungo um palavreado e me apoio no encosto do sofá, me erguendo devagar da cadeira e iniciando uma caminhada extremamente lenta e necessitada de apoio. Mas mesmo assim, estava me sentindo melhor nesse ato do que antes.

—— A recuperação vai ser um saco —— resmunguei.

—— Vai mesmo —— riu Deku, me ajudando a andar comigo até o elevador.

✔︎ | 𝗣𝗨𝗦𝗛 & 𝗣𝗨𝗟𝗟; 𝖻𝖺𝗄𝗎𝗀𝗈 𝗄𝖺𝗍𝗌𝗎𝗄𝗂 Onde histórias criam vida. Descubra agora