.XI.

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"So let's set the world on fire. We can burn brighter than the sun."

- We Are Young by Fun.

Quando, uma hora mais tarde, Harry girou a chave na fechadura e deu passagem para que Louis entrasse na sua frente, não havia ninguém para recebê-los e o menor meio que agradeceu por isso, tropeçando sobre os próprios pés e se deitando no chão tão limpo que era possível ver o reflexo de seus dedos esticados. Estava muito quente, mesmo naquela altura da madrugada, e o piso gelado por conta do ar condicionado central sempre ligado servia para aliviar.

— Obrigado por ser rico.- ele murmurou de olhos fechados, escutando os passos do outro se tornarem mais distantes.

— Agradeça a lúcifer.- sua voz saiu alta, ressoando pelo lugar fechado e pouco habitado.

Louis, então, indagou sério:— Isso não me levaria ao inferno?

— Querido...- o tom utilizado se assemelhava a um adulto observando um bebê e lamentando "pobre criança."— Não vê? Você já está nele.

O silêncio desconfortável se instalou no ambiente e, após incontáveis segundos, Louis se colocou de pé, andando até a banqueta do piano, dedilhando as teclas sem ler partituras, sua mente o guiando perfeitamente pelas notas baixas. Ele se senta confortável com a melodia. É uma cantiga de ninar, ele se lembra da sua mãe cantando nas noites em que o escuro parecia querer devorá-lo. Lentamente se perdendo nas memórias, seus dedos viajam até as teclas opostas, um som estrondoso se formando, como uma tempestade que está a caminho para acabar com tudo ao redor. Louis está tão recluso em seu mundo que mal percebe Harry se aproximar. O cacheado deixa as coisas que buscou na cozinha no canto da escada, subindo no piano e se deitando de lado, a cabeça apoiada na mão como nos filmes antigos. Ele está admirado, isso é fato, mas não pode deixar de sentir a angústia de Louis, tocando propositalmente uma nota aguda para que o garoto saísse do transe.

Os olhos azuis se abriram no mesmo instante, totalmente atônitos.

— Você tem talento.- Harry elogiou com um sorriso suave nos lábios.— Onde aprendeu essa música?

Um tanto quanto desconcertado, Louis limpou sua garganta e arregaçou as mangas para cima, fitando as íris verdes logo em seguida. Harry parecia uma escultura, ele merecia virar uma obra de arte daquelas que se tornam valiosas com o passar dos anos e os museus de grandes nomes brigam entre si para expor em seus aposentos por pelo menos um final de semana.

— Obrigado, mas a segunda é minha. Aprendi a tocar piano com o meu avô, no entanto.

— Não sabia que era músico.

—E não sou.- Louis riu negando, achando graça na feição surpresa de Styles.— As vezes algumas melodias ocupam a minha mente e sou incapaz de negar tocá-las ao menos uma vez na vida.

— Hm, essa me lembrou trovões, relâmpagos e chuva forte.

Louis deu de ombros.

— É assim que me sinto a maior parte do tempo. Um dia parcialmente ensolarado que engana banhistas e pessoas que tem planos de viajar para o litoral.

— Ei, mas isso não significa que é algo ruim.- Harry observa.— Poder se comparar com o céu e seus eventos deve ser uma honra.

— Olhe só você! Uma criatura do inferno elogiando o céu...- provocou totalmente petulante.

Uma careta se formou no rosto bonito de Harry e, de um ângulo complexo, tocou no piano o efeito sonoro de filme, como se Louis tivesse chutado uma bola bem na trave do gol, levando a torcida rival a loucura. Seu cabelo cobria as bochechas rosadas, mas ainda era possível enxergar o vestígio de um sorriso ali.

a little death {lwt+hes}Onde histórias criam vida. Descubra agora