a little death {lwt+hes}

.XX.

"Dear Lord, when I get to heaven please let me bring my man."

- Young And Beautiful by Lana Del Rey

Os vestígios da noite passada se encontram nas roupas espalhadas, lençóis bagunçados e marcas arroxeadas sob a pele leitosa e imaculada das coxas fartas emboladas no edredom. Cada mínimo hematoma no corpo esbelto e adormecido contava as juras de amor silenciosas feitas por uma boca levemente rosada, cujo o amou como se todo o ato fosse uma oração. Ocupando o espaço central da cama enquanto abraça firmemente o travesseiro contra o peito, lábios franzidos, expressão relaxada e cílios tocando as maçãs do rosto, ele parecia imperturbável, facilmente confundido com alguma figura que fugiu da pintura no teto da capela sistina.

'The sluggard', de Frederic Leighton, se assemelha muito mais a realidade ao que os músculos das costas se tencionam quando Harry se espreguiça após o despertar. O tecido dos lençóis lentamente se adequavam ao seu corpo curvilíneo até despencar da beirada da cama– E Harry não poderia se importar menos com o vento gelado eriçando seus mamilos e pelos ralos. Suas mãos tatearam cegamente o colchão a procura do corpo quente de Louis, e as íris verdes rapidamente apareceram ao notar que não havia mais ninguém ao seu lado.

Dentro de uma lentidão única, uma solitária pena branca voou até seu rosto, pousando sob seu nariz e lhe deixando deliberadamente vesgo ao tentar entendê-la. Não demorou mais do que segundos para que seu cérebro, ainda acordando, ordenasse que seus membros se movessem, o colocando de pé tão rápido que uma leve vertigem o atingiu por um instante. Todo o quarto estava coberto por penas brancas– ele toca suas costas, mas não tem ferimentos. Seus olhos seguem a trilha de penas que levam até a sacada com a porta de correr entreaberta e sem nenhum sinal de seu amor. O sol da manhã invade o quarto e Harry se desespera, correndo para o lado de fora enquanto chamava, entre lágrimas grossas, por Louis sem interrupções, pouco se fodendo para as cordas vocais doloridas e os soluços que o impediam de respirar corretamente.

Não podia estar acontecendo de novo. Ele agarrou os fios de cabelo, quase os arrancando de seu couro cabeludo com tamanha força.

Não, Não, Não.

— Harry?

Ele se virou de abrupto, não se dando tempo para assimilar por completo a situação, e se jogou nos braços do menor, chorando tão envolto da própria emoção arrebatadora que parecia uma criança assustada depois de ter um pesadelo. Louis o abraçou forte, liberando, sem nem ao menos perceber, cheiros que inconscientemente sabia que acalmariam Asmodeus.

Harry tenta falar, mas seu choro o atrapalha, então Louis beija sua testa e pede para que ele primeiro se acalme e depois conte o que aconteceu. Sentindo a pele nua alheia sobre os próprios dedos calejados, o menor o pegou no colo, deixando com que o cacheado enlaçasse sua cintura com as pernas para poder lhe dar mais firmeza no caminho de volta a cama bagunçada.

E é quando Harry se recupera e só restam soluços mínimos e baixos, que ele percebe as lindas, e duas vezes maiores, asas pretas presas as omoplatas de Louis. Para completar, ele também parecia ter ganhado mais músculos.

Harry, em um momento de coragem, levou seus dedos trêmulos até o peito desnudo de Louis, pressionando o indicador contra a pele e se surpreendendo ao sentir a rigidez. Ele quis morrer ao notar o sumiço da pequena protuberância nos quadris do menor que ele tanto amava apertar.

— O que...

Ele mesmo se interrompe ao notar que não sabe o que falar ou o que pensar a respeito. Louis, cujo acordou sentindo uma dor dilacerante três horas antes e já teve tempo o suficiente para surtar com suas penas espalhadas pelo quarto e assimilar o renascimento delas na coloração preta e estrutura mais pesada e resistente, entendeu onde Harry gostaria de chegar se conseguisse verbalizar seu interior, então ajoelhou-se de costas para o maior, para que assim ele pudesse tocar suas asas e admirar a textura macia– que o seu inconsciente só assumiria quando não estivesse se sentindo ameaçado, como naquele momento.