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Velhas dores, novos temores... Muitas vezes, pensamos que não é possível nos machucarmos ainda mais perante algo de nosso passado. Ledo engano, o passado sempre será o motivo da dor de alguns. Velhas dores, novos temores...

Muitas vezes, pensamos que não é possível nos machucarmos ainda mais perante algo de nosso passado. Ledo engano, o passado sempre será o motivo da dor de alguns.

Jeongguk cortava alguns itens que precisaria para o momento que o restaurante abrisse para o dia, como chef, ele gostava de manter o máximo de itens possíveis, adiantados. E era isso que o levava sempre a entrar mais cedo que o restante da equipe, e sair pouco depois de todos. Por sorte, a escolinha de Minsoo era próxima e algum de seus hyungs sempre o ajudava. Abrir uma nova filial, era algo que sempre agradecia a Seokjin, mesmo que esse não fizesse parte realmente do andamento do local, visto que o ômega possuía outros negócios não ligados a restaurantes, e com isso deixasse o restaurante nas mãos de Jeongguk, Namjoon e Hoseok.

Ele estava perdido em pensamentos, focado no que fazia, embora para alguns pudesse ser complexo, se perder em algo e ainda assim, manter o foco, quando ouviu o toque de seu celular, e não era um toque para pessoas próximas. Sim, Jeongguk mantinha toques distintos no aparelho, para que assim, pudesse distinguir o grau de relevância. Parando o que fazia, o ômega secou as mãos num pano de prato próximo, e foi em busca do aparelho. Na tela, o número de Taehyung brilhava.

— Alô. — Silêncio. Um leve fungar e então...

— Jeongguk, sou eu, Taehyung. Eu não consigo, eu não consigo respirar.

O Jeon entendeu o que estava acontecendo, já havia presenciado muito isso. Taehyung estava tendo uma crise. E sem poder fazer qualquer outra coisa, o ômega sentou-se numa cadeira no salão, e começou a fazer o que fazia sempre nesses momentos. Cantou.

Do outro lado, deitado no chão do quarto, Taehyung sentia o coração acalmar, suas batidas que antes retumbavam nos ouvidos do alfa, tornavam-se cada vez mais amenas.

Sua respiração doía cada vez menos.

E tudo graças a Jeongguk. Que sempre conseguia acalmar seu coração! E seus medos.

Ele jamais admitiria, mas ainda mantinha em seus arquivos, momentos do ômega cantando para si, áudios com sua voz. E foram esses momentos, em vídeos ou áudios, que muitas vezes o puxaram de volta do precipício que era sua mente. Jeongguk sempre o salvara, mesmo longe.

— Obrigado Jeonggukie.

Ainda sem realmente entender o que havia acontecido, Jeongguk se preocupou: — Quer conversar? Sinto que você ainda não está bem.

O alfa sentiu seu corpo pesar, sabia que logo apagaria, consequências da exaustão de mais uma crise. — Em breve, eu prometo. Assim que chegar de viagem, eu gostaria de conversar com você e também ver nosso filho, se estiver tudo de acordo para vocês.

Jeongguk não insistiu mais, sabia que o Kim precisava descansar, era algo recorrente de suas crises, então calou. — Não insistirei, e sim, poderemos conversar quando você chegar, e você também pode ver Minsoo. Basta me avisar quando estiver aqui. Fique bem Taehyung, e lembre que nada é tão ruim assim, se você tiver em quem se apoiar.

— Esse é um problema coelhinho, eu não tenho. Até mais.

E desligou.

[°°°]

Do outro lado, horas mais tarde, Taehyung conseguiu forças para se levantar do chão, ainda com a cabeça dolorida, o alfa caminhou até o banheiro, e após se despir, tomou um longo banho, fazendo a barba logo em seguida, ele não era voltado aos pelos faciais, embora na juventude, ansiasse por eles, tinha em mente que ficaria belo com barba. Se olhando no espelho, pareceu-lhe que havia envelhecido por anos, e não que ainda estava na casa dos vinte.

Seu envelhecimento vinha de dentro, e ele o tinha pela perda das ilusões que carregava. O olhar dourado, lhe fitando de volta, lhe dizia que Höör concordava. — Seremos e faremos diferente, a partir de agora.

Foram suas palavras antes de sair do banheiro. Após trocar-se, o jovem alfa, desceu em busca de algo para comer, não tinha vontade de sair, mas também não lhe parecia saudável se manter trancado.

Então, ele saiu, começando a caminhar pelas ruas da cidade, que parecia acordar com o anoitecer. Taehyung caminhou por ruelas, por avenidas, observando os carros e os transeuntes, perdido ao olhar a paisagem. O alfa perguntava-se, quantas daquelas pessoas guardavam em seus corações alguma dor, semelhante ou não às suas.

Ele lhes desejava sorte.

Após um longo tempo, o Kim se viu diante de um pequeno restaurante. O aroma que advinha dele, fez com que seu estômago, vazio por algumas horas, cantasse. Ou seja, roncava em som audível o bastante.

Com a boca cheia de água, o alfa entrou no mesmo, sendo recebido pelo cheiro de molho caseiro e manjericão. Foi recebido também, por um jovem, um beta, que o acompanhou até uma mesa, e lhe entregou o menu.

Taehyung não precisou de muito tempo, para decidir pelo prato da noite. Ele escolheu um Bucatini all'amatriciana, acompanhado de Cotoletta alla milanese, e como sobremesa, o alfa escolheu uma que lhe era muito especial, Struffoli, que havia sido apresentado a ele, por Jeongguk anos antes, em um de seus natais, e descobrir que ali, mesmo sem ser Natal, o doce era servido, lhe deixou feliz.

Felicidade essa que só não foi maior, por não ter o ômega ao seu lado, pronunciando com um lindo biquinho, o nome do prato, ou dizendo ao Kim, que havia queimado seus dedinhos, ao prepará-lo, o que renderia inúmeros beijinhos para sarar o dodói, e um ômega coradinho.

Após o jantar, o Kim retirou-se do restaurante, e voltou a caminhar, parando em frente a uma ponte, onde um grupo de coral cantava. Suas vozes eram belíssimas e juntas, formavam uma melodia única. E isso fez bem ao alfa.

Era bom se sentir bem, mesmo que isso não fosse durar muito tempo.

Após um longo momento, ele voltou a caminhar e já cansado, pegou um táxi e voltou ao hotel. Encerrara seu tempo ali, era hora de voltar para casa e tentar consertar a bagunça que tudo havia se tornado.

Era hora de confrontar seu passado e assim ser livre para escrever seu próprio faturo.

Ele voltaria para casa em dois dias.

E o primeiro passo, seria conversar com Jeongguk, e conhecer realmente seu filho.

Então chegando ao hotel, ele subiu ao quarto, e checou seus horários, seu voo estava confirmado, suas malas estavam quase feitas, ele tiraria o dia seguinte para comprar alguns presentes.

Pedidos de sua afilhada, e claro, compraria itens para Minsoo. Não sabia ao certo o que o próprio filho gostava, mas estava mais que disposto a conhecer.

Ele buscaria se tornar um pai.

O melhor deles e procuraria se certificar de dar a sua família, o mais puro envolvimento.

O amor sem amarras e julgamentos.

E foi assim, que dois dias mais tarde, ele se despediu da Itália, com duas malas extras, carregadas de bichinhos de pelúcia, carrinhos e outros mimos, como aquarelas, e carregando na bagagem de mão, um pote enorme dos docinhos que Jeongguk o ensinara a amar.

No coração? A vontade de recomeçar e ser diferente. De pedir perdão e fazer por onde ser perdoado.

O desejo quase infantil de ser amado e poder amar livremente.

Ele só não esperava que alguém tivesse tido a mesma idéia. Ir até o Jeon.

Muitas vezes, temos que tomar as rédeas de nossa própria existência. Não é uma tarefa fácil ou simples, é das mais dolorosas em verdade. Mas só podemos afirmar que verdadeiramente vivemos, quando somos escritores de nosso destino.

Para o bem ou para o mal. Agora é a hora de viver, de reconhecer os erros e procurar justiça nos acertos.

Então caros leitores, amados espectadores, companheiros e amigos de viagem, eu gostaria de dizer que tudo tende a melhorar, que embora a dor ainda se faça presente, ela agora torna forma e liberta as correntes, afinal nem toda dor é ruim, muitas vezes porque precisamos dela para encontrarmos o caminho da felicidade real e inquebrantável.

Unforgivable Love - TaekookOnde histórias criam vida. Descubra agora